Saúde: Dar sentido ao sofrimento e acompanhar a dimensão espiritual da vida é «essencial» em Cuidados Paliativos

Seminário «Cuidados Paliativos e Religião: Significados e Intervenções» valorizou experiências de acompanhamento espiritual e caminho ecuménico feito nos hospitais

Foto: RR

Lisboa, 17 jun 2023 (Ecclesia) – Manuel Capelas afirmou hoje ser essencial que a espiritualidade integre o tratamento dos pacientes em âmbito hospitalar e que nos cuidados paliativos, esse acompanhamento “faz a diferença”.

“Queremos a melhor formação e capacitação possível. Isso faz a diferença. Podemos tecnicamente ser muito bons, controlar bem a dor, transmitir as notícias, mas a atenção à espiritualidade, de pequenos mas pequenos e importantes cuidados, faz a diferença”, explicou à Agência ECCLESIA Manuel Capelas, responsável pelo Seminário «Cuidados Paliativos e Religião: Significados e Intervenções», que decorreu hoje na Universidade Católica Portuguesa.

“Voltemos a falar da morte durante a vida, porque quanto melhor nos prepararmos para a morte melhor viveremos. É importante não fazer disto um tabu, quem fala da religião ou da morte. É errado, isto faz parte da vida das pessoas. A espiritualidade faz parte da vida das pessoas”, sustentou.

O seminário contou com a presença de várias religiões com o objetivo de “partilhar o significado do sofrimento/ dor/ vida/ morte no contexto de cada religião e estratégias de intervenção/acompanhamento religioso nesta fase da trajetória clínica dos doentes e suas famílias”, apresentava a organização.

“Todos escutámos a experiência de uma pessoa que não partia, porque tinha algo que a pendurada. Ela estava pronta mas faltava fechar uma porta. E fechar a porta era estar em paz, era ter uma conversa com o assistente espiritual. Foi o momento de serenidade que lhe permitiu uma morte natural, sem necessidade de fármacos para reduzir o sofrimento. Bastou a conversa natural, terapêutica com o seu assistente espiritual”, contou Manuel Capelas.

O responsável valorizou ainda o caminho ecuménico que tem sido feito nesta área, procurando ir ao encontro da realidade dos pacientes e da sociedade “multicultural”.

“O diálogo interreligioso existe, e ainda bem que existe. Só vivemos em comunidade. O ecumenismo tem de existir, somos poucos para os ajudarmos a tanto. Trata-se de um espaço de partilha que ajuda a colocar o foco de todos no paciente, para o cuidarmos melhor”, enfatiza.

Manuel Capelas advoga a necessidade de “em todas as áreas” existir acompanhamento espiritual.

“Em qualquer área da saúde, mas em especial dos cuidados paliativos onde as pessoas experienciam um elevado sofrimento, é fundamental o acompanhamento espiritual”, indica.

O capelão no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o padre José Ferreira, explica, pela experiência a importância da “escuta ativa” e de ajudar o paciente a “dar sentido ao sofrimento”.

“A presença do assistente ajuda a dar um sentido ao sofrimento. Se ajudarmos os pacientes a encontrar esse sentido, não creio que se torne menos sofrível mas torna-se mais suportável”, indica.

O capelão dá conta do caminho que tantos pacientes realizam em âmbito hospitalar, de valorização e redescoberta da dimensão espiritual da sua vida.

“Podem redescobrir a sua dimensão espiritual. Espirituais todos somos, podemos depois incarnar numa fé concreta ou não. É um tempo em que o paciente pode descobrir não ser apenas um ser somático, mas espiritual. E a descoberta da espiritualidade pode, e deve ser feita no âmbito hospitalar, e ajuda porque o assistente é um complemento às terapêuticas médicas e de enfermagem”, explica.

LFS/LS

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