Proteção de Menores: Compensações financeiras às vítimas de abuso são um «passo significativo na História da Igreja no sentido da reparação»

Presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas afirma que é necessário definir «linhas comuns de atuação» em toda a sociedade

Foto Renascença

Lisboa, 14 abr 2024 (Ecclesia) – A presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas para a Proteção de Menores afirmou que toda a sociedade precisa de definir “linhas comuns de atuação” contra os abusos sexuais e valoriza a decisão das compensações financeiras.

“Considero que se deu um passo significativo na História da Igreja no sentido da reparação, que não é total, como é óbvio, porque as dores estão muito enraizadas, os danos causados em muitas situações são avultadíssimos. Mas sim, deu-se um passo gigante no reconhecimento deste flagelo”, afirmou Carla Rodrigues.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou, na última semana, a criação de um fundo para “compensações financeiras” para as vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica.

“A Assembleia aprovou, de forma unânime, a atribuição de compensações financeiras, com caráter supletivo, a vítimas de abusos sexuais contra crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal”, indica a nota conclusiva da 209ª Assembleia Plenária do episcopado, que terminou na última quinta-feira, em Fátima.

Em entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, a presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas para a Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis considera que a decisão da CEP constitui um “passo gigante” no que toca “à reparação das vítimas de abusos sexuais”.

Carla Rodrigues, que coordena também a Comissão Diocesana de Proteção de menores de Braga, considera que a decisão de constituir comissão de avaliação para determinar os montantes das compensações a atribuir, mediante os pedidos que cheguem às Comissões Diocesanas ou ao Grupo Vita entre junho e dezembro de 2024, é “o melhor método” e garante a “total independência”.

A presidente da Equipa de Coordenação Nacional acrescentou que, caso cheguem denúncias às comissões diocesanas ou ao Grupo Vita depois de dezembro de 2024, serão averiguadas mais tarde.

Carla Rodrigues disse que é necessário apostar na divulgação do trabalho das Comissões Diocesanas, referindo que não considera que “seja relevante onde é que a vítima se dirige”, se às comissões se ao Grupo Vita, afirmando que “o que importa é que a vítima sinta a confiança” para apresentar a denúncia, cujos números serão divulgados  “dentro de pouquíssimo tempo”.

“A Equipa de Coordenação Nacional irá dentro de pouquíssimo tempo divulgar os números que tem referente a vários períodos, desde 2019, altura em que surgiram as primeiras comissões, até à Comissão Independente, depois da Comissão Independente e depois o período pós Grupo Vita”, adiantou.

Carla Rodrigues garantiu que existe uma articulação a “funcionar bem” entre a Equipa de Coordenação Nacional e o Grupo Vita, duas estruturas que têm o foco na “proteção da vítima”, indicando que toda a sociedade deveria virar a “página da história” no que diz respeito aos abusos sobre menores.

“Esta ação da Igreja, que põe a descoberto muitos danos, obriga a este debate e eu acredito que isto não demore, porque impõe-se; impõe-se a sociedade reagir, impõe-se a sociedade a deixar de apontar o dedo e considerar que todos os outros setores estão acima de uma suspeita. Não estão! E a prevenção passa por aqui: a prevenção passa por não apontar o dedo, passa por ter cuidado, instruir, aconselhar, educar”.

“É preciso formação, é preciso formação a nível da Igreja, mas também é preciso ações de formação destinadas à prevenção, a nível da escola, a nível das famílias. É preciso que haja aqui linhas comuns de atuação”, afirmou.

A presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas para a Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis defende que o passo dado por toda a sociedade para combater os abusos sobre menores “ainda é muito pequeno. Ainda é muito pequeno”, e alerta para o risco do crime acontecer “na própria casa”.

Henrique Cunha (Renascença) e Paulo Rocha (Ecclesia)

PR

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