Santo Cristo: Cardeal Tolentino Mendonça pede «artífices de paz», perante «cruel e inaceitável espetáculo da guerra»

Presidente das celebrações, na cidade açoriana de Ponta Delgada, destaca impacto da pandemia e desafio de aprender com as crises

Foto: Igreja Açores

Ponta Delgada, Açores, 22 mai 2022 (Ecclesia) – O cardeal português D. José Tolentino Mendonça recordou hoje, nas celebrações do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na ilha de São Miguel, os “insuportáveis sofrimentos” causados pela guerra, desafiando os romeiros a ser “artífices de paz”.

“Ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, confiamos o que está a acontecer na martirizada Ucrânia”, declarou o arquivista e bibliotecário da Santa Sé, durante a homilia da Missa a que presidiu na igreja de São José.

A intervenção evocou a “dura tempestade que a pandemia representou e, em parte, ainda representa”, a que se seguiu “o cruel e inaceitável espetáculo da guerra”.

O presidente das celebrações comentou a ideia de que o mundo sairia “melhor” da crise provocada pela Covid-19.

“O pesadelo não só continua, mas parece que ainda se agrava”, apontou.

A homilia partiu de duas expressões de Jesus, apresentadas no Evangelho da liturgia de hoje: “Deixo-vos a paz” e “Dou-vos a minha paz” (Jo 14,27).

“Jesus deixa-nos a paz, isto é, mobiliza-nos para a paz”, precisou o cardeal madeirense.

D. José Tolentino Mendonça falou da paz como “tarefa” confiada a cada um, convidando os presentes a tirar “lições profundas” da pandemia, para relançar a vida com “resiliência e audácia profética”.

“Como é que a crise se pode tornar uma oportunidade para redescobrir coisas e valores de que precisamos?”, questionou, numa celebração com transmissão televisiva.

O colaborador do Papa destacou que a chamada “nova normalidade” não será “um regresso exato” à vida anterior, pedindo uma reflexão sobre “as formas de habitar o futuro”.

“A pandemia devolveu-nos a consciência do limite”, indicou.

O arquivista e bibliotecário da Santa Sé defendeu a necessidade de questionar o “custo humano e ambiental” da atual ideia de progresso, criticando uma visão “utilitarista” da realidade, direcionada para a produção e consumo permanentes.

No Campo de São Francisco, onde foram colocados vários ecrãs de televisão, centenas de pessoas acompanharam a celebração, enfrentando a chuva.

“Tu podes ainda ir mais longe”, disse o cardeal, numa reflexão a partir da imagem do ‘Ecce Homo’ – que mostra Cristo com as mãos amarradas sobre o tronco, uma coroa de espinhos na cabeça e com a capa e o cetro que, segundo os Evangelhos, os soldados romanos lhe deram depois de o flagelarem.

O presidente da celebração comentou o tempo de espera por um novo bispo diocesano e o processo sinodal, lançado pelo Papa, considerando que devem inspirar os católicos dos Açores a ser uma Igreja “inclusiva, que espera por todos”

“Caminhemos juntos na unidade, caminhemos juntos na comunhão”, apelou.

No início da Eucaristia, falando aos romeiros, D. José Tolentino Mendonça, deixou votos de que, todos juntos, possam dar vida a “uma Igreja que caminha”.

“Também eu, vindo de Roma, desejei ser um de vós”, confessou.

Já o cónego Adriano Borges, reitor do Santuário, saudou a possibilidade de voltar a celebrar estas festas com a presença dos peregrinos e as manifestações públicas de devoção, após dois anos de limitações impostas pela pandemia de Covid-19.

“Este ano temos muitas razões para dar graças”, referiu.

No final da Missa, o cónego Hélder Fonseca Mendes, administrador diocesano, agradeceu o “testemunho de fé” do cardeal Tolentino Mendonça.

“Estamos muito gratos pela sua presença, a sua disponibilidade”, acrescentou.

Foto: Igreja Açores

A celebração eucarística é um dos pontos altos da festa do Senhor Santo Cristo, cuja imagem vai percorrer esta tarde as ruas da cidade de Ponta Delgada, ao longo de várias horas, numa tradição secular na região.

O percurso passa pelos antigos conventos da cidade e algumas igrejas paroquiais, percorrendo ruas cobertas de tapetes de flores; em 2022, após dois anos de limitações por causa da pandemia de Covid-19, a imagem do Senhor Santo Cristo sai à rua com uma capa oferecida por um casal natural da Ribeira Grande, que vive nos Estados Unidos da América.

As Festas do Senhor Santo Cristo mobilizam milhares de pessoas, entre micaelenses, emigrantes e devotos do resto da região e do país.

OC

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