Peregrinação: Nova «Via Mariana» liga santuários entre o Minho e a Galiza

Percurso envolve 10 etapas num total de 370 quilómetros entre o Sameiro, em Braga, e a Senhora da Barca, em Muxia

Foto: Diário do Minho

Lisboa, 19 mar 2019 (Ecclesia) – A ‘Via Mariana’ entre o Sameiro, em Braga, e a vila de Muxia, na Galiza, Espanha, foi inaugurada como nova rota para os peregrinos, procurando ligar alguns dos principais santuários dedicados à devoção a Nossa Senhora na Península Ibérica.

O presidente da confraria do Santuário do Sameiro, cónego José Paulo Abreu, disse hoje à Agência ECCLESIA que é necessário “recuperar um caminho mariano que é ainda anterior ao caminho jacobeu”, de Santiago de Compostela, e que liga Portugal e Espanha, mais concretamente a antiga Galécia, que abrangia o norte lusitano e a região da atual Galiza.

“Esta Via Mariana são 372 quilómetros que ficam entre estes dois polos: do lado de cá o Santuário do Sameiro e, do lado espanhol, o Santuário da Senhora da Barca, em Muxia”, explica aquele responsável.

A nova rota de peregrinação, que vai incluir mais de uma dezena de templos dedicados à devoção mariana, foi apresentada oficialmente na última semana e já começou a ser percorrida.

A ‘Via Mariana’, que começou a ganhar forma através de uma proposta vinda da Galiza, abrange no território português os concelhos de Braga, Vila Verde, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Melgaço.

Para o presidente da Confraria do Santuário do Sameiro, este projeto representa uma nova oportunidade de “peregrinação”, para cada pessoa viver e fruir a sua espiritualidade, com um “itinerário” próprio.

Mas o trajeto foi pensado também para potenciar outros níveis, como o do contacto com a natureza e o combate à desertificação que marca várias regiões, dos dois lados da fronteira.

“Como é sabido nas nossas regiões aqui para o norte, e na Galécia está a passar-se a mesma coisa, estão a ficar completamente desertificadas, temos muitas aldeias onde só ficaram as pessoas de muita idade, a juventude fugiu para outros sítios à procura de outras oportunidades, e importa reavivar um pouco este deserto verde, sociabilizar as pessoas e manter a dinâmica de relação”, considera o sacerdote.

O projeto também tem aspirações ao nível do património, no sentido de “manter vivo” todo um conjunto de igrejas e outras estruturas religiosas e culturais que podem ser encontradas ao longo do caminho.

“Aqui estamos a falar de duas vertentes: do património edificado, material, mas também há muito património imaterial que nós pensamos que se pode recuperar, e que é feito de canções, de contos, de imaginações, de lendas, de historietas ou de epopeias que se contam e que nós também queremos de alguma forma recuperar”, aponta o cónego José Paulo Abreu.

Para dar suporte a esta nova via de peregrinação, já foi criada a Associação Via Mariana, que conta com elementos provenientes da região do Minho e da Galiza e é presidida pela portuguesa Maria José Silva.

Neste momento, a prioridade é dotar cada um dos santuários presentes no percurso de todas as condições para acolher os peregrinos, não só ao nível da abertura e manutenção dos espaços mas também no plano da informação prestada às pessoas, para que fiquem a conhecer a história que está por detrás de cada devoção mariana.

“A nossa esperança é que o peregrino, compulsando esta informação que lhe é fornecida, possa sentir uma proximidade maior com quem preside a cada santuário, experienciando a fé de cada local e o amor, a afeição que as pessoas têm em cada local por Nossa Senhora. Que isso de alguma forma possa contagiar os peregrinos”, realça o padre José Paulo Abreu.

O responsável salienta que este projeto não é uma proposta meramente “confessional”, mas está aberta a todas as pessoas.

Os promotores desta iniciativa têm a convicção de que esta Via Mariana vai afirmar-se no futuro como um ponto privilegiado de passagem para milhares de peregrinos, e por isso querem apostar também na criação de algumas infraestruturas de apoio, sobretudo espaços onde os peregrinos possam tomar banho e retemperar forças depois da jornada.

Para já, foi posta à disposição dos peregrinos uma aplicação móvel com todas as informações relacionadas com o percurso, para que as pessoas sigam sempre na rota certa, que pode ser feita também de bicicleta ou a cavalo, por exemplo.

“O caminho está todo desbravado e assinalado (a sinalética é composta por uma seta amarela e azul) mas o peregrino ao partir, e ao ser-lhe dada a credencial, vai receber um código para uma aplicação de telemóvel, que funciona mesmo onde não houver rede, que o conduzirá sem qualquer problema desde o ponto de partida até ao destino”, completa o cónego José Paulo Abreu.

A preparação da nova Via Mariana, que ligará santuários do norte de Portugal à Galiza, envolveu dois anos de trabalho e de colaboração intensiva, com o apoio de muitos voluntários que ajudaram a desbravar a nova rota de peregrinação, entre o Sameiro e Muxia.

LS/JCP

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Agência ECCLESIA

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