Protestar e apertar o cinto para sair da crise

Estabilidade política é «fundamental», afirma o padre Hermínio Rico, doutorado em Ética Social

Évora, 20 set 2012 (Ecclesia) – A contribuição para que o país saia da crise deve ir além do protesto contra o Executivo e passar pela aceitação dos sacrifícios impostos pela austeridade, considera o padre Hermínio Rico, doutorado em Ética Social nos EUA.

“A participação não é só ir às manifestações de rua para protestar e pedir que o Governo venha abaixo; também é fazer um esforço por apertar o cinto, aceitar as dificuldades e, a nível das empresas, encontrar formas de tentar manter ao máximo os empregos e aumentar a produtividade”, afirmou hoje à Agência ECCLESIA.

Para o sacerdote jesuíta “a grande mais valia da participação dos cidadãos portugueses é o perceberem que há ajustamentos indispensáveis, o que obviamente envolve sacrifícios”.

A perda dos subsídios de férias e Natal pelos trabalhadores do Estado foi, “de modo geral, bem aceite pelas pessoas, porque perceberam que havia necessidade desse corte”, assinala o especialista, acrescentando que o “direito à indignação” é positivo desde que “acompanhado da responsabilidade”.

“O que há um ano era essencial para Portugal, isto é, mostrar a diferença face à Grécia, continua a ser hoje tão ou mais necessário. Ninguém quer o caminho alternativo que se tem visto na Grécia, a não ser quem defende que ‘quanto pior, melhor’”, aponta.

O professor do Instituto Superior de Teologia de Évora sustenta que a estabilidade política é “fundamental”: “o ponto de partida do país não é a nossa soberania, que está em suspenso porque Portugal está obrigado a contratualizações com entidades internacionais”.

Ao comentar as manifestações ocorridas no último sábado em várias cidades, o padre Hermínio Rico salienta que é preciso distinguir entre o “sentimento da população” e a maneira como é reportado pela comunicação social.

O sacerdote pensa que jornalistas e comentadores “exageraram” a expressão popular: “havia alguma frustração numa boa parte dos media pelo clima de paz social, estabilidade e, até, uma certa resignação” dos portugueses, que contrastava com o “excitamento” dos jornalistas nas manifestações em Espanha e Grécia.

Referindo-se às medidas de austeridade anunciadas pelo Governo, o docente realça que é importante questionar o seu “fim”, ou seja, se são “inevitáveis”, e não fruto de posições ideológicas, bem como se contribuem para criar “condições para o desenvolvimento do país”.

Esta verificação “responde a posições demagógicas, populistas e absolutamente irresponsáveis que aproveitaram o desagrado com uma medida concreta [aumento da Taxa Social Única para os trabalhadores] para dizer que já chega de austeridade”, frisa.

Se o “fim” da austeridade for considerado “benéfico e necessário”, deverão ser discutidos os “meios” de aplicação, o que implica “a apresentação de alternativas” às que estão a ser seguidas pelo Executivo, observa.

“Nem só o Governo pode dizer que há apenas uma solução possível – isso é a arrogância e a prepotência igualmente demagógicas – nem do outro lado se pode rejeitar totalmente a austeridade sem ter em conta as consequências dessa opção no futuro do país”, sublinha.

O padre Hermínio Rico acredita que “muito provavelmente este Governo vai perder as eleições, e o mesmo aconteceria a outro que estivesse agora no poder”, mas acentua que “o exemplo de pôr o bem comum e o serviço do país acima dos interesses pessoais tem de vir de cima”.

RJM

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