Sínodo 2021-2024: Documento de trabalho defende reflexão sobre exercício da autoridade e do ministério episcopal

«Instumentum Laboris» antecipa questões centrais da próxima Assembleia Sinodal, em mais de 250 perguntas aos participantes

Foto: Synod.va

Cidade do Vaticano, 20 jun 2023 (Ecclesia) – O documento do trabalho para a próxima Assembleia Sinodal, que vai decorrer em outubro, no Vaticano, apela a uma reflexão sobre a questão da autoridade, na Igreja Católica, que aborde “o seu significado e o estilo de seu exercício.

“A autoridade é um serviço à singularidade de cada pessoa, apoiando a criatividade em vez de ser uma forma de controlo que a bloqueia, e um serviço à criação da liberdade pessoal e não uma amarra que a restringe”, indica o texto, divulgado hoje em conferência de imprensa, pela Santa Sé.

O ‘Instrumentum Laboris’ (IL), documento de trabalho para a primeira sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, opta por dirigir mais de 250 perguntas aos participantes, “na esperança de promover um melhor entendimento entre os membros da Assembleia Sinodal que vêm de diferentes regiões ou tradições”.

“A Assembleia Sinodal não pode ser entendida como representativa e legislativa, em analogia com um organismo parlamentar, com a sua dinâmica de formação de maioria. Em vez disso, somos chamados a entendê-la por analogia com a assembleia litúrgica”, aponta o texto.

Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, lançada pelo Papa em 2021, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

O texto orientador propõe uma reflexão sobre o ministério episcopal, para “o inserir mais solidamente num quadro sinodal”.

“Há uma exigência de estruturas de governo adequadas, inspiradas por uma maior transparência e responsabilidade, o que também afeta o modo como o ministério do bispo é exercido”, pode ler-se.

O debate estende-se sobre a missão do Papa, questionando como “deve evoluir o papel do bispo de Roma e o exercício do primado numa Igreja sinodal”.

Como é que o exercício do ministério episcopal solicita a consulta, a colaboração e a participação nos processos de decisão do Povo de Deus?

Com que critérios pode um bispo avaliar-se e ser avaliado no desempenho do seu serviço num estilo sinodal?

Em que casos pode um bispo sentir-se obrigado a tomar uma decisão diferente dos conselhos ponderados oferecidos pelos órgãos consultivos? Qual seria o fundamento dessa obrigação?

Como rever o perfil do bispo e o processo de discernimento para identificar os candidatos ao episcopado numa perspetiva sinodal?

O IL defende a necessidade de “formação integral, inicial e permanente” em toda a Igreja, com particular referência à “renovação do atual currículo dos seminários e a formação de formadores e professores de teologia”.

Foto: Synod.va

A segunda secção do documento, intitulada ‘Comunhão, missão, participação’, articula, na forma de três perguntas, as prioridades que emergem do trabalho de todos os continentes, apresentando-as ao discernimento da Assembleia Sinodal: “Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento da união com Deus e da unidade do género humano? Corresponsáveis na missão. Como partilhar dons e tarefas ao serviço do Evangelho? Participação, responsabilidade e autoridade. Que processos, estruturas e instituições numa Igreja sinodal missionária?”.

Após os 60 pontos do IL, são propostas cinco “fichas de trabalho” para cada uma das três prioridades, a fim de auxiliar o processo de trabalho da Assembleia Sinodal, especialmente os trabalhos em grupo (Circuli Minores).

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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Fichas de trabalho para a Assembleia Sinodal

Uma comunhão que irradia

1.1 Como é que o serviço da caridade e o empenho na justiça e no cuidado da casa comum alimentam a comunhão numa Igreja sinodal?

1.2 Como pode uma Igreja sinodal tornar credível a promessa de que «o amor e a verdade se encontrarão» (Sl 85,11)?

1.3 Como pode crescer uma relação dinâmica de troca de dons entre Igrejas?

1.4 Como pode uma Igreja sinodal cumprir melhor a sua missão através de um compromisso ecuménico renovado?

1.5 Como reconhecer e colher a riqueza das culturas e desenvolver o diálogo com as religiões à luz do Evangelho?

Corresponsáveis na missão

2.1 Como podemos caminhar juntos para uma consciência comum do sentido e do conteúdo da missão?

2.2 O que fazer para que uma Igreja sinodal seja também uma Igreja missionária “toda ministerial”?

2.3 Como pode a Igreja do nosso tempo cumprir melhor a sua missão através de um maior reconhecimento e promoção da dignidade batismal das mulheres?

2.4 Como valorizar o Ministério ordenado, na sua relação com os Ministérios batismais, numa perspetiva missionária?

2.5 Como renovar e promover o Ministério do Bispo numa perspetiva sinodal missionária?

Participação, responsabilidade e autoridade

3.1 Como renovar o serviço da autoridade e o exercício da responsabilidade numa Igreja sinodal missionária?

3.2 Como podemos desenvolver práticas de discernimento e processos de tomada de decisão de uma forma autenticamente sinodal, reforçando o papel de liderança do Espírito?

3.3. Que estruturas podem ser desenvolvidas para consolidar uma Igreja sinodal missionária?

3.4 Como configurar instâncias de sinodalidade e colegialidade envolvendo agrupamentos de igrejas locais?

3.5 Como se pode reforçar a instituição do Sínodo para que seja uma expressão da colegialidade episcopal numa Igreja totalmente sinodal?

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