Quaresma: «Quando me aproximo, deixo que o outro me diga como quer ser ajudado» – padre Nuno Branco (c/vídeos)

Jesuíta autor dos desenhos da Via-Sacra da JMJ Lisboa 2023 reconhece na 5ª e na 6ª estação os olhares e os gestos que ajudam a erguer

Lisboa, 08 mar 2024 (Ecclesia) – O padre Nuno Branco afirmou que as figuras de Simão de Cirene e de Verónica, que na tradição da Via-Sacra entram para ajudar Jesus, mostram o modo de estar e de como podemos ajudar os outros.

“Estas duas figuras encarnam o modo de eu me aproximar de alguém, que às vezes não sei como o fazer, como me aproximar de alguém ferido, magoado ou a sofrer. Portanto, acho que Simão e Verónica podem inspirar ou ilustrar o modo de me aproximar”, explica à Agência ECCLESIA, a partir dos quadros da 5ª e 6ª estação da Via-Sacra.

O jesuíta reconhece que no caminho que a tradição identificou como os últimos passos de Jesus, as duas figuras que surgem para “ajudar a levar a cruz” ou para “enxugar o rosto de Jesus”, não o desviam do caminho, mas descobrem, a partir da realidade de quem querem ajudar, como o devem fazer.

“Porque enxugar um ferido pede muita delicadeza, não é? O toque. Enxugar significa que conheço o outro pela delicadeza e pelo toque, pela aproximação. E não por aquilo que eu acho que o outro precisa. É o outro a dizer-me como é que quer ser tocado ou como é que se quer deixar aproximar Às vezes, na ajuda e na aproximação ao outro, nós já impomos um pano ou um tecido, que não deixa o outro respirar. Então acho que esta aproximação é delicada, porque é o outro que diz como é que quer ser cuidado ou curado”, resume.

Convidado a revisitar os 14 desenhos da sua autoria, que acompanharam a Via-Sacra da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, o padre Nuno Branco indica, a partir do desenho da 5ª estação – «Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz», a “horizontalidade” entre pessoas, uma sintonia entre semelhantes.

“Acho que nos encontramos nesta pergunta: ‘porquê é que eu tenho que carregar com isto ou que sentido é que isto tem?’ – Ou seja, crentes e não crentes vão encontrar-se numa grande pergunta que este homem Simão vai dar forma. Ou seja, o amor vê-se mais nas obras do que nas palavras. Até podia ser um não crente a chegar-se à frente ou adiantar-se e tomar esta iniciativa. O amor é o lugar último, mais do que a fé, a dizer, a atribuir sentido à nossa vida e a dar-nos lugar nesta relação com o Senhor”, traduz.

A partir da 6ª estação, «Verónica enxuga o rosto de Jesus», o jesuíta convida a perceber as linhas de um rosto que olha mesmo quando recebe de volta um olhar que se “desvia”.

“É o olhar de Jesus que nos salva, embora nós não suportamos estar muito tempo a olhar para alguém. Acho que é um exercício difícil e duro. Para que alguém possa ser olhado por alguém, é preciso que haja muita intimidade ou que haja um grau de familiaridade muito grande. No fundo, é um cruzar de olhares de sermos olhados e não desviar o olhar. Mas também não vem da agressividade, vem do amor”, indica.

O percurso da Via-Sacra, com o padre Nuno Branco, é apresentado online, nos canais da Agência ECCLESIA, e no programa da Igreja Católica na Antena 1 da rádio pública, a cada sábado de Quaresma, pelas 06h00.

LS

 

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