Síria: Embaixador Santa Sé afirma que «muitas pessoas» perderam a esperança

«A paz não chegará à Síria sem reconstrução e sem o início da economia» – Cardeal Mario Zenari

Cidade do Vaticano, 16 mar 2021 (Ecclesia) – O núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) na Síria disse que o país em guerra há 10 anos “perdeu a paz, pessoas, jovens” e alertou para as carências de uma terra, que espera ser “reabilitada social e economicamente”.

“A Síria, nestes longos anos de guerra, perdeu a paz, perdeu pessoas, perdeu jovens, perdeu cristãos. Muitas pessoas perderam e estão perdendo a esperança”, disse o cardeal Mario Zenari ao portal ‘Vatican News’.

O conflito sírio começou há 10 anos, a 15 de março de 2011, e o núncio apostólico explicou que “várias categorias de pessoas estão desaparecidas”, contabilizando que “os mortos do conflito somam cerca de meio milhão”.

Há 5,5 milhões de refugiados e “6 milhões vivem como nómadas” na Síria, para além de “cerca de um milhão de migrantes desaparecidos”.

O cardeal Mario Zenari indicou que “cerca de dois milhões de crianças” não frequentam a escola e algumas são exploradas sexualmente; outras são recrutadas, enquanto as meninas “são expostas a matrimónios precoces”.

“Não há escolas, nem hospitais, nem pessoal médico e de enfermagem, e há a emergência da Covid-19. Faltam fábricas e atividades produtivas, cidades e bairros foram destruídos e despovoados e o famoso património arqueológico, que atraia visitantes de todo o mundo, foi desperdiçado”, desenvolveu.

Sobre os efeitos da guerra na Síria, o responsável católico exemplifica também que o tecido social, “o mosaico da convivência exemplar” entre grupos étnicos e religiosos, “foi seriamente danificado”, bem como a natureza “sofre” com a poluição do ar, da água e do solo.

“Um enorme desafio das várias religiões na Síria, em particular a cristã e muçulmana, é a reconciliação e a costura do tecido social, danificado por estes longos anos de guerra. A Igreja está ativa no terreno com uma vasta rede de projetos humanitários aberta a todos, sem diferenças étnico-religiosas”, observou.

O núncio apostólico na Síria refere que hoje vê “longas filas de pessoas” nas padarias nas ruas da capital Damasco, “esperando pacientemente” para comprar pão a preços subsidiados pelo Estado, “muitas vezes o único alimento que se pode comprar”.

“Cenas nunca vistas antes, nem mesmo durante os anos mais difíceis da guerra”, alerta.

D. Mario Zenari refere também que “há longas filas de carros em frente aos postos de gasolina”, e é “difícil” encontrar combustível para o aquecimento doméstico, e adianta que as pessoas chamam esta fase do conflito “guerra económica”.

O representante diplomático do Papa na Síria lembra que “cerca de 90%” da população síria vive “abaixo da linha de pobreza”, segundo os últimos números das Nações Unidas.

“A Síria está esperando para ser reabilitada social e economicamente, e para ter sua dignidade reconhecida”, explicou, lamentando que tenham a impressão que o processo de paz, organizado pela Resolução 2254 (2015) do Conselho de Segurança da ONU, “está paralisado”.

Na entrevista ao ‘Vatican News’, o cardeal Mario Zenari lembra também que nos últimos anos, a Igreja Católica promoveu iniciativas para parar “a violência e encaminhar o processo de paz”, nomeadamente os Papas, primeiro Bento XVI, e agora Francisco.

CB/OC

 

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