Percursos culturais eucarísticos

O último capítulo do documento “Sugestões e propostas para o Ano da Eucaristia”, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, pretende que “o Ano da Eucaristia seja percebido também como estímulo a descobrir até que ponto a Eucaristia foi capaz, e continua a sê-lo, de incidir fortemente na cultura humana” (n. 40). Eis um âmbito aberto à solicitude e criatividade das Igrejas particulares, verdadeira pedra de toque da “nova evangelização”. Neste capítulo, é de esperar algum protagonismo por parte da Faculdade de Teologia, da Universidade Católica e dos vários Institutos de Estudos Superiores. Não obstante o estilo sumário e extremamente esquemático desta parte do documento, a Congregação sugere que as Faculdades de Teologia “conjuguem o aprofundamento dos fundamentos bíblicos e doutrinais da Eucaristia com o aprofundamento da vivência cristã, especialmente a vivência dos Santos”. Outro itinerário que se pretende percorrer passa pelo património arquitectónico – catedrais, mosteiros, santuários, igrejas… – que devem ser não apenas “bens culturais” estáticos, mas também centros dinâmicos de irradiação cultural. Neste ano será da máxima oportunidade “evidenciar a temática eucarística resultante do património cultural e artístico, reflectir sobre ela e promover o seu conhecimento” por meio de exposições, simpósios e publicações, potenciando também a colaboração entre as várias instituições e entidades interessadas (n. 42). Menção expressa merecem a arte sacra, a literatura e a música com temática eucarística. Quantas iniciativas se poderiam promover nestes âmbitos, proporcionando o melhor conhecimento da nossa tradição e estimulando a produção contemporânea. O Documento da Santa Sé elenca alguns âmbