Setúbal: Respeitar as normas e receber todas as crianças – a equação difícil na hora de abrir portas

Centro Social Nossa Senhora da Paz, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, manteve-se como «família» para todos os idosos que tiveram que ficar em suas casas

Setúbal, 15 mai 2020 (Ecclesia) – A diretora do Centro Social Nossa Senhora da Paz, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, receia não poder acolher todas as crianças na valência da creche para respeitar as normas de segurança da Direção Geral de Saúde.

“Se todos os pais decidirem enviar os seus filhos não temos capacidade para acolher todos respeitando as normas de segurança no distanciamento social”, lamenta Carla Carvalho em declarações à Agência ECCLESIA, com os olhos posto no dia 1 de junho, quando o Jardim-de-infância e a valência de pré-escolar iniciarem as suas atividades.

O Centro Social Nossa Senhora da Paz, numa dependência da Caritas diocesana de Setúbal, serve a população do Bairro da Bela Vista e, depois de ter encerrado os seus serviços abertos, prepara a reabertura, segundo indicações do Governo e da Direção Geral de Saúde, no dia 18 da valência da creche.

Os profissionais realizaram testes para despiste do Covid-19 e os pais receberam uma “circular com normas e procedimentos para o regresso das crianças”, indica a responsável, que dá conta da preocupação, centrada no dia 1 de junho, quando todas as crianças voltarem.

“Estamos a equacionar refeições e a hora da sesta por turnos… não temos capacidade para receber todos e respeitar as normas”, lamenta, dando conta que aguardam informações da DGS para o efeito.

Carla Carvalho explica que, se for necessário, terão de dar “prioridade” a crianças cujos pais estão ambos a trabalhar e a situações sinalizadas pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.

As medidas do governo para encerramento das atividades e a declaração do estado de emergência, a 19 de março, as valências do Centro Social Nossa Senhora da Paz foram encerradas: os serviços dedicados à infância, o centro de dia no apoio aos idosos, tendo posteriormente reforçado o serviço de apoio domiciliário.

Foi também preciso reforçar as medidas de segurança para continuar a fazer atendimento social, uma vez que os pedidos de ajuda foram “crescendo”.

“As pessoas viram-se sem trabalho, muitas senhoras na restauração, na cozinha, com contratos precários… Famílias que trabalhavam em pequenas fabricas que encerraram e ficaram em lay-off, os rendimentos diminuiriam, e as pessoas procuram a nossa ajuda”, explica Carla Carvalho.

A primeira necessidade foi assegurar a alimentação: a instituição recorreu ao fundo social da diocese e também a donativos da Segurança Social, mas “foi necessário encaminhar para outras instituições”, dá conta; hoje, “com tudo mais organizado”, o Centro consegue também ajudar na aquisição de medicamentos para quem necessita.

Com o encerramento do Centro de dia, os utentes idosos tiveram de ser “enviados para as suas casas”, o que levou à necessidade de reforçar as equipas de apoio domiciliário.

A população reagiu bem, acatou as orientações para permanecer em casa, os contactos fora feitos maioritariamente por telefone. Não os podíamos deixar desamparados: foi necessário formar equipas em espelho e os colegas do centro de dia passaram para o apoio domiciliário, ajudando no alimentar, dar banho, mudar a cama…”.

Carla Carvalho dá conta ainda de dois utentes que não tinham condições em casa e diariamente se deslocavam ao centro para a sua higiene pessoal, mas “tudo passou a acontecer em casa dos idosos”, com o acompanhamento da equipa do Centro.

De um acompanhamento psicológico inicial feito por telefone, caminhou-se, entretanto, para visitas aos domicílios,  “procurando perceber como estão, saber se precisam de apoio e para não se sentirem sozinhos. Continuamos cá, mais distantes, mas estamos cá”.

Isso mesmo dá conta Inês Pedro, técnica superior de serviço social, que ao telefone conforta uma utente, agendando uma visita com advertência: “ficaremos do lado de fora, mas vamos visitá-la”.

“Logo após uma semana de encerrarmos eles ligavam a perguntar quando abríamos… Somos a sua família”, afirma.

O trabalho social na Diocese de Setúbal, em resposta à pandemia de Covid-19 é um dos destaques na próxima emissão do programa ’70×7′, este domingo, pelas 18h05, na RTP2.

HM/LS

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