Saudação do presidente Conferência Episcopal Timorense no encontro de bispos católicos da CPLP

Excelências Reverendíssimas e Irmãos

Dizer-vos que vos acolhemos com alegria, emoção, satisfação e outros sentimentos mais, é dizer pouco porque é limitativo. Por isso prefiro dizer que é com indescritível estado de espírito que eu, em nome dos meus colegas bispos timorenses, em nome de toda a Igreja Timorense e em meu nome pessoal vos dou as boas vindas a este nosso X encontro dos Bispos da CPLP, aqui neste pequeno país, metade de uma ilha.

Indescritível porque este nosso encontro ultrapassa o âmbito meramente eclesial. Com este encontro revemos, neste ano de 2012, os 500 anos da presença portuguesa em Timor, interrompida politicamente mas não afetivamente durante 24 anos pela ocupação indonésia, revemos os quase 450 anos de missionação da Igreja em Timor, revemos os 100 anos dos primeiros sinais de manifestação de emancipação política, conhecida na nossa História como a Revolta de Manufahi, liderada pelo régulo de Same, D. Boaventura; com este encontro testemunhamos também os primeiros 10 anos da nossa história como país independente.

Como em tudo na existência humana, só reconhecemos os passos importantes da nossa vida quando olhamos para trás e conseguirmos alinhar os acontecimentos mais importantes que tiveram lugar na nossa existência e por isso nos orgulhamos dela. É assim também que conseguimos reconhecer a presença de Deus nas nossas vidas e agradecer a todos aqueles que contribuíram para que a nossa existência tivesse mais significado e elevado valor. Este encontro é pois um momento e uma oportunidade para que nós, Igreja Timorense, saibamos reconhecer a presença de Deus na nossa História particular, vivê-la e demonstrá-la e partilhá-la com irmãos de outros continentes, que partilham a mesma fé em Jesus Cristo e a mesma história de Fé e Cultura.

Este encontro é também uma oportunidade, para que nós timorenses, em particular a Igreja em Timor, manifestemos uma profunda gratidão a Portugal e sobretudo aos Missionários Portugueses, que trouxeram o grão de mostarda do Evangelho há quase quinhentos anos atrás e hoje, pode dizer-se, se transformou em árvore frondosa. Aos portugueses devemos 3 coisas: O conhecimento e a fé em Jesus Cristo pela proclamação do Evangelho, O Humanismo que é uma consequência da Evangelização e o Espírito de desenrasque, que não sei se é uma virtude evangélica mas que tem funcionado primorosamente em muitas situações da nossa História, se não em todas, mesmo ou sobretudo na guerra. Na pessoa do sr. D. Manuel Clemente, Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, vai um profundo agradecimento à Igreja em Portugal, que nos gerou para a fé e imprimiu um rumo ou rumos diferentes à nossa história neste contexto asiático.

O nosso sentimento é também indescritível pela vossa própria presença entre nós, neste lugar. Oriundos de diversas latitudes, de diversas raças e culturas, reunimo-nos aqui, em Timor-Leste, um ponto de fronteira e de passagem entre o Índico e o Pacifico, entre a Ásia e a Oceânia, um pequeno país católico no meio das grandes religiões asiáticas, a mais próxima porque é vizinha, o Islamismo (diz-se que proporcionalmente Timor Leste é o segundo maior país católico do mundo- Não sei se o é mas não rejeitamos a fama). Os geopolíticos dizem que Timor Leste está na fronteira entre o mundo de cultura ocidental e oriental, olhando do sul para o norte; com tudo isto, aqui nos reunimos para celebrarmos a mesma fé em Jesus Cristo e partilharmos as nossas preocupações na mesma língua, que não o inglês, hoje em dia a “koiné” do mundo e particularmente cá do sítio. Desde já  vos digo que este nosso encontro está a merecer muita atenção da parte das embaixadas deste lado do mundo, bem como de várias organizações internacionais não governamentais sobretudo da parte do mundo anglo-saxónico que não compreendem esta afetividade quase mórbida entre o colonizador e os colonizados, hoje nações independentes. Os irmãos de outras religiões, sobretudo as cristãs e de espírito ecuménico, embora todas elas muito minoritárias seguem com olhos e ouvidos muito atentos este nosso encontro. Para Timor, a medida da dimensão do mundo é a dimensão da sua ilha. Por isso tudo se sabe rapidamente. Mas em relação à Igreja Católica, as expectativas e as esperanças timorenses ultrapassam a dimensão da ilha.

