Referências e desafios de um Pastor

D. António Luciano dos Santos Costa, Diocese de Viseu

Foto: Agência ECCLESIA/PR

A figura do pastor atravessa a história de todas as civilizações e é o paradigma de uma liderança responsável e de um cuidado do rebanho com dedicação e espírito de sacrifício, numa entrega total e incondicional ao serviço dos outros.

Um pastor, atento às necessidades dos outros e de todos, esquece-se de si mesmo, vivendo voltado para o maior bem daqueles que lhe foram confiados. A imagem deste Bom Pastor é Jesus Cristo, que está para além da temporalidade. “A minha realeza não é deste mundo” (Jo 18,36). “Eu sou o bom pastor. o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10,11).

Na reflexão bíblica encontramos as raízes de Jesus, o Bom Pastor pré-anunciado (cf. Ez 34), Aquele que é chamado para “dar a vida em abundância”, proteger, cuidar e levar o rebanho a pastagens verdejantes para beber nas fontes de águas cristalinas.

Jesus o Bom Pastor, descrito no Evangelho, é um cuidador apaixonado e diferente, que vai à procura das ovelhas perdidas e transviadas. Preocupa-se com o rebanho, não abandona nenhuma, chama cada uma pelo seu nome e só descansa quando as tem seguras no redil e lhes reparte com alegria o alimento em cada dia.

Neste contexto, Jesus como ícone do Bom Pastor fala-nos abundantemente da riqueza do amor de Deus, que enche de vida o nosso coração e chama os sacerdotes a ser “educadores da fé” (PO, 6), a cultivar a própria vocação segundo o Evangelho e a viver uma caridade sincera e operosa.

Por isso, as virtudes do Bom Pastor são uma referência e um desafio para todos aqueles que são chamados a esta missão. A “caridade pastoral”, que constitui a alma do ministério sacerdotal (cf. Pastores Dabo Vobis, 48), torna-se um desafio pessoal e um compromisso de comunhão em presbitério, para o crescimento da própria Igreja.

“Animados de espírito fraterno, os presbíteros não esqueçam a hospitalidade, cultivem a beneficência e comunhão de bens, tendo particular solicitude com os doentes, os atribulados, os que estão sobrecarregados de trabalho, os que vivem sós, os que vivem longe da Pátria, bem como com os que sofrem perseguição” (PO, 8).

Para ser imagem do Bom Pastor o sacerdote precisa de encarnar um dinamismo de proximidade, ternura e de compaixão pelo seu rebanho.  “Os presbíteros são chamados a prolongar a presença de Cristo, único e sumo Pastor, atualizando o seu estilo de vida e tornando-se como que a Sua transparência no meio do rebanho a eles confiado” (Pastores Dabo Vobis, 15).

Olhemos para o Bom Pastor e contemplemos as suas qualidades nesta Semana de Oração pelas Vocações. Rezemos pelos sacerdotes, diáconos, consagrados(as), missionários(as), religiosos(as), seculares consagrados e leigos, que se sacrificam ao serviço das paróquias, comunidades cristãs, escolas, hospitais, centros sociais e em tantos serviços pastorais e sociais. É nestes lugares que dão a vida num gesto de identificação com Cristo, “semeando a esperança como construtores da paz” em todos os ambientes e circunstâncias da vida.

O Bom Pastor continua a caminhar connosco neste tempo de dificuldades humanas, sociais e eclesiais, como aconteceu com os discípulos de Emaús. O Papa Francisco, na Mensagem para o Dia Mundial das Vocações, convida-nos a ser um povo em caminho sinodal, valorizando a “polifonia dos crismas e das vocações” como peregrinos da esperança.

Vivemos num mundo indiferente à fé e que suspeita da integridade de vida dos sacerdotes no exercício do seu ministério sacerdotal e desvirtua muitas vezes o sentido da missão eclesial, que lhes está confiada. Este mundo paradoxalmente sem Deus, precisa da vida, do serviço e do testemunho dos sacerdotes para ser um oásis de esperança, que dê sentido à existência humana.

Os sacerdotes devem exercer o seu ministério na alegria, felizes, portadores de um bem precioso, que mesmo diante das preocupações, dos medos, das contrariedades da vida, do desprezo, da desconfiança e das humilhações são portadores de uma vida plena do amor do Bom Pastor, que os leva a dar vida pelas suas ovelhas.

Em nome do Bom Pastor, manifesto o meu apreço, estima e gratidão a todos os sacerdotes, aos que estão ao serviço da Igreja nas nossas dioceses, aos que se encontram doentes, em provação, sofrimento, cansaço, desmotivação e desilusão pastoral.

Manifesto a minha solidariedade e oração para com todos os consagrados e seminaristas, reforçando com os sacerdotes os laços e sentimentos, que nos unem ao Bom Pastor. Peço ao Povo de Deus para que continue a apreciar, a rezar e a estimar a vida dos nossos sacerdotes, que abnegadamente, no exercício do ministério sacerdotal, servem as pessoas, a Igreja e o mundo.

Como Igreja em caminho sinodal na “comunhão, participação e missão”, contemplemos o Coração de Cristo, o Bom Pastor, imitemos as suas virtudes na fidelidade à vocação batismal em caminho de santidade. Como Maria de Nazaré na docilidade ao Espírito Santo intensifiquemos a nossa oração pela santificação dos sacerdotes, aumento das vocações e renovação da Igreja.

Criemos todos na nossa sociedade uma “cultura vocacional”, capaz de transformar os ambientes, humano, social e eclesial, em espaços de estima, apreço, corresponsabilidade e reconhecimento do dom e mistério, que envolve a vocação e o ministério sacerdotal.

D. António Luciano dos Santos Costa
Bispo de Viseu

 

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