Peregrinação: Francisco Torres, o octogenário vigilante dos caminhos de Fátima

Aos oito anos foi a pé à Cova da Iria na altura em que um burro era o carro de apoio

Santarém, 09 mai 2017 (Ecclesia) – Francisco Torres é vigilante dos caminhos de Fátima e tem um carimbo com que marca a passagem dos peregrinos pelo seu terreno, que transformou num ponto de apoio, perto de Santarém.

“Tenho vagar, porque já estou reformado. Agora o meu trabalho é estar por aqui quase todo o ano, só se estiver um dia muito de chuva, moro aqui perto”, disse à Agência ECCLESIA.

Aos 80 anos, o vigilante Francisco Torres comenta que foi a Fátima a pé com oito anos e, na altura, o “carro de apoio foi um burro”, que levava alforges “com comida e mantas”.

No ritmo de quem conta as horas do dia e pessoas, espera que os peregrinos passem no seu ponto de apoio, cuja decoração – bandeiras, camisolas e terços, coletes refletores, orações, medalhas e fotografias – testemunha gratidão pela ajuda prestada.

“Foram os peregrinos é tudo obra deles, chegavam e davam-me um santinho. Pendurava no pé da azinheira e um dia pensei que estava mal. Já tinha fotografias de italianas, outras alemãs e comecei a pôr num painel”, recorda, revelando que também tem um email para receber as muitas fotografias que tira.

“Todo o ano aqui passa gente, pode haver um intervalo, de um dia ou dois, mas é muito raro”, acrescenta o octogenário que acolhe e aconselha quem passa, perto de Santarém, num caminho que conduz ao Santuário de Fátima mas também a Santiago de Compostela (Espanha).

O fluxo de portugueses, explica, é em maio e em outubro, ou durante o ano quando há um fim de semana prolongado e “passa meia dúzia deles”, enquanto os estrangeiros que são uma constante todo o ano.

Os peregrinos “não dizem bem” a Francisco Torres porque se metem ao caminho mas sabe que vão pagar promessas, que “prometeram por uma pessoa que tem uma doença”, e recordou um senhor que não perdeu a fé e foi ao santuário mariano pedir pela esposa que tinha um cancro e que “quer que fique boa”.

“Vá, faz muito bem, cada qual procura as suas melhoras”, recorda desse diálogo.

“Sou uma pessoa de fé e muito”, observa, relembrando que no seu tempo o livro da escola primária, da primeira classe, tinha “rezas” e aprendiam.

Sobre os peregrinos e a relações que vai construindo conta que há quem reze por si e “estão sempre na tentativa” que os acompanhe mas já não consegue.

“Vou lá é de carro, ainda há dois anos fui com um filho”, explica, recordando maleitas e dores que o impedem de estar sentado e de pé durante muito tempo.

Francisco Torres tem um carimbo, que mostra com orgulho, com o qual assinala a passagem dos peregrinos e foi-lhe atribuído pela organização dos Caminhos de Fátima.

HM/CB

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