Sínodo/Divorciados: Relatórios mostram diferenças, sem pedidos de mudança imediata

Cardeal alemão rejeitou ideia de que a assembleia sobre a família seja «uma batalha»

Cidade do Vaticano, 21 out 2015 (Ecclesia) – O acesso à Comunhão dos divorciados que voltaram a casar civilmente é um dos temas que divide os últimos 13 relatórios dos grupos de trabalho do Sínodo dos Bispos sobre a família, que decorre no Vaticano.

Os textos em cinco línguas, divulgados hoje pela sala de imprensa da Santa Sé, têm várias referências favoráveis à manutenção da “atual disciplina” e convidam os católicos em segunda união a “abster-se” da Comunhão.

O tema, no entanto, não gerou unanimidade, falando-se mesmo em “perigo de confusão”, e alguns participantes sugerem ao Papa que crie uma “comissão” – um gesto que poderia estar associado ao Jubileu da Misericórdia – para estudar “com maior precisão teológica” uma questão para a qual, alertam outros, não se procuram soluções “universais”.

Sem qualquer pedido de mudança imediata, um dos grupos contesta as “formas de exclusão litúrgica, educativa e pastoral” que ainda existem em relação aos divorciados e em várias passagens é referida a necessidade de promover percursos de “discernimento”, no “foro íntimo”, sobre cada situação.

Um dos relatórios fala do “pouco entusiasmo” com que foi recebida a proposta da “via penitencial” para os recasados e afirma-se que, em defesa da indissolubilidade do casamento, a referência neste campo continuam a ser as formas de participação enunciadas pelo Papa São João Paulo II na exortação ‘Familiaris Consortio’ (n.º 84), que excluía o acesso à Comunhão.

O primeiro dos dois grupos com membros de língua castelhana e portuguesa, por sua vez, defende que é preciso ouvir “o grito de tantas pessoas que sofrem e gritam, pedindo para participar o mais plenamente possível na vida da Igreja”.

Mais de 500 propostas foram entregues à comissão responsável pela elaboração do relatório final, anunciou o porta-voz do Vaticano, em conferência de imprensa.

O encontro com os jornalistas contou com a presença do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique (Alemanha), que valorizou o trabalho realizado no grupo germânico, com a presença de responsáveis como os cardeais Muller, Kasper, Koch ou Schonborn.

O responsável admitiu o desconforto do grupo perante as críticas de quem falava num confronto entre ‘kasperianos’ e ‘ratzingerianos’.

“No Sínodo, não estamos numa batalha”, sustentou.

Para o arcebispo de Munique, a maior parte das pessoas concorda com que é proposto pela doutrina da Igreja sobre a família e o casamento e não compete aos bispos “dizer que este sonho não é possível”.

“O vosso sonho está correto, mas quando falham, ficamos convosco, estamos juntos”, acrescentou.

Nesse sentido, defendeu que acompanhar quem falha e dizer-lhe que “pertence” à Igreja não é “destruir a indissolubilidade” nem o “desejo de casar”, mas “o contrário”.

O cardeal Sturla Berhouet, arcebispo de Montevideu (Uruguai), disse por sua vez que há necessidade de “acompanhar” as situações que não são as desejáveis, “muitas vezes carregadas de dor”.

Já o arcebispo de Armagh (Irlanda), D. Eamon Martin, disse que o Sínodo tem sido uma experiência de “abrir um espaço, às vezes pouco confortável” para aprofundar o “entendimento do ensinamento da Igreja” sobre a família.

Os relatórios dos grupos de trabalho abordaram questões como a nulidade matrimonial, a educação sexual e a ideologia do género, a castidade, a paternidade responsável, a crise dos refugiados e a perseguição religiosa.

Os vários textos concordam na necessidade de aprofundar a preparação para o casamento e o “acompanhamento da vida conjugal”, a começar pela catequese e a pastoral juvenil, continuando nos primeiros anos de Matrimónio.

A questão da homossexualidade acabou por merecer pouca atenção, com sugestões de que fosse realçado o ensinamento da Igreja de que “as uniões do mesmo sexo não são de forma alguma equivalentes ao casamento”.

OC

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