José Diogo Martins indica que Jornadas de Cuidados Paliativos 2020 vão realizar-se em «data oportuna»
Lisboa, 16 mar 2020 (Ecclesia) – O vice-presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) disse que o tema da eutanásia “mantém-se” em Portugal e que “é complexo” o dos Cuidados Paliativos, no contexto das jornadas que foram adiadas por causa do Covid-19.
“Talvez fosse interessante sublinhar que o que a Igreja tem feito não é mais do que cuidados paliativos, isto é, cuidar daqueles que têm doenças crónicas, em fase avançada da sua doença, e precisam de ser cuidados e amados mais do que todos os outros”, afirmou José Diogo Martins à Agência ECCLESIA.
Em entrevista transmitida este domingo na Antena 1, o vice-presidente da AMCP explicou que o conceito moderno de cuidados paliativos “surge numa idade mais recente, para constitui-se como especialidade médica autónoma” e lembra que quando terminou Curso de Medicina, há 25 anos, nunca tinha ouvido falar dos mesmos.
O médico especialista em cardiologia pediátrica contabiliza que “apenas 30% dos portugueses” têm acesso aos cuidados paliativos e as pessoas fora dos grandes centros urbanos e das grandes cidades “são os que mais vão sofrer” se não existir um investimento neste setor, por que “têm menos posses, vivem sozinhos, não têm família”.
No dia 20 de fevereiro, 222 deputados no Parlamento, dos 230 eleitos, aprovaram os cinco projetos de lei – BE, PS, PAN, PEV e Iniciativa Liberal – que preveem a legalização da eutanásia e que nenhuma ordem profissional ligada à saúde deu um parecer favorável a esses projetos.
“Vemos que os grupos representativos de quem cuida dos que sofrem sabem que a eutanásia não acaba com o sofrimento, acaba com o sofredor”, afirma o vice-presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses.
José Diogo Martins destaca que “efetivamente todas as associações médicas” que conhece em Portugal – Ordem dos Médicos, Conselho Deontológico da Ordem dos Médicos; dos Enfermeiros, dos Psicólogos – bem como associações médicas norte-americanas, inglesas, “todas se pronunciaram contra eutanásia” e a Associação Médica Mundial no final do último trimestre de 2019.
“Como médico não desejo o sofrimento de ninguém, a minha missão é minorar, o que temos de entender é que palavras como compaixão e liberdade são profundamente caras”, observou.
Neste contexto, explica que, muitas vezes, nos anos recentes verifica que o ponto de partida dos defensores da eutanásia “é exatamente o mesmo”, ou seja, “ninguém quer o sofrimento, ver pessoas a sofrer”.
José Diogo Martins alertou que ao longo dos anos, em países como a Holanda e a Bélgica, “a eutanásia alargou rapidamente em número e tipo de pessoas sujeitos a esta forma de terminar a sua vida”, sendo que hoje estão incluídos “doentes com demência, problemas psiquiátricos, doentes cansados de viver, e menores”.
O cardiologia pediátrica destaca que “é tão importante” não perderem “um olhar humano sobre os doentes” refere ainda para a “autonomia absolutamente fajuta” de quem defende a liberdade absoluta e a autonomia neste escolha, porque na Holanda existe o protocolo de Groningen que “permite aos médicos que cuidam de recém-nascidos decidir com os progenitores que aquela vida não vale a pena ser vivida”.
As Jornadas de Cuidados Paliativos 2020 foram adiadas “por motivos de saúde pública e em obediência às sugestões das autoridades”, por causa da pandemia Covid-19.
OC/BC
Igreja/Saúde: Adiamento das Jornadas de Cuidados Paliativos em Portugal