Proteção de Menores: Jesuítas portugueses identificam casos de abusos cometidos entre 1950 e inícios dos anos 90

Comunicado assume pedido de perdão às vítimas de oito religiosos, já falecidos

Lisboa, 26 set 2022 (Ecclesia) – A Província Portuguesa da Companhia de Jesus (PPCJ) informou hoje, em comunicado, ter apurado “com um grau de probabilidade elevada”, a ocorrência de casos de abuso sexual de menores cometidos por oito jesuítas, todos já falecidos

“Estas situações dizem respeito a ocorrências desde 1950, sendo que o último caso conhecido remonta aos inícios dos anos 90”, precisa a nota, enviada à Agência ECCLESIA e divulgada online.

Os religiosos jesuítas manifestam “enorme dor e sofrimento” perante estes factos e dirigem-se às vítimas, “feridas na sua dignidade e marcadas física, emocional e espiritualmente por estes abusos”.

“A estas pessoas, bem como às suas famílias, pedimos perdão pelos abusos sofridos e por não termos sido capazes, enquanto organização, de as proteger. Conscientes de que só a transparência e a verdade podem trazer luz e esperança ao futuro, reconhecemos ainda que possam existir outras pessoas sofridas, cujas histórias não conhecemos, e a quem também nos dirigimos”, acrescenta a nota.

Os factos foram apurados no âmbito do ‘Serviço de Escuta’ (escutar@jesuitas.pt ou 217 543 085), criado em novembro de 2021 para acolher, escutar e ajudar possíveis vítimas de abuso sexual nas obras da Companhia de Jesus, onde chegaram duas denúncias, bem como através de uma recolha e procura de informação interna, “nomeadamente nos arquivos da PPCJ”.

“A maioria destes abusos ocorreram em ambiente escolar, envolvendo alunos dos colégios da Companhia, tanto em contexto de grupo (sala de aula) como em contacto individual, sendo uns atos relatados como únicos, outros como pontuais e outros mais recorrentes. Quanto às formas de abuso, caracterizam-se na generalidade por toques em zonas íntimas, embora haja registos de formas mais invasivas”, informam os Jesuítas em Portugal.

As vítimas, de ambos os sexos, tinham idades compreendidas entre os 9 e os 16 anos.

A PPCJ destaca que a informação disponível nos arquivos “é muito escassa e pouco objetiva, sendo, por isso, muito difícil, sem relatos concretos das vítimas, perceber com clareza em que circunstâncias se deram os abusos, se foram ou não denunciados, e quais as diligências que foram tomadas em relação aos abusadores e às vítimas”.

Nos casos em que houve denúncias, esclarece a Companhia de Jesus, foram tomadas medidas como “o afastamento do suspeito ou o seu isolamento em casa religiosa com proibição do exercício de atividade apostólica, bem como a escuta das vítimas”.

Infelizmente, não podemos assegurar que tenham sempre sido tomadas todas as medidas que hoje consideramos adequadas, nomeadamente no que diz respeito ao cuidado e proteção das vítimas”.

Os Jesuítas sublinham que a investigação interna se insere no “esforço e empenho” da Igreja Católica em geral, da Conferência Episcopal Portuguesa em particular, “para erradicar o abuso sexual presente em variadíssimas áreas da sociedade, de modo a que possa ser prevenido, denunciado e, na medida em que seja possível, reparado”.

A PPCJ entregou a informação recolhida ao Grupo de Investigação Histórica (GIH) da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica.

“Sublinhamos, com veemência, que o modo de proceder que nos inspira e conduz é o empenho absoluto em promover a prevenção e a proteção dos mais vulneráveis bem como a formação de todos os que estão ao serviço das nossas organizações. Para isso temos em funcionamento, desde 2017, o Serviço de Proteção e Cuidado, presente em todas as organizações da Companhia de Jesus e do qual faz parte o Serviço de Escuta”, conclui o comunicado.

OC

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