Ser Santuário

Em artigo de opinião, actual reitor do Cristo Rei diz que é necessário superar ideia de que o monumento é apenas «uma memória histórica» A 17 de Maio de 1959 inaugurou-se o Monumento a Cristo Rei. Foi o termo de um projecto que durou 21 anos, mobilizando os católicos de aquém e além mar. Devido à grandeza das Celebrações, a imprensa da época afirmava que era uma das maiores festas portuguesas à glorificação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portugal cumpria assim o voto que fizera na pessoa dos seus pastores, em Junho de 1940. Agradecer o dom da paz e demonstrar ao mundo a fé da nação portuguesa foram os objectivos principais da obra. Abria-se assim uma nova etapa, ser Santuário Nacional do Sagrado Coração de Jesus, centro de peregrinações, lugar de oração, onde todos através da linda imagem contemplassem o rosto do amor de Deus. Ser Santuário reparador foi o grande desafio colocado. Devido a vários factores de ordem eclesial e social, novas sensibilidades surgiram e a imagem de Cristo Rei, aos poucos passou a ser vista como uma memória histórica pertencente ao passado, vista por muitos como um excelente miradouro sobre a cidade de Lisboa. Este facto traía assim a memória de quem se esforçou para dar corpo ao projecto, bem como os princípios espirituais nos quais este assentava. Apesar disto, a imagem imponente e silenciosa nunca deixou de tocar no coração de muitos cristãos portugueses. Na década de oitenta, deu-se um novo impulso, sendo aprovado o Plano Geral de Ordenamento do Santuário de Cristo Rei, nascendo deste projecto o Edifício de Acolhimento. Passados 50 anos, a Igreja e o país estão diferentes, mudaram-se as sensibilidades e as mentalidades. Então como transmitir a mensagem deste Santuário a uma sociedade cada vez mais laica? Será pela via do Coração, isto é, é pelo lado humano de Deus que podemos transmitir a grandeza da Sua obra, que é sobretudo divina. Cristo continua a abraçar o nosso país, a tê-lo no Seu Coração, numa atitude de acolhimento infinito, de perdão incondicional. A imagem de Cristo Rei, para além de recordar este lado humano e divino de Deus, chama todos os homens a um compromisso de paz e de amor. Tal como Deus usou de misericórdia para connosco, assim devemos nós fazer para com os demais. Construir o Santuário espiritual é a tarefa que temos pela frente, com as celebrações dos 50 anos queremos relançar os grandes princípios que estiveram na sua origem, adaptados ao mundo actual. Nos últimos anos temos dado alguns passos neste sentido, pequenos, mas suficientes para afirmarmos aos nossos visitantes que Cristo Rei não é um miradouro mas um Santuário, que para além de ser uma resposta da fidelidade de Portugal ao Céu, é sinal de que Deus a todos quer chegar com o Seu abraço e a todos quer amar com o Seu Coração. O trabalho a realizar é longo, as dificuldades estão à vista, mas desistir deste grande objectivo nunca. É comovente ver os milhares de pessoas que nos visitam e que não saem deste local sem deixar a sua prece na caixa das intenções, um gesto simples, às vezes até pouco esclarecido, mas demonstra bem que Cristo Rei é lugar de devoção. 2009, o ano em que a todos queremos chegar, não só aos católicos, embora estes tenham um lugar muito especial no Santuário. Queremos chegar às nossas crianças, jovens, idosos, a todas as famílias, para que todos num mundo marcado pela crise sintam o abraço terno de Deus, o único que nos dará aquela paz necessária ao nosso equilíbrio interior, para podermos ultrapassar as dificuldades da vida. Estão previstas várias iniciativas, que serão um contributo para o reavivar da nossa fé, do nosso compromisso de fidelidade a Jesus Cristo, que nos amou primeiro e continua a amar mesmo naqueles que são indiferentes à Sua predilecção. Façamos festa, celebremos festa, transmitamos festa, de modo a dignificarmos a memória de todos aqueles que se empenharam na construção deste Santuário. Com a celebração do Cinquentenário voltemos o nosso olhar para o olhar de Cristo, coloquemos o nosso coração no Seu coração, deixemo-nos abraçar por Ele. Não tenhamos medo que o Senhor reine na nossa vida. Mais que as celebrações exteriores, preparemo-nos interiormente de modo a nascer em nós a vontade de virmos até Cristo Rei. Façamos Peregrinação. Que todos sintam Cristo Rei como o seu Santuário, local de encontro, recolhimento e partilha. Pe. Sezinando Luis Felicidade Alberto, Reitor do Santuário de Cristo Rei

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