Portugal: Direção-Geral dos Serviços Prisionais conta com a Igreja Católica para «tocar» mais áreas na recuperação dos reclusos

Celso Manata adiantou à Agência ECCLESIA o que está em estudo com a Cáritas 

Fátima, 14 fev 2018 (Ecclesia) – O diretor-geral dos Serviços Prisionais destacou em Fátima a importância da missão desempenhada pela Igreja Católica, e por outras instituições sociais a título voluntário, para a reabilitação dos reclusos.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, durante o XIII Encontro Nacional da Pastoral Penitenciária, Celso Manata enalteceu o trabalho que atualmente é realizado por milhares de visitadores voluntários, “muitos deles ligados à Igreja”, e que permite, em primeiro lugar, ajudar as pessoas a lidarem com a sua pena de forma menos “angustiada”, não tanto como “uma incógnita na sua vida”.

“Dar uma palavra a alguém que está em baixo, que está deprimida porque acabou de ser presa e não sabe o que é que lhe vai acontecer, isso é muito importante”, salienta aquele responsável.

A Direção-Geral dos Serviços Prisionais estabeleceu recentemente um protocolo com a Cáritas Portuguesa no sentido de “criar sinergias” e “organizar melhor o trabalho que está a ser feito”.

No âmbito deste acordo, há aspetos que a DGSP pretende “reforçar significativamente” em ordem à reabilitação social dos presos.

Um deles diz respeito ao “ensino” e “sobretudo ao ensino universitário”, que de acordo com Celso Manata “já existe em muitos lados e em várias modalidades”, em regime de “frequência pessoal” ou à distância, através de “um protocolo com a Universidade Aberta”.

“Mas queremos fazer mais, e achamos que a Cáritas é um excelente companheiro de percurso para, através dela, obtermos a colaboração de mais entidades”, apontou aquele responsável.

No horizonte está a necessidade de “tocar áreas” que por enquanto não estão tão presentes mas que podem também ser essenciais na recuperação dos presos.

Como por exemplo encontrar “instituições que possam acolher reclusos que não têm família” e que por isso “dificilmente” têm acesso a saídas precárias ou mesmo à liberdade condicional.

“Se houvesse entidades, coletividades que nos pudessem ceder alguns espaços para esses indivíduos passarem as suas saídas precárias, quebrava-se aqui um ciclo vicioso e se calhar poderíamos dar uma esperança de vida diferente a um conjunto de indivíduos que neste momento estão privados da liberdade, mas que nós já verificámos que merecem ter uma segunda oportunidade”, afirmou Celso Manata.

Outra ideia que está em cima da mesa é a de, com o apoio da Cáritas Portuguesa, dar a conhecer e potenciar mesmo financeiramente o trabalho que os reclusos fazem nas prisões.

“Temos muitos presos que estão a trabalhar, e que produzem vinho, tapetes, mobiliário, que prestam serviços, estofam sofás, empalham cadeiras, e queremos dar mais visibilidade a esses produtos (…) para que as pessoas compreendam que quem está privado da liberdade não está ali sem fazer nada o dia inteiro, está ali a fazer coisas úteis, que podem proveitosas para a comunidade”, completou Celso Manata.

O diretor-geral dos Serviços Prisionais considerou ainda essencial o papel dos visitadores e voluntários enquanto “testemunhas” dos projetos que se fazem nos estabelecimentos.

“Só para dar um exemplo, estamos a implementar uma alteração ao código penal que passa pelo maior uso da pulseira eletrónica. Isso está a funcionar bem e é bom que estas pessoas divulguem isso, que estamos a diminuir a população prisional através desta medida, de uma forma segura, humana e sustentada”, concluiu Celso Manata.

O XIII ENPP decorreu em Fátima, subordinado ao tema “Voluntariado e prisões: constatações e desafios”.

JCP

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