Portugal/Igreja: Padre Abel Varzim, 50 anos depois

Sacerdote é recordado como exemplo na aplicação da Doutrina Social da Igreja

Lisboa, 18 jul 2014 (Ecclesia) – O padre Abel Varzim (1902-1964), falecido há 50 anos, é recordado na mais recente edição do Semanário ECCLESIA como um exemplo da aplicação da Doutrina Social da Igreja, em tempos difíceis na vida da sociedade portuguesa.

António Soares, vice-presidente de Direção do Fórum Abel Varzim – Desenvolvimento e solidariedade, destaca que a família do sacerdote era “ativa e com preocupações sociais”, por isso, considera “natural” que a decisão de entrar para o seminário “tenha sido forjada numa preocupação de servir os outros e contribuir para que a transformação do mundo”.

“Transformar” acabou por ser o lema de vida e ação do padre Abel Varzim e foi no Alentejo, em Serpa, entre 1925-1930, que começou a perceber que “a realidade económica e social envolvente precisava de profundas mudanças”, escreve António Soares.

Depois, emigrou para Lovaina, na Bélgica, entre 1930-1934, e através do estudo, da reflexão e dos contatos que estabelece sobre Doutrina Social da Igreja (DSI), vão-se “cimentando” no pensamento do padre Abel Varzim “a necessidade de se proceder a profundas alterações no sistema económico vigente e no mundo laboral”.

Nesse sentido, o sacerdote quando regressou a Portugal, envolve-se na criação do Liga Operária Católica, no Instituto Social, na criação da Rádio Renascença e “até aceita ser Deputado à Assembleia Nacional”, assinala António Soares do Forum Abel Varzim.

Nuno Estêvão Ferreira, do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), escreve sobre a realidade lisboeta dos anos de 1934 e 1957 e explica a ação do padre Abel Varzim, “desenvolvida sobretudo na área social com recurso a diferentes instrumentos”, como na imprensa, onde “não excluirá a ação política formal”, no ensino, “nomeadamente na Escola de Serviço Social”, e na Paróquia da Encarnação, no Chiado.

Nuno Estêvão Ferreira destaca também a responsabilidade do sacerdote na “organização do operariado católico”, na Liga Operária Católica, e em “múltiplas” iniciativas na organização coletiva dos trabalhadores, como o lançamento do jornal «O Trabalhador», onde “apela à sindicalização dos operários, como condição de êxito na reivindicação de direitos e de garantias no trabalho (01-04-1937)”.

“Homem do seu tempo, Abel Varzim seria um dos cultores da doutrina social da Igreja, do ponto de vista teórico e na atuação no terreno”, acrescenta o historiador no CEHR.

Juan Ambrósio relembra por sua vez o tempo na Paróquia da Encarnação, no Chiado, em Lisboa, quando o sacerdote “dialogou com as prostitutas” que nos anos 50 do século passado, “povoavam as ruas do Bairro Alto” numa interpelação e desafio a “abandonarem a vida que levavam” e na tentativa de “preservar a integridade” do seu rebanho.

Para o professor de Teologia na Universidade Católica Portuguesa, a “atenção ao projeto de Deus e à realidade que o envolvia” levaram o padre Abel Varzim por outro caminho e “sem deixar de combater a prostituição”, o pároco no Chiado “não deixou”, também, de “acolher as prostitutas, ajudando-as, em tudo o que lhe foi possível, a construir outro destino”.

“Na leitura crente da realidade”, desenvolve o docente, o padre Abel Varzim percebeu “as interpelações que lhe estavam a ser feitas a partir daquelas periferias humanas, daqueles últimos(as)”.

O cinquentenário da morte do sacerdote português vai estar em destaque na próxima edição do programa «70×7», este domingo (RTP2, 11h30).

CB/OC

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