Ser pessoa pelo desígnio nacional

D. Manuel Clemente recebe Prémio Pessoa 2009 desafiando à “confiança colectiva” e rejeitando quantos se revêem apenas como “imperadores do mundo ou mendigos da Europa”

O contributo de D. Manuel Clemente para a construção do Portugal contemporâneo e futuro foi reconhecido com a atribuição do Prémio Pessoa 2009. E o premiado fez questão de sugerir, durante a sessão de entrega do galardão, como pode, cada português, ser factor de esperança para um Portugal melhor, de todos e para todos.

O Bispo do Porto denunciou tendências que percorrem a História de Portugal e marcam também os tempos actuais: “resumirmo-nos exageradamente a grandes figuras e imensas generalidades”.

Num elogio à “confiança colectiva”, D. Manuel Clemente apelou ao melhor de cada um, à “conjugação dos corpos intermédios”, nas autarquias, nas organizações civis e públicas, nas associações, nas comunidades religiosas, nas empresas. “Sem fantasmas nem frustrações”, o que há de melhor em cada um é o “melhor antídoto contra a desesperança”.

“O melhor de Portugal, disse, não abre os noticiários, mas existe. Nas escolas, nas instituições de saúde, nas IPSS, onde há abnegações quotidianas e vontades que não esmorecem perante as dificuldades.”

Com discurso positivo, a catalisar o que cada um é capaz de fazer “e não desiste de fazer”, D. Manuel Clemente desafiou todos a construir o bem comum, a história do futuro, “sem imperialismos serôdios” nem atitudes de desistência.

“Não somos eternos devedores de grandes figuras”, referiu o Bispo do Porto, condenando recorrentes sentenças dos que se revêem apenas enquanto “imperadores do mundo ou mendigos da Europa”.

Em declarações aos jornalistas, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais afirmou que o Prémio Pessoa “é sobretudo uma responsabilização” porque “quando reparam em nós positivamente é porque estão à espera que continuemos e que melhoremos”.

Sobre o facto de no seu discurso ter dito que as coisas boas não são suficientemente mostradas ao país, o Bispo do Porto frisou que é preciso “denunciar o que está mal”, mas que se deve “conjugar duas palavras que são parecidas no som, a denúncia com o anúncio”.

Um evangelizador dos tempos difíceis
Francisco Pinto Balsemão, presidente do júri do Prémio Pessoa, reconheceu o “significado especial” do prémio 2009. “Porque é atribuído a alguém que é uma referência moral, num momento em que no nosso país necessita, talvez mais do que nunca nos últimos tempos, de ter quem seja ponto de referência nos aspectos éticos”

Diante da desesperança crescente, dos descontentamentos próprios e alheios, precisamos de quem aponte rumos, de “pessoas com comportamento, na sociedade e na Igreja, que sejam exemplos, pólos de orientação para todo nós”, referiu Pinto Balsemão.

O Presidente do Júri reconheceu no Bispo do Porto “um guia” e um homem que é admirado também por quem não é crente.

D. Manuel Clemente é “uma pessoa que lê, que pensa, que para nós será, com certeza, um guia, um orientador e que sabe que quem não é da Igreja ou não é crente também o admira”, sublinhou.

Por seu lado, Faria de Oliveira, presidente da CGD, considerou D. Manuel Clemente um “evangelizador e profeta em tempos difíceis”. Assim são os nossos, disse o Presidente da Caixa Geral de Depósitos, que patrocina este prémio, iniciativa do jornal Expresso.

Para Faria de Oliveira, o presente “precisa de quem lhe transmita mensagem de esperança”. “Vivemos para mudar as coisas, seguindo e segundo os valores em que acreditamos e que têm como objectivo o bem comum”. 

Referindo-se ao Bispo do Porto, Faria de Oliveira elogiou “a obra do filósofo, do homem da cultura”, que “nos transporta a outras dimensões” que mais dignificam o homem.

O 23.º Prémio Pessoa foi entregue a D. Manuel Clemente, na tarde desta Terça-feira, pelo Presidente da República, Cavaco Silva.

O Bispo do Porto recebeu 60 mil Euros, entregues durante a sessão que decorreu na Culturgest, em Lisboa, que o Bispo confiará ao Fundo Social Diocesano, do Porto (activado pela Diocese em situações de urgência social).

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