Portanto este nosso encontro ultrapassa em certo sentido o mero âmbito da Igreja. Até da parte de alguns membros do nosso governo, até aqui bastante insensíveis a tudo aquilo que é presença portuguesa e Igreja Católica em Timor, têm olhado com muita expectativa para este nosso encontro, porque a nível de Bispos da CPLP, este é o primeiro encontro em Timor-Leste. Como bem sabeis, em Timor a Igreja ainda tem muito peso. Já houve vários encontros a outros níveis mas não tiveram o mesmo impacto junto da população. Da parte da população, até da gente simples, há uma grande expectativa e um certo orgulho em ter, reunidos pela primeira vez, em Timor Leste, vários bispos e todos de língua portuguesa. Pensámos, ao longo do nosso encontro proporcionar alguns momentos de aproximação entre Vossas Excelências Reverendíssimas e algumas comunidades cristãs dos arredores de Díli para que a nossa gente sinta mais de perto esta comunhão da Igreja. Raças diferentes mas celebramos o mesmo Cristo. Permitam-me dizer que só a vossa presença já é uma lição prática de catequese sobre o que é a Igreja.

Esta reação do povo testemunha um bocado da afetividade que este povo tem pela Igreja Católica em Timor Leste. O que também não é bem visto por aqueles que decidem sobre os destinos do mundo. Numa parte do mundo onde as grandes religiões asiáticas exercem a sua grande influência, como ousa este pequeno país querer ser diferente? Por isso queremos também ouvir os testemunhos das irmãs mais velhas que sentem na pele estas experiências de minagem da fé e de pertença à Igreja Católica no vosso contexto socioeclesial. A vossa simples presença conforta-nos, enche-nos de coragem e dá-nos a certeza de que não estamos sozinhos em todos os aspetos.

 

O nosso sentimento é também indescritível pelo facto de termos a ousadia em querer receber-vos. Como país, temos 10 anos de independência e como Conferência Episcopal temos 5 meses de existência. Sobram-nos em alegria e ânimo aquilo que nos falta em capacidades e recursos .Por isso a qualidade do nosso acolhimento será forçosamente limitada. Aqui funcionou uma vez mais a herança cultural do espírito de desenrasque que é também uma das marcas da nossa identidade. A marca habitual timorense é: Amanhã também é dia. Mas quando é necessário salvar a face, (característica asiática), aí entra o espírito do desenrasque. E as coisas funcionam. Umas vezes bem, a maior parte das vezes mal. Mesmo assim, só a vossa presença é um consolo porque nos ajudais e nos ajudamos a crescer mutuamente: na solidificação da fé, da amizade, das relações entre os povos, das relações intereclesiais, da língua, da cultura cristã, sobretudo a católica, da interajuda, etc …

Das nossas limitações, que são muitas, antecipadamente nos penitenciamos e pedimos a vossa compreensão. Estamos certos de que os oficiais do mesmo ofício sabem entender-se maravilhosamente bem.

 Senhores Bispos da CPLP: à Nação e à Igreja- mãe, Portugal, já manifestámos os nossos agradecimentos. Às Igrejas irmãs, desde a Irmã primogénita, o Brasil, passando pelas irmãs seniores, Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e S. Tomé e Príncipe, mais  os srs. padres Manuel Morujão e José Maia, e os queridos irmãos participantes neste X  encontro dos Bispos  da CPLP, nós os 3 bispos de Timor Leste, (aqui só 2, porque o D. Norberto encontra-se em Roma a frequentar o curso dos Bispos recém-ordenados)  renovamos os nossos votos de  boas  vindas.

Uma vez mais, muito, mas muito obrigado pela vossa presença.

Díli,6 de setembro de 2012

D. Basílio do Nascimento, presidente da Conferência Episcopal Timorense

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