Portugal: Diretora da Obra Católica de Migrações assume preocupação com situação de trabalhadores imigrantes

Eugénia Quaresma considera que «pandemia trouxe a urgência» para agir, em rede

Foto: Lusa

Seixal, 07 mai 2021 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações (OCPM) assumiu hoje, em entrevista à Agência ECCLESIA, a preocupação com a situação dos trabalhadores migrantes em Odemira e em Torres Vedras, convidando a trabalhar “em rede” para encontrar soluções.

“Apesar de ouvirmos alguns dos nossos responsáveis que estão muito preocupados com a saúde pública, mas esta questão da habitação e da exploração também são urgentes para a Igreja. Com estes holofotes é uma oportunidade para não fecharmos mais os olhos e para pensarmos de uma forma concertada sobre esta realidade”, referiu Eugénia Quaresma.

A responsável sublinha que a habitação “é um problema em Portugal”, por isso, é preciso agir sobre esta realidade e “a pandemia trouxe a urgência”.

“Conseguimos encontrar registo, testemunhos e alertas no passado para esta questão da exploração e da sobrelotação em habitação. Olhamos para as realidades com uma preocupação que não é de hoje”, acrescentou.

Esta semana, no concelho de Torres Vedras, foi descoberto um surto de Covid-19 com 29 infetados, principalmente entre trabalhadores agrícolas, na sua maioria estrangeiros, que obrigou ao realojamento de 21 pessoas, que estão no Centro Diocesano do Turcifal, do Patriarcado de Lisboa.

No distrito de Beja, as freguesias de São Teotónio e de Almograve, do concelho de Odemira, continuam em cerca sanitária por causa da elevada incidência de casos de Covid-19, sobretudo em trabalhadores do setor agrícola, que vivem em habitações sobrelotadas.

Eugénia Quaresma assinala que, no Turcifal estão a responder “como seria esperado na Igreja”, abrindo uma estrutura para “uma necessidade de acolhimento”, e acrescenta que nos casos em que não há condições físicas de acolhimento existe “um trabalho de rede e de estudo”.

“Esta situação toda também veio levantar o véu para a exploração a nível laboral que, infelizmente, não é só na região de Beja, mas pode verificar-se noutras zonas do país”, observou.

A responsável católica explica, a partir das reuniões da CAVITP – Comissão de Apoio à Vítima de Tráfico de Pessoas -, que a exploração laboral “é uma preocupação”, admitindo ser “difícil este trabalho de denúncia, combater o medo”.

“É preciso pegar nas orientações pastorais sobre o tráfico de pessoas e trabalhar junto das nossas comunidades. O que é o nosso dever, o que está ao nosso alcance fazer, não só no papel da denúncia, mas também no papel do acolhimento, da proteção, e no papel da formação, a exigência educativa, cuidarmos para não sermos nós os exploradores, cúmplices da situação”, desenvolveu a diretora da OCPM.

Neste contexto, a responsável sublinha que estão a “repensar” a forma de comunicar as orientações pastorais sobre este tema, na Igreja Católica, para que possam chegar a todos.

“A exploração tem que ser tratado de forma transversal, em rede, instituições da igreja, da sociedade civil, instituições do estado, as forças de segurança, muito transversal, não é só para uma instituição”, realçou.

Eugénia Quaresma recorda os “alertas” deixados há mais de uma década pelo agora bispo emérito de Beja, D. António Vitalino, que foi presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, e o trabalho da Cáritas Diocesana de Beja, em conjunto com o SEF, numa região “muito extensa”.

CB/OC

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