Jorge Líbano Monteiro, ACEGE
Portugal vive tempos conturbados fruto da crise internacional mas, também de demasiados anos, em que demasiadas pessoas se esqueceram das suas responsabilidades e valores básicos e colocaram os interesses pessoais e partidários acima dos interesses das empresas, das instituições e do país.
Foram demasiados anos onde o Estado tudo pôde e tudo encobriu. Uma situação que levou o país a organizar-se em torno dele, levando muitos “aprendizes” de empresários a fugiram do risco empresarial optando pelos favores e pelo esbanjamento de milhões de euros. Foram consecutivos orçamentos de estado e fundos de coesão gastos em programas e iniciativas que não fizeram face aos verdadeiros problemas estruturais nacionais, mas que ajudaram a forjar a ilusão de crescimento.
No meio de tanta mentira e corrupção, criou-se a ideia que os valores, a competência, a ética e a honra eram coisas do passado e não necessárias para a condução dos negócios privados e públicos, fazendo crer que a ética era apenas a lei, e a consciência a decisão dos tribunais.
Criou-se, igualmente, a ideia que o enriquecimento pelo esforço do trabalho quotidiano era outra ideia que estava ultrapassado perante os esquemas, favores e oportunidades “ao dispor” dos mais poderosos e dos múltiplos subsídios e rendimentos de inserção “ao dispor” dos mais pobres.
No fundo, a economia e os líderes empresariais inebriados pelo desenvolvimento contínuo e pelos resultados financeiros, afastaram-se das dificuldades da economia real, do homem e de si próprios e acabaram por entrar numa espiral de contradições, dúvidas e de sentido para a existência que os enfraqueceu e enfraqueceu a economia e as empresas.
Percebemos agora, todos os portugueses, da forma mais dramática e violenta que podíamos imaginar que afinal tudo isso era importante e que os valores, a ética e a competência continuam a ser os fundamentos mais seguros de qualquer liderança que tem por objectivo o verdadeiro crescimento de uma organização ou de um país.
Perante esta situação dramática em que nos encontramos, e perante o colapso do estado social, as empresas e os líderes empresariais têm um papel ainda mais relevante para o futuro do País. Na verdade, uma das chaves da questão social em Portugal passa definitivamente pela capacidade e acção dos líderes, empresariais e de organizações. Pela coragem de assumiram um papel de firmeza e generosidade na defesa dos seus colaboradores nos próximos anos. Pela capacidade de promoverem consensos alargados dentro das empresas, congregando todos os intervenientes para objectivos comuns e estratégias bem delineadas. Pela procura de voltarem a investir, e encontrar novos produtos e mercados. Pela capacidade de fazerem tudo isto sem estar ligado ao Estado e sem deixarem os valores e a ética que promove o futuro das empresas.
Um desafio de enorme dificuldade que implicará de cada líder empresarial a noção exacta de que com a sua acção, está a ser co-criador do mundo com Deus, que está numa missão de serviço àqueles que consigo colaboram e são intervenientes na vida da empresa.
A ACEGE, atenta a este imenso desafio dos líderes empresariais neste momento da vida do país, está a desenvolver um conjunto de iniciativas de apoio, abertas a todos, que procuram:
– Fomentar comunidades de referência que promovam a reflexão e ofereçam o entusiasmo e a confiança necessária para a acção. Ao longo do ano, os 15 núcleos nacionais da ACEGE vão debater o tema “Portugal tem futuro! a missão dos líderes empresariais cristãos” procurando caminhos e estratégias para o nosso futuro colectivo e para a forma específica dos cristãos actuarem nas empresas;
– Promover acções que abram caminhos concretos de melhoria na vida empresarial. Por exemplo, o Programa de pagamentos pontuais a fornecedores que procura combater essa “chaga” cultural na economia portuguesa e que provoca gravíssimos problemas à vida das empresas, especialmente as PME. Um problema que vai ser lançado em conjunto com as organizações patronais nacionais;
– Apoiar a empregabilidade em novas empresas de desempregados de longa duração, com mais de 40 anos e capacidade empreendedora, através do fundo de capital de risco Bem Comum.
Um conjunto de acções que esperamos possam ajudar a transformar e consolidar as opções éticas dos líderes empresariais e, desta forma, ajudem a transformar e consolidar essas mesmas opções nas suas empresas e na sociedade.
Jorge Líbano Monteiro, ACEGE