Rita Valadas destaca importância da «interdependência e intersetorialidade», porque ninguém consegue resolver o problema sozinho, «nem o Estado, nem as instituições»
Lisboa, 29 fev 2024 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas Portuguesa lamentou a falta de abordagem aos temas da pobreza nos debates partidários, com os candidatos às eleições legislativas do próximo dia 10 de março.
“Infelizmente temos visto pouco [a presença da pobreza nos debates], mas é um tema que devia ser bandeira de todos. Eu acho que sobre a luta contra a pobreza, ou a erradicação da pobreza em Portugal, não há partidos, não pode haver partido senão a pessoa. Quando nós não formos capazes de resolver este problema, vamos a outras coisas que são claramente menos prioritárias”, afirmou Rita Valadas, em declarações à Agência ECCLESIA.
A responsável considera que o diálogo entre partidos “vai existindo”, no entanto falta “interdependência efetiva”, “que leve todos com o mesmo foco a encontrar caminhos, que podem ser muitos e são certamente muitos” e que, para isso, é preciso não uma mesa, uma vez que “não é numa mesa que se faz, é mesmo no território com as pessoas”.
Rita Valadas destaca a “proximidade” e “a interdependência” como palavras-chave que precisam de ser incluídas no combate à pobreza, que se tem “complexificado e nos últimos anos ainda mais com a quantidade de crises”.
“O que significa que os olhares sobre a pobreza têm que ser somados, tem que haver interdependência e intersetorialidade, porque ninguém consegue resolver o problema da pobreza sozinho, nem o Estado, nem as instituições”, apontou.
Segundo a presidente da Cáritas Portuguesa, as respostas a este problema podem “até ser profundas, podem estar desajustadas” e, nesse sentido, “tem que haver humildade para olhar para as medidas políticas que existem” para perceber o que é que de cada uma delas “melhor serve as pessoas”.
“E depois tentar utilizar os recursos, somando os recursos dos vários setores, de forma a fazer mais e a chegar mais perto e a corrigir esta reprodução do ciclo de pobreza que é terrível e que nós não temos conseguido fazer”, indica.
Sobre o estudo da organização católica, lançado esta semana, que aborda a pobreza e exclusão social no país, que identificou 500 mil pessoas que vivem em “privação material e social severa”, Rita Valadas avança que a Cáritas tem como compromisso fazer desta uma “realidade anual”.
“O Observatório Cáritas vai continuar a acompanhar isto e outras questões ligadas com a pobreza, como a habitação, a infância, os cuidados de longa duração, todas estas questões estão em cima da mesa e o que nós queremos é encontrar ferramentas que possam facilitar o encontrar soluções”, assegura a responsável.
Rita Valadas diz que a organização estará disponível “para acompanhar a realidade” e o governo e instituições que precisarem de ajuda.
A responsável foi entrevistada pelo Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2, em conjunto com Márcia Carvalho, do departamento de comunicação e angariação de fundos da instituição católica.
A Semana Nacional Cáritas, que se iniciou a 25 de fevereiro e decorre até 3 de março, com o tema “Amor que Transforma”, inclui atividades de reflexão sobre a ação social, atividades de animação pastoral e iniciativas de angariação de fundos. “O que nós procuramos fazer em todo o país, através de todas as Cáritas diocesanas, é dar visibilidade àquilo que é o nosso trabalho, e por isso vão-se multiplicando iniciativas abertas ao público, desde as conferências, ações de partilha, de oração, há toda uma panóplia de atividades que se vão replicando por todo o país”, explica Márcia Carvalho. “Esta é uma semana muito importante de visibilidade e de abertura daquilo que é o nosso trabalho para fora, mas também é uma semana importante de visibilidade daquilo que é a atuação de cada um de nós, como voluntários, como colaboradores, de reforçar também e de agradecer o trabalho que cada um faz”, desenvolveu. Este ano a iniciativa da Cáritas Portuguesa procurou dar um rosto ao problema da pobreza. “[A pessoa] está no centro daquilo que nós fazemos da nossa ação como Cáritas”, explica a responsável, que acrescenta que a mensagem que a organização pretende transmitir é que “o donativo não vai para a estrutura, vai para as pessoas que precisam e que todos os dias contam com a ajudam da Cáritas”. A entrevistada salienta que o contacto próximo “é uma das características mais identitárias da Cáritas”: “Nós estamos na paróquia, da mesma forma que estamos no distrito, ou que estamos numa estrutura mais nacional”. |
A Cáritas em Portugal está presente nas 20 dioceses do País, unidas na Cáritas Portuguesa, e em grupos locais que atuam em proximidade, nas paróquias e comunidades.
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