Precariedade laboral acentua exclusão social

Trabalhadores cristãos da Europa lamentam aumento da pobreza entre quem está empregado

Trabalhadores cristãos de toda a Europa lançaram em Guimarães um alerta para o impacto da precariedade laboral com a exclusão social, assinalando que “ter um emprego já não é garantia de ausência de pobreza, dados os salários irrisórios e precários de muitos trabalhadores”, em contraste com “os ordenados e prémios chorudos e vergonhosos de directores gerais e administradores de grandes empresas”.

A cidade portuguesa acolheu, entre os dias 28 e 31 de Janeiro de 2010, o seminário europeu “Pobre apesar do Trabalho”, promovido pela LOC/MTC (Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos), contou com representantes de Movimentos congéneres de Espanha (HOAC), França (ACO), Alemanha (KAB) e República Checa (KAP), da Pastoral Operária e da Base Fut.

“A fronteira entre a precariedade laboral e a exclusão social tornou-se muito ténue, parecendo, em muitos casos a mesma coisa, quando não é ainda mais exclusão do que precariedade”, indicam as organizações católicas, frisando que “existem países europeus onde os trabalhadores têm salários tão baixos que necessitam ainda de um subsídio suplementar do Estado para poderem sobreviver”.

Nas conclusões do encontro, enviadas à Agência ECCLESIA, os participantes assinalam que “na sociedade tenta passar-se a imagem de que os trabalhadores são os principais responsáveis do não progresso das empresas, quando na verdade são aqueles que criam riqueza”.

Com esse argumento, indicam, “os detentores do poder económico encontram uma forte justificação para não reconhecer os direitos dos mesmos trabalhadores”.

Os participantes neste Seminário reafirmaram que “o trabalho não pode ser visto como um privilégio, mas como um direito”.

“Vivemos numa Europa cada vez mais precária, onde tudo se volta contra os direitos dos trabalhadores: salários baixos, idade da reforma prolongada, aumento assustador do desemprego, legislação laboral prejudicial e o prolongamento dos tempos de trabalho não remunerados”, afirmam a LOC/MTC e as suas congéneres.

O documento conclusivo sublinha que “a riqueza produzida não tem revertido a favor dos mais pobres”, salientando “o progressivo aumento dos postos de trabalho mal remunerados”.

“Com a falta de rendimentos compatíveis com uma vida familiar condigna, esta situação leva à sua desestruturação, atingindo consequências de difícil solução, como o endividamento e a perda de habitação”, alertam as organizações católicas de trabalhadores.

“Não dar possibilidade ao trabalhador de poder escolher o seu trabalho, obrigá-lo a deslocar-se dentro e fora do país, a ter mais que um trabalho para completar o salário que não chega para viver, a ficar ausente da sua família por largas temporadas, a aceitar tudo o que lhe é imposto com medo de perder o trabalho tornou-se numa perversão permanente do ser humano”, declaram ainda.

Para atingir o objectivo de acabar com a pobreza daqueles que trabalham ou estão desempregados, segundo estas organizações torna-se necessário introduzir um novo conceito de trabalho e investir na “Inovação Social”.

“Não são os salários baixos que resolvem o problema do desemprego e da pobreza. Só com uma política de justas remunerações se impedirá de o trabalhador continuar a viver na pobreza”, defendem.

Neste seminário, foi indicado que 41% dos portugueses enfrenta sérios riscos de cair na pobreza e quase metade das famílias já viveu ou vive abaixo do limiar da pobreza, realidade a que já nem escapa quem tem trabalho.

“Ao contrário do que acontecia até há algum tempo atrás, ter um emprego já não é garantia de que não se entra na pobreza. Pelo contrário, são cada vez mais os trabalhadores portugueses que enfrentam riscos elevados de serem apanhados pela pobreza que afecta 18 por cento da totalidade da população portuguesa”, afirmou Glória Cardoso.

Para o vice-coordenador da LOC/MTC, José Domingues Rodrigues, o tema escolhido “tem a ver com toda esta precariedade, com todo este desemprego e com o problema global da pobreza”.

“A vida das pessoas é cada vez mais complicada e mais difícil porque as economias não têm sido capazes de responder à insegurança no trabalho, aos ordenados baixos e à falta de condições”, constatou o dirigente, em declarações à Agência ECCLESIA.

O responsável espera que as parcerias estabelecidas com organizações de trabalhadores cristãos de outros países contribuam para “pressionar as instituições da União Europeia, com vista à resolução das dificuldades”.

O Arcebispo Primaz de Braga exortou, ontem, na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, em Guimarães, os cristãos a agir sobre a pobreza e a não adoptar uma atitude de espectadores perante um problema que atinge a raiz da dignidade humana.

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