Retalhos da vida de D. António Marcelino

Quando foi ordenado bispo disse que “não queria ser vedeta, queria estar em comunhão com todos os bispos – estavam lá alguns vinte – mas que sentia que o Concílio Vaticano II exigia de nós caminhos novos” – sublinhou à Revista “Praxis” o bispo emérito de Aveiro, D. António Marcelino. Numa longa entrevista, o prelado recorda os momentos marcantes do seu múnus sacerdotal e episcopal. Ordenado bispo a 21 de Setembro de 1975, D. António Marcelino vivia esse anseio: “tentar que o Concílio fosse vida na Igreja e entrar pelo mesmo caminho”. Ao longo destes trinta e poucos anos, o bispo confessa que o episcopado “não me trouxe especiais novidades porque procurei que o meu ritmo fosse sempre este”. A renovação conciliar foi a aposta principal da vida deste bispo mas a renovação não pode separar-se da conversão. “Renovação é uma atitude permanente porque a conversão, independentemente da renovação que o acontecimento conciliar exige, é uma atitude permanente!” – frisou. Ainda nos tempos de seminarista – “tive a graça de fazer o Seminário Maior numa casa sem condições, na vila de Marvão, fruto de uma ajuda concreta feita à Diocese” -, D. António Marcelino recorda os tempos da formação teológica. Por outro lado, “havia coisas importantes para além das aulas, para a nossa formação, como aprender a trabalhar em equipa, ir ao encontro daqueles que menos podiam, os mais pobres, os mais sem voz”. Logo a seguir à ordenação de presbítero foi estudar para Roma, para a Universidade Gregoriana. Regressou a Portalegre, com o encargo de ser professor do Seminário e membro da equipa formadora dos seminaristas. “Nunca disse “não” a nada porque pensava que tudo isso era importante para enriquecer a minha experiência e para a formação dos meus alunos, futuros padres” – salientou na entrevista. A novidade do Concílio Com a convocação do II Concílio do Vaticano e a consequente realização, D. António Marcelino pensava que os padres, “porque tinham um grande amor à Igreja, estavam todos ansiosos pela renovação conciliar… Mas não era assim! O Concílio foi uma novidade, uma paixão… Porém, muitos, quando perceberam que lhes ia mexer na vida e nos critérios pastorais, reagiram, e eu tive contestações fortes por esse país fora, nas conferências que fiz e nos cursos que orientei sobre o Concílio…” E acrescenta: “Senti que havia muita gente ansiosa, senti que tudo quanto dizíamos aos leigos era bebido com sofreguidão extraordinária. Mas quando se falava aos padres, encontrei sempre muitas interrogações: mas porquê isto, porquê aquilo, sempre ensinámos assim… Eu não me tinha apercebido ainda de que havia uma clivagem tão forte entre o laicado e a hierarquia, que amiúde não percebia os caminhos novos”. Papas deslumbrantes Nasceu no pontificado de Papa Pio XI, mas “não o conheci, nem dele ouvi falar”. Naquela aldeia escondida da Beira “ninguém falava do Papa”. “É por isso que me impressiona muito os pastorinhos de Fátima falarem do Papa” – disse. Por isso “o primeiro Papa da minha vida foi o Papa Pio XII e, mais concretamente, só depois da ida para Roma”. O Papa Pio XII estava “no auge do seu pontificado”. Pio XII foi o papa das “grandes mensagens, como a mensagem sobre a democracia, que a mim me deslumbravam, e que eu estudei. Foi um homem da Igreja, aberto e corajoso, admirado e procurado”. Após a morte de Pio XII veio João XXIII que “não cheguei a conhecer como Papa”. “Promovendo o Concílio e a maneira como o conduziu, dá a sensação de que Deus o escolheu só para isso, que só foi Papa por causa do Concílio”. João XIII fez logo Montini cardeal, “e Montini era o meu sonho para Papa! Em pleno Concílio, morreu João XXIII”. As pessoas percebiam que o Papa seguinte seria o cardeal Montini. Paulo VI foi o Papa que o apaixonou porque procurava “exemplificar a doutrina conciliar de maneira prática e corresponsável”. Não conheceu o Papa João Paulo I mas esteve várias vezes com o Papa vindo do Leste: “Nos três sínodos dos bispos em que participei, em simpósios, em visitas ad Limina, quando nos visitou em Portugal”. João Paulo II fez das saídas a “encarnação do mandato evangelizador de Cristo aos Apóstolos”.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top