Sínodo em balanço

Primeira parte da assembleia debateu distanciamento entre os fiéis e a Bíblia D. António Bessa Taipa, um dos delegados portugueses ao actual Sínodo dos Bispos, considera que os primeiros dias de trabalho têm sido marcados por um clima de serenidade e sintonia nas intervenções dos participantes, centrados numa série de preocupações relacionadas com a Bíblia e a necessidade de “a aproximar do nosso povo”. “Aquilo que vai preocupando mais é o fazermos todos da Palavra de Deus a inspiração da nossa vida, para que, de facto, inspire toda essa teia de relações com os outros, o próprio Deus, o cosmos”, apontou. Para o Bispo Auxiliar do Porto, é essencial “aproximar a Bíblia de nós próprios, fazer que a nossa vida seja toda inspirada na Palavra de Deus”. Em declarações à Agência ECCLESIA, o prelado destaca que “as problemáticas que vivemos no nosso país são as que se vivem um pouco por todo o lado”. “De uma forma geral, a Palavra de Deus aparece ao lado da vida, como uma referência mais ou menos interessante para esta ou aquela atitude”, destaca. D. António Bessa Taipa confessa-se impressionado com os testemunhos que chegam à assembleia sinodal das “igrejas que por esse mundo fora não têm dinheiro para editar a Sagrada Escritura”. “Muitos não têm Bíblias porque não têm dinheiro para elas e usam outros meios”, acrescenta. Alertas Entre as mais de duas centenas de intervenções já proferidas, várias deixaram alertas em relação à qualidade das homilias proferidas pelos sacerdotes nas celebrações. D. António Bessa Taipa admite que “a homilia é um dos momentos principais para o anúncio e a divulgação da Palavra”. “Uma homilia de 7, 8 ou 10 minutos em que se diga alguma coisa é algo muito exigente, pede uma preparação muito forte”, assinala. O Bispo Auxiliar do Porto assinala que os reparos lançados pelo Sínodo partem também da própria experiência dos participantes. “Nós também sabemos como é difícil e por vezes alargamos as homilias, porque dizer alguma coisa em pouco tempo não é fácil”, admite. Outra questão em destaque tem sido a “interacção entre teólogos, exegetas e pastores” quanto à leitura da Bíblia. Para o delegado português, este é um problema que “se irá colocar sempre”, seja do lado académico e científico, seja desde a perspectiva de uma leitura mais espiritual. “Nós não podemos prescindir de uma exegese séria, do facto de o Verbo de Deus ter habitado num determinado tempo e espaço, de procurar entender o que as coisas quiseram dizer no seu tempo”, assinala, de modo a evitar “subjectivismos perigosos”. Por outro lado, este responsável considera que é necessária uma leitura orante, a lectio divina, “sob o risco de ficarmos de ficarmos com a exegese como um estudo arqueológico que não tem interesse”. O Sínodo entra esta Quinta-feira numa nova fase com a apresentação da chamada Relatio post disceptationem, o relatório dos primeiros dias de trabalho desta XII assembleia geral, que condensa as principais questões levantadas até agora. Este momento marca o início da “segunda parte” do Sínodo, por assim dizer. Assim, começam os trabalhos de preparação das propositiones (propostas), uma espécie de documento conclusivo que os participantes no Sínodo confiam, posteriormente, ao Papa. As várias propostas são compiladas pelos relatores dos pequenos grupos, o relator geral (Cardeal Marc Ouellete, do Quebeque) e o secretário especial do Sínodo (Arcebispo Laurent Monsengwo Pasinya, de Kinshasa).

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