Refugiados: Prior de Taizé destaca que «recusar o outro é o germe da barbárie»

«Perante as migrações, ultrapassemos o medo!», é o repto do irmão Alois, que se dirige aos políticos

Taizé, França, 25 fev 2016 (Ecclesia) – O prior da Comunidade Ecuménica de Taizé assinala que os “grandes fluxos migratórios são invencíveis” e se regulá-los “é legítimo e mesmo necessário” querer “impedi-los” com muros de arame farpado “é absolutamente inútil”, por isso, apela ao acolhimento.

“Assumindo juntos as responsabilidades exigidas pela vaga de migrações, em vez de brincarem com os medos, os responsáveis políticos poderiam ajudar a União Europeia a reencontrar uma dinâmica entorpecida”, escreveu o irmão Alois.

Num artigo de opinião enviado hoje à Agência ECCLESIA, o responsável religioso observa a partir da experiência de acolhimento da comunidade que existe “toda uma jovem geração europeia que aspira a esta abertura”.

“Aos olhos destes jovens, a construção europeia apenas encontra o seu verdadeiro sentido mostrando-se solidária com os outros continentes e com os povos mais pobres. Há muitos jovens europeus que não conseguem compreender os seus Governos quando estes manifestam vontade de fechar as fronteiras”, desenvolve.

Para o prior da Comunidade de Taizé o medo é compreensível, contudo, resistir “não significa que este deva desaparecer” mas que “não paralise”.

“Não permitamos que a rejeição do estrangeiro se introduza nas nossas mentalidades, pois recusar o outro é o germe da barbárie”, sublinha.

Neste contexto, considera que, numa primeira etapa, os países ricos deviam “tomar uma consciência mais clara” que têm a sua parte de responsabilidade nas “feridas da História” que provocaram e continuam a provocar imensas migrações, nomeadamente de África ou do Médio Oriente.

“Hoje, algumas escolhas políticas permanecem fonte de instabilidade nestas regiões”, observa o prior da comunidade ecuménica de monges que incentiva, esses países, a numa segunda etapa a ir para além “do medo do estrangeiro e das diferenças de culturas”.

“Em vez de ver no estrangeiro uma ameaça para o nosso nível de vida ou a nossa cultura, acolhamo-lo como membro da mesma família humana”, apela, ao que pode “também ser uma oportunidade”.

O irmão Alois assinala que estudos recentes revelam o “impacto positivo do fenómeno migratório”, na demografia e na economia, por isso, questiona que “tantos discursos” salientem apenas as dificuldades “sem dar valor ao que há de positivo”.

“Humilde e limitada, mas muito concreta”, é a experiência que a Comunidade Ecuménica de Taizé tem neste acolhimento e integração a que o seu prior incentiva e testemunha: “Acolhemos onze jovens migrantes do Sudão e do Afeganistão, vindos da «selva» de Calais”[campo de refugiados no norte da França].

“A sua chegada despertou uma impressionante vaga de solidariedade na nossa região. Há voluntários que vêm ensinar-lhes francês, médicos que os tratam gratuitamente, vizinhos que os levam a fazer passeios e a dar voltas de bicicleta”, exemplifica.

“É um erro pensar que a xenofobia é o sentimento mais partilhado, muitas vezes o que há é muita ignorância. Assim que os encontros pessoais se tornam possíveis, os medos dão lugar à fraternidade”, alerta o prior de Taizé.

O artigo de opinião, publicado também na edição de hoje do jornal ‘Público’, foi escrito a partir da experiência “recente” do irmão Alois em Homs, na Síria.

CB/OC

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