Política: CEP pede «transparência»

«Seria insuportável» para Portugal se políticos apresentarem «promessas enganadoras e ludibriadoras» da situação do país, diz presidente cessante, D. Jorge Ortiga

Fátima, Santarém, 02 mai 2011 (Ecclesia) – O presidente cessante da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, despediu-se hoje do cargo com um discurso marcado por alusões à política, pobreza, educação, família e renovação da Igreja Católica.

A 177.ª assembleia plenária do órgão colegial, que até quinta-feira reúne em Fátima os bispos de Portugal e para a qual estão previstas 20 eleições, assinala para o arcebispo de Braga o fim de dois mandatos consecutivos de três anos, que de acordo com a legislação canónica obrigam à escolha de novo presidente.

No domínio da política, o prelado sublinhou que as campanhas eleitorais para as legislativas do próximo dia 5 de junho, baseadas na “transparência na apresentação das propostas”, devem ser seguidas de “absoluta honestidade na sua execução”.

“Seria insuportável para o país se enveredássemos pela lógica imediatista e pela apresentação de promessas enganadoras e ludibriadoras da real situação em que nos encontramos”, afirmou em conferência de imprensa realizada esta tarde no santuário localizado 130 km a norte de Lisboa.

Jorge Ortiga, de 67 anos, apelou à “disponibilidade sincera” para a criação de “soluções de consenso alargado (estruturas políticas e forças da sociedade civil), mesmo para além das maiorias parlamentares”.

A participação dos católicos na sociedade foi igualmente focada pelo prelado, que lembrou serem “muitos os domínios da vida pública que precisam da firme intervenção dos cristãos na denúncia de tudo o que coloca em causa o equilíbrio social”.

“Não podemos deixar de fazer um apelo junto das nossas comunidades para que reforcem a sua ajuda e continuem a acompanhar aqueles que experimentam carências de vária ordem”, disse.

O presidente da CEP recordou que “a postura do Estado em relação aos direitos da educação da família é subsidiária”, sustentou que em Portugal “não vigora um regime de verdadeira liberdade de ensino” e ressaltou que no domínio do ensino sexual “é imprescindível” o respeito pelos valores dos agregados familiares.

Referindo-se aos “casos que colocam em causa a ética da vida e da dignidade humana”, o prelado assinalou que “uma legislação avulsa, não precedida de debate e fruto de pressões de grupos minoritários, tem marcado a agenda política”, como é o caso da “‘mudança’ de sexo” ou a “adoção de crianças por casais homossexuais”.

Para Jorge Ortiga, “a equiparação do matrimónio às uniões de pessoas do mesmo sexo, a facilitação do divórcio e a consagração legal da liberalização do aborto” são medidas que “enfraquecem” a “família nuclear” e não contribuem para a mudança das “taxas de natalidade baixíssimas que colocam em causa a estabilidade social, cultural e financeira”.

Os participantes na assembleia, entre os quais se encontram pela primeira vez D. Pio Alves, o mais recente bispo auxiliar do Porto, e o padre Virgílio Antunes, recentemente nomeado prelado de Coimbra, estão perante “a responsabilidade histórica de prosseguir o projeto de repensar a pastoral da Igreja em Portugal”, afirmou ainda o presidente da CEP.

“Não podemos parar este projeto já iniciado”, vincou o prelado, acrescentando que “não bastam reajustamentos eclesiais” e que os católicos devem ser “atores e não espetadores” da História.

No termo dos seis anos de mandato, Jorge Ortiga destacou que Deus foi a sua “força essencial”, mencionou a “generosa colaboração” dos bispos e da “Igreja em Portugal” e agradeceu à comunicação social por ajudar a espalhar “as boas novas”.

RM

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