Sínodo 2021-2024: Ouvir os párocos «é descer à terra, é a Igreja concretizar-se num lugar», diz padre Adelino Guarda

Sacerdote da Diocese de Leiria-Fátima participou no Encontro Internacional de Párocos, promovido pelo Vaticano

Foto: Synod.va

Roma, 03 mai 2024 (Ecclesia) – O padre Adelino Guarda, da Diocese de Leiria-Fátima, viveu “uma experiência extraordinária” no encontro internacional de párocos, que decorreu em Roma, entre segunda e quinta-feira, por iniciativa do Vaticano, incluindo um encontro com o Papa.

“Poder ser ouvido é mais importante do que tudo aquilo que nós dissemos, e acho que faz todo sentido, se há um Sínodo sobre o que é um sínodo, que sejam ouvidos os párocos. Eu não diria representativos, porque não me sinto representar ninguém, mas que sejam ouvidos párocos do mundo inteiro faz todo sentido”, disse hoje o pároco de Aljubarrota, em declarações à Agência ECCLESIA.

O encontro internacional ‘Párocos para o Sínodo’ reuniu 200 sacerdote de todo o mundo, de mais de 100 países, nos arredores de Roma, para dialogar sobre o tema ‘Como ser uma Igreja local sinodal em missão’, no âmbito do Sínodo 2021-2024, fruto da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (outubro de 2023).

“Alguém na assembleia passada ter-se lembrado ‘nós precisamos ouvir os párocos’, isto é descer à terra, é a Igreja concretizar-se num lugar, isto é novo, é muito importante. E volto a dizer, ainda é mais importante do que tudo o que nós podemos dizer”, assinalou o padre Adelino Guarda, nomeado ao encontro pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

Os resultados da reunião vão contribuir para a elaboração do documento de trabalho (Instrumentum laboris) para a segunda sessão da Assembleia Sinodal (outubro 2024); o Vaticano apontou como objetivos do encontro “escutar e valorizar a experiência sinodal” que os sacerdotes vivem “nas suas respetivas paróquias e dioceses”.

O pároco de Aljubarrota, na Diocese de Leiria-Fátima, acrescentou que “é fundamental” tomar consciência que as comunidades de fiéis, que se realizam num lugar, e os párocos, “são realidades vitais na Igreja e que precisam de ser ouvidas, que precisam de ter vez, que precisam de ter voz”, e realça que “dizer ‘preciso ouvir’, já é um contributo para a assembleia”.

Esta iniciativa do Vaticano, que reuniu párocos de todo o mundo, decorreu à porta fechada, na ‘Fraterna Domus’, em Sacrofano, o sacerdote português partilha “foi uma experiência extraordinária uma experiência eclesial, e se é eclesial é sinodal”:

“Uma experiência de partilha, experiência de encontro, experiência de fé, experiência de escuta, experiência viva de celebração. Há coisas que são difíceis de traduzir”, acrescentou, salientando, também, que, para si, foi nova a experiência como viu a presença de “algumas pessoas – habitualmente, grandes figuras da Igreja, os grandes dignitários da Igreja – de forma simples”.

O padre Adelino Guarda, que dá “muitas graças a Deus pela experiência de partilha e de comunhão”, salienta que em Portugal existem problemas, “tantos”, a sua paróquia tem os problemas, “nunca mais acabam”, mas recorda que no seu grupo de trabalho existiam padres do leste da Europa, do Médio Oriente e África.

“Um padre que vem de Alepo, na Síria, ouço-o falar, o que é que são os meus problemas? Nada. Um padre vem da Bielorrússia, mas eu alguma vez tenho problemas! Um padre de Moçambique, onde é que estão os meus problemas aqui. Não é um problema, um desafio tremendo a vivência de um cristianismo aburguesado, autorreferencial, talvez”, destacou.

O encontro internacional ‘Párocos para o Sínodo’ terminou com uma audiência concedida pelo Papa, no Vaticano, Francisco escreveu também uma carta para os párocos de todo o mundo, divulgada pelo Vaticano, esta quinta-feira, onde convidou os participantes do encontro “a serem missionários de sinodalidade”.

“Como sempre, é uma carga de trabalho para nós, é uma carga de trabalho. Isto já existia, há aqui coisas novas mas não é nova, no sentido, o Papa inventou agora uma moda; o Papa, na carta, diz, convido, mas a nós, pessoalmente, diz, mando-vos, envio-vos como missionário de sinodalidade. Ele não brinca em serviço”, contou o pároco da Diocese de Leiria-Fátima, salientando que se vê em Francisco “um homem que, com as debilidades todas, não desiste”.

A Conferência Episcopal Portuguesa nomeou também o padre Sérgio Leal, da Diocese do Porto, como participante neste encontro internacional; o padre António Bacelar, da Diocese do Porto, foi como convidado da Secretaria-Geral do Sínodo.

CB/OC

Foto: Synod.va

O subsecretário do Sínodo dos Bispos, D. Luis Marín de San Martín, sublinhou que “o processo sinodal começa de baixo para cima” e que “a paróquia é, sem dúvida, um laboratório de sinodalidade”.

O padre Adelino Guarda realça que “a Igreja não é uma entidade abstrata”.

“A Igreja num determinado lugar é sinodal, é comunidade de fiéis e pároco como realidades constitutivas, com competências diárias; comunidade de fiéis e pároco ou são a vida e a dinamização da Igreja, e a realização e a concretização da Igreja, e isto é sinodalidade, ou então não passamos de uma ONG”, explicou o sacerdote português.

O pároco de Aljubarrota observa que, “muitas vezes”, os próprios cristãos mais comprometidos olham para o “seu ser Igreja como uma realidade a consumir”, mas também os padres, “às vezes”, prestam-se a isso porque se limitam “a prestadores de serviços religiosos num território”, mas “o problema é muito maior do que esse”.

“Ou nós conseguimos ser espaço de sentido, conseguimos ser para as pessoas mais do que instituições ou não somos Igrejas de Jesus Cristo. O nosso tempo mudou muito, as referências das pessoas mudaram muito, até por causa da mobilidade, que não é apenas de espaço, o sentido de pertença. E cada vez mais as pessoas circulam por todos os espaços, por todos os âmbitos, mas nós precisamos de referências”, acrescentou.

Segundo o padre Adelino Guarda, se a paróquia não é uma referência significativa, “se não consegue ser um espaço significativo para todos”, também para o padre que não está fora, nem está acima, está dentro, “não há sinodalidade, mas também não há Igreja”.

Enquanto párocos não podemos esquecer que procuramos tornar a Igreja real, visível e concreta num determinado território e fazermos isso sendo o que somos, ministros da Palavra e dos sacramentos junto a uma comunidade de fiéis. E esta comunidade de fiéis, que vive e que celebra a fé, tem o dever e a obrigação de a transmitir, tem o dever e a obrigação de testemunhar, tem o dever e a obrigação de acolher e de se preocupar com os outros”.

O sacerdote português, nomeado como pároco de São Vicente e de Nossa Senhora dos Prazeres, em Aljubarrota, a 24 de julho de 2017, destaca que esta comunidade deu-lhe “tanta coisa” e, nestes anos, mudaram a sua “maneira de ser, como pessoa, como indivíduo” – “Mudaram-me, poliram-me, tornaram-me mais humano, e como padre, eu acho eu não sou grande coisa, mas tornaram melhor padre” – e estiveram atentos “às dificuldades grandes “ que passou na pandemia.

 

 

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Agência ECCLESIA

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