«O mundo globalizou-se, mas o sentido de uma só família humana, o sentido da fraternidade não» – Rita Veiga
Lisboa, 28 set 2022 (Ecclesia) – A Rede ‘Cuidar da Casa Comum’ está a assinalara em Portugal o ‘Tempo da Criação’, celebração ecuménica anual, uma oportunidade para “pensar bem” na ecologia integral, o cuidado com a criação e com as pessoas.
“É cada vez mais oportuno que tenhamos um tempo alargado para pensarmos bem nesta questão do cuidado que temos que ter com a criação, sendo visto por nós como um dom que nos foi entregue e depende do nosso cuidado”, disse hoje Rita Veiga à Agência ECCLESIA.
‘Escutar a voz da criação’ é o lema para 2022 deste tempo especial, que se realiza de 1 de setembro a 4 de outubro, e a entrevistada, membro da comissão executiva da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’, afirma que há “uma série de vozes” que importa ouvir.
A responsável falou de “fenómenos intensíssimos climáticos” que mostram que há um desequilíbrio, como a perda da biodiversidade que se está a tornar “muito preocupante”, e das “pessoas que são vítimas”.
Os mais pobres, os mais frágeis, os mais vulneráveis e sofredores são aqueles que continuam a ser vítimas. É sobre eles que as coisas recaem com efeitos mais devastadores, e, normalmente, são os que menos têm culpas no cartório. Depois choca as desigualdades que crescem, poucos vão-se apoderando ou dispondo de forma abusiva de recursos que estão a fazer falta para outros terem as condições de vida a que têm direito, as condições de vida que no mínimo correspondam à sua dignidade humana”.
Neste contexto, Rita Veiga alerta que sustentabilidade “para uns é ter receita”, enquanto para a Rede é a preocupação de se poder “continuar a ter uma casa comum que abrigue a todos, todos têm lugar, e os seus direitos são respeitos”.
“Para nós ‘ouvir a voz da criação’ é ouvir também a voz das camadas sociais que têm sido vítimas e também o foram da pandemia e que ainda não conseguiram pôr a cabeça fora da água. Agora, anuncia-se uma crise económica que abrange o mundo em geral e estamos a ver que quem vai ter mais dificuldades são sempre os mesmos”, acrescentou.
Para a entrevistada é necessário prevalecer “o sentido da fraternidade” e a Rede ‘Cuidar da Casa Comum’ “quer gritar aos quatro ventos”; a palavra de ordem ‘as pessoas primeiro’, que se dizia há 20 ou 30 anos, “está a precisar de se fazer ecoar”.
O mundo globalizou-se mas o sentido de uma só família humana, o sentido da fraternidade não, e agora até está a dar passos atrás, primeiro pela pandemia e agora pela crise económica”.
Segundo Rita Veiga, é necessário “chamar a atenção das pessoas para ação concreta”, e, como diz o Papa Francisco, é preciso “alterar os estilos de vida, ter outra relação com as coisas e com as pessoas”, desenvolver a noção de sobriedade, de combater o consumismo, “e isso são ações que estão ao alcance de toda a gente”.
A Rede, que reúne instituições, organizações, obras, movimentos da Igreja Católica e de outras Igrejas Cristãs, e pessoas a título individual, ‘está a partilhar no seu sítio online sugestões de gestos e comportamentos acessíveis para cada um “cuidar da casa comum”, com a colaboração de Francisco Ferreira e da Associação ambientalista ‘Zero’.
“Há, um sem-número de pequenos gestos que se nos habitarmos a praticar e formos muitos a fazê-lo, eles fazem diferença e são importantes. Queremos que as pessoas começassem a perceber que podem ser agentes da mudança em pequenos gestos e depois podemo-nos unir em coisas maiores”, aponta.
O Movimento mundial ‘Laudato Si’ vai lançar o documentário ‘A Carta’ (The Letter), que conta a “história da encíclica Laudato Si’, detalha a emergência ecológica” e onde o “Papa Francisco é a estrela do filme”, na Cidade do Vaticano, a 4 de outubro.
Aprofundar e difundir a encíclica ‘Laudato si’ – Sobre o cuidado da casa comum’ é um dos objetivos da Rede ecuménica, e Rita Veiga afirma que este documento do Papa argentino, de 2015, “tem que ser realçado todos os anos”, continua a ter uma “atualidade que deve fazer pensar”, para além de Francisco ser “uma figura muito carismática” e a forma como “os jovens aderem e se entusiasmam com ele é muito significativa”.
A Rede ‘Cuidar da Casa Comum’ vai realizar o seu encontro anual ‘Também somos Terra!’, este sábado, na Casa de São Francisco, em Coimbra, e, no dia seguinte, uma vigília ecuménica do ‘Tempo da Criação’, na Catedral São Paulo, da Igreja Lusitana, em Lisboa.
Rita Veiga adiantou ainda que a organização se registou como Associação Civil Sem Fins Lucrativos, com o nome ‘Associação R3C – Rede Cuidar da Casa Comum’, um tema que vai ser comentado também no encontro nacional.
O ‘Tempo da Criação’ é uma celebração anual ecuménica de oração e ação pela Casa Comum, que se realiza entre 1 de setembro e 4 de outubro, festa litúrgica de São Francisco de Assis.
O Papa Francisco instituiu-o na Igreja Católica, em 2015, e já tinha sido proclamada para os Ortodoxos pelo patriarca ecuménico Demétrio, em 1989.
CB/OC
Portugal: Rede «Cuidar da Casa Comum» promove encontro nacional e vigília ecuménica