Síria: Cáritas recorda «mais de 500 mil mortos e 11 milhões de deslocados» em oito anos de guerra

Organismo católico está empenhado na recuperação de uma nação onde o futuro permanece uma incógnita

Cidade do Vaticano, 19 fev 2019 (Ecclesia) – A ‘Caritas Internationalis’ traçou um quadro atualizado sobre a guerra na Síria, no âmbito dos 8 anos de conflito que vão ser cumpridos em março, em que recorda os “mais de 500 mil mortos e 11 milhões de deslocados”.

Na sua página online, o organismo internacional católico, dependente da Santa Sé, fala num “aniversário grotesco” e de uma “nação de joelhos”, devido a um conflito que parece estar a entrar na sua última fase, com a “retoma de controlo do Governo, de grande parte do país”, mas cujo desfecho permanece ainda uma incógnita.

“Para a maior parte das famílias sírias, o pesadelo dos constantes bombardeamentos e tiroteios acabou”, no entanto, os sobreviventes enfrentam agora “uma paz incerta”, refere a Cáritas, que destaca também os mais de dois milhões de sírios que precisam de ajuda humanitária, só por entre os escombros da cidade de Alepo.

Aquele que era outrora um dos pontos mais importantes da Rota da Seda, hoje é uma “cidade esventrada, desprovida de cor, reduzida quilómetro após quilómetro a um monte de destroços de cimento armado”.

Entre aqueles que conseguiram escapar ao inferno da guerra encontramos casos como o de Amal, uma menina de Alepo que perdeu para o conflito muito mais do que a sua inocência de criança.

Em 2013, ainda bebé, um morteiro que caiu por perto do local onde se encontrava ceifou-lhe uma perna.

Como diz a sua mãe, “só agora com 7 anos é que Amal começa a perceber o que lhe aconteceu”.

“Ela pergunta-me porque é que ela é a única com apenas uma perna entre os seus amigos”, conta a progenitora.

A Cáritas evoca também a história de Mustafa, atingido numa perna por um atirador furtivo, durante os confrontos em Alepo, e que sofre também de problemas de coração.

Aos 60 anos, este homem já só pensa “como é que irá conseguir continuar a cuidar da sua mulher e das suas filhas”, tendo também “quatro filhos a cumprir serviço no Exército”.

“Eu quero ajudar as minhas filhas, mas não consigo trabalhar por causa da minha saúde. Como é que eu posso ganhar dinheiro?”, pergunta Mustafa, que “se desfaz em lágrimas”.

Este é um dos muitos casos que a Cáritas tem procurado apoiar no terreno, com o fornecimento de alimentos e de outras ajudas.

Yorgo Saccal, que escapou à morte duas vezes durante os combates, deixou para trás o ofício de marceneiro e dedica-se hoje à missão de ajudar a distribuir comida aos mais pobres, na Paróquia de São Francisco.

Ele presta apoio, como voluntário, a um projeto do religioso franciscano Ibrahim Ansabach, em parceria com a Cáritas.

“Tenho orgulho no que estamos aqui a fazer. Na guerra eu estava tão perdido… Depois comecei aqui como voluntário e a minha vida mudou a 100 por cento. Quando ajudamos alguém, encontramos a alegria”, partilha este sírio.

Só ao longo dos últimos quatro anos, a rede mundial Cáritas aplicou cerca de 167 milhões de dólares em donativos na Síria, a par da ajuda prestada aos refugiados sírios em países como o Líbano e a Jordânia.

Entre os projetos mais prementes estão os trabalhos de reconstrução de habitações e infraestruturas, o apoio em áreas como a alimentação e a saúde, e a busca de soluções para mais de 2 milhões de crianças atualmente fora da escola, sem acesso à educação.

Na mesma página, a Cáritas informa como é que cada pessoa pode fazer chegar o seu donativo à Síria, através do fundo de emergência que continua em aberto.

O conflito na Síria começou no dia 15 de março de 2011, com as primeiras grandes manifestações populares contra o regime de Bashar al-Assad.

JCP

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