Saúde Mental: «Pedir ajuda não é fácil, ainda há tabu ou estigma», diz psiquiatra Margarida Neto (c/vídeo)

Médica alerta para risco de vida «quando a pessoa se sente mesmo sozinha perante um vazio»

Lisboa, 06 jul 2020 (Ecclesia) – A psiquiatra Margarida Neto, que trabalha na Casa de Saúde do Telhal, afirma que “pedir ajuda” é a receita quando há um problema associação à saúde mental, numa entrevista no contexto da pandemia Covid-19.

“Pedir ajuda não é fácil, ainda há tabu ou estigma quando se pede ajuda em Psicologia ou Psiquiatria. Ainda há estigma em relação à medicação psiquiátrica, ainda há tabu no sofrimento psíquico”, referiu à Agência ECCLESIA

Margarida Neto exemplificou que os católicos, “às vezes, não têm à-vontade para pedir ajuda” porque acham que “devem ser gratos, que não têm o direito de sofrer”; na sociedade em geral, “sobretudo os homens, não pedem ajuda”.

“Muitas vezes, a saída mais no limite, mais em pôr em causa a vida, mais nos gestos suicidas, é quando a pessoa se sente mesmo sozinha perante um vazio, uma não resposta e pensa que a única resposta é matar o sofrimento, matando-se”, acrescentou.

A médica observa que aconteceram “muitas coisas no confinamento” originado pela pandemia de Covid-19 e “na cabeça das pessoas”, mas ainda está por perceber o real alcance da situação.

“Todos sentimos uma ameaça à nossa vida, que não terminou, o que está diferente é a forma como estamos a reagir a esta ameaça, que é ir para a vida. Para a vida de um certo normal diferente, mas isso não invalida que continue a existir a ameaça, a ameaça nos outros, a ameaça nas circunstâncias”, assinalou.

Segundo Margarida Neto “há um ansiolítico que esgotou no mercado”, existe “mais ansiedade, mais insónia, mais humor deprimido”.

As notícias trouxeram também o “impacto do suicídio de uma pessoa bastante conhecida” que “causa turbulência interna em todos” porque era aquele que “aparentemente tinha tudo, um homem de sucesso, porque é que ele terminou com a vida” e isso “coloca muitas perguntas e muitos confrontos com cada um de nós”.

A psiquiatra na Casa de Saúde do Telhal, dos Irmãos Hospitaleiros também trabalha num Gabinete de Escuta e explica que “não” têm tido “muitos telefonemas”.

“Parece que as pessoas ainda têm algum receio de sair e de pedir ajuda”, mas nas consultas de Psiquiatria começa a haver “uma pressão de pedidos”, ao nível do consultório e ao nível dos hospitais.

“Cada pessoa viveu de forma diferente e houve pessoas para quem foi muito fechada esta distância, houve pessoas que puderam aproveitar o confinamento como um tempo de paragem e de reflexão. Houve muita gente que refletiu, houve muitas coisas que foram oferecidas às pessoas, ao nível espiritual imensas, a Igreja mobilizou-se para uma aproximação de quem estava em casa de muitas maneiras”, explicou a entrevistada que fez, por exemplo, “uma peregrinação online bastante interessante”.

Margarida Neto sublinha que “foram muitas as ofertas”, mas também existiu “algum tempo de paragem” que era preciso para fazer perguntas, “não tanto porquê isto, os virologistas explicam, mas para quê, o que é que eu sou, como é que eu vou sair disto”, e essas perguntas são “um desconfinamento”.

“Sabemos que o nosso comportamento é essencial para, com responsabilidade, termos um comportamento que não termina com o vírus mas que nos defende e defende os nossos e a nossa comunidade”, referiu, na emissão desta segunda-feira no Programa ECCLESIA (RTP2).

A médica psiquiatra explicou que as novas tecnologias permitem as videochamadas e manteve “o consultório através do online”, percebeu que “entrava na intimidade das casas”, mas muita gente “não tinha a privacidade necessária para ter ali uma consulta, houve algumas consultas que as pessoas saíram para o carro”.

PR/CB/OC

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