Quaresma: tempo de conversão aos outros

Jejum, meditação, relação com os outros e com Deus são passos apontados por Frei Bento Domingues até à Páscoa A conversão a que a Quaresma desafia é acima de tudo a um mudar de vida e alterar a forma de relacionamento com os outros e com o mundo e, consequentemente, a forma como cada pessoa se relaciona com Deus. Nos 40 dias a caminho da Páscoa, interessa enquadrar o desafio litúrgico e aplicá-los à realidade actual. Nos dias de hoje inundam as imagens marcadas pela dureza da crise financeira e económica que se instalou, e que repentinamente abalou certezas e fragilizou esquemas de organização social que se julgavam sólidos. Frei Bento Domingues, dominicano, partilha com o Programa Ecclesia o seu desejo de “pelo menos os cristãos darem testemunho do seu envolvimento na criação de condições para que as pessoas se sintam encorajadas a, pessoalmente, ajudarem a vencer a crise Gostaria que o problema se situasse no «como vencer» e «como é que eu posso ajudar»”. A atitude de mudar a realidade engloba uma disponibilidade para pensar a vida e a forma de relação com quem o ser humano interage. A Quaresma é também um desafio ao silêncio e à escuta do que se passa no íntimo de cada pessoa. O Frei dominicano explica que a oração contemplativa é essencial. “A oportunidade de as pessoas descerem ao fundo de sim mesmas e perceberem as suas energias adormecidas ou quantas energias deixam adormecer nos outros. Será que cada pessoa usa o que de melhor tem? E ajuda a que outros usem também o que de melhor têm? Ou se opta apenas por referir o que está mal?”. O momento económico e litúrgico da Quaresma interpela à partilha e à distribuição equitativa dos bens, sabendo que o muito que poucos têm, é determinante para a sobrevivência de milhões. “Acredito que muitos pensem que passado este tempo de crise, voltamos ao mesmo. Mas se assim for, é uma desgraça. Temos de fazer algo de novo”, explica o Fei Domingues, afirmando que as comunidades cristãs devem irradiar o sentido de energia. A Quaresma é tempo de conversão e de mudança das atitudes pessoais. É um tempo propício para questionar categorias que determinam comportamentos e que impedem sinais de esperança. “A Quaresma é um tempo belo para a meditação, para o aprofundamento e para a oração. As pessoas falam no jejum, mas creio que o grande jejum começa, mesmo do ponto de vista material, percebendo que se pode agir de outro modo. Podemos viver de outra forma e não com os critérios da abundância e do desperdício. Apesar do que o que dizem, acredito que o que sobra de uns dava para fazer a alegria de outros”, explica o Frei dominicano. 40 dias se abrem aos cristãos para que, despertados, se deixem interpelar e se tocar para a transformação do mundo e para a melhoria das condições de vida dos que são simplesmente o próximo. O cuidado é o verdadeiro jejum, a autêntica partilha, num caminhar de Quaresma mas com atitude de Ressurreição.

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