Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social diz que a sedução do dinheiro provocou uma «idolatria»
A “cobiça” tornou-se “politicamente correcta”, denunciou D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, no IX Seminário «Reflexão Estratégica».
“Importa pôr em causa a santidade do mercado como tão drasticamente se evidenciou nesta crise em que estamos afundados”, disse aos participantes desta iniciativa promovida pela «CentroMarca», que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, esta Quarta-feira.
Na lógica mercantil e para justificar a crise actual, o prelado sublinhou que o apelo dominante passava por “ganhar mais para gastar mais”.
A “sedução do dinheiro provocou uma idolatria”, mas só a liberdade ajuda “a tirar-nos deste extermínio que a lógica mercantil provoca”.
A racionalização do uso dos bens, optar pela moderação e pela austeridade foram caminhos apontados por D. Carlos Azevedo para a resolução da crise.
No entanto – reconhece – que a “austeridade não agrada à economia”, mas “é o único modo de corrigir o consumo”.
A produção de “bens desnecessários” é frequente. A sustentabilidade deve “ser garantida a longo prazo e não apenas no imediato” porque “isto também faz parte da responsabilidade social da empresa” – admitiu.
A lógica do dom – “importa valorizar porque ela é própria de uma visão humanista” – não é apenas para colmatar as necessidades imediatas.
“É preciso encontrar nos próprios dinamismos das empresas a responsabilidade pelo Bem Comum” – defendeu o bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
Nesta linha, Fernando Ulrich, presidente do BPI, afirmou aos participantes que as empresas são o principal “criador de emprego e riqueza nas sociedades modernas”. Todavia, estas não se devem demitir das suas responsabilidades sociais.
“As soluções de partilha” são fundamentais para que a crise seja ultrapassada.
Quando as “soluções de partilha deviam ser discutidas”, o presidente do BPI lamenta que a sociedade “só discuta a maximização do lucro imediato”.
Crise
A crise actual tem “quatro agentes que a despoletaram vivamente por acção: gestões financeiras, auditores, empresas de rating e os escritórios de advogados” – denunciou Pedro Rebelo de Sousa, do Instituto Português de «Corporate Governance».
Foram estes agentes “que abusaram das regras do modelo” – disse o orador nesta promovida pela «CentroMarca». E confessa: “é lamentável ao que assistimos – de uma forma perfeitamente branda – em relação a instituições financeiras do nosso país”.
Depois de referir que leu a encíclica «Caridade na Verdade», Pedro Rebelo de Sousa aponta que “é fundamental um novo paradigma”. “Temos de mudar o modelo sócio-comportamental”.
A crise veio alertar os portugueses para as “questões estruturais”. No entanto, reconhece, que a “cumplicidade implica compromisso”.