Santa Sé pede «nova mentalidade» para lidar com crise alimentar

Devido à falta de produtos alimentares, demasiados pobres morrem a cada dia, enquanto imensos recursos são atribuídos para armamento. A denuncia parte do Arcebispo Silvano M. Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas e outras organizações internacionais em Geneva. “A comunidade internacional deve ser mobilizada para a acção. O direito alimentar está directamente relacionado com o futuro da família humana, assim como com a paz global”, afirma o Observador Permanente da Santa Sé durante a Sessão Especial sobre o Direito Alimentar, no Conselho dos Direitos Humanos. D. Tomasi advertiu para o “avassalador desafio de alimentar adequadamente a população mundial”, num tempo em que “a oscilação nos preços dos produtos alimentares ameaçam a estabilidade de muitos países em desenvolvimento”. Esta situação pede uma acção internacional concertada, pediu. Esta crise é um “alarme às consequências negativas que afectam os agricultores negligenciados, quando mais de metade do mundo luta para ser sustentado pelo seu trabalho”. D. Silvano Tomasi evidenciou na sua intervenção a disfunção do sistema de trocas mundiais, quando quatro milhões de pessoas anualmente aumentam a estatística de 854 milhões que sofrem de fome crónica. O primeiro Objectivo de Desenvolvimento do Milénio, lembrou o Arcebispo, procura reduzir para metade o número de pessoas a viver em pobreza extrema e fome, até ao ano de 2015. No entanto, a Sociedade deve confrontar-se com o facto de que “o estabelecimento de objectivos não se adequam às actuais políticas. Como resultado, milhões de homens, mulheres e crianças enfrentam a fome diariamente”. Enquanto que a escalada de preços nos produtos alimentares causam inconvenientes às famílias dos países desenvolvidos que gastam cerca de 20% do seu rendimento em alimentação, “estes preços são ameaças de vida para um bilião de pessoas que vive em países pobres, uma vez que são forçados a gastar quase todo o seu orçamento diário à procura de alimentos”. Mais do que uma “emergência alimentar”, o problema de uma adequada produção alimentar coloca-se ao nível da estrutura natural. Este problema deve ser encarado no contexto de crescimento económico justo e sustentável”, indicou. D. Tomasi pediu implementação de políticas, estratégias e acções efectivas que resultem em eficiência alimentar para todos. “Este cenário requer medidas que lidem não apenas com a agricultura e o desenvolvimento rural mas também com a saúde, educação, com uma boa administração, com uma comunidade de direito e respeito pelos direitos humanos”. O impacto das trocas internacionais na área alimentar e a liberalização das trocas de produtos agrícolas tendem a favorecer as empresas multinacionais e, por isso, a prejudicar os agricultores locais, que representam a base da segurança alimentar dos países em desenvolvimento. O Arcebispo apelou a um “renovado compromisso com a agricultura, especialmente em África”. A prioridade na produção alimentar deveria ser para beneficiar as pessoas, lembrou. “Os subsídios injustos na agricultura devem ser eliminados”. Neste complexo e urgente debate sobre o direito alimentar, D. Tomasi pede uma nova mentalidade, que “coloque a pessoa humana no centro e não tenha o seu foco no lucro económico”.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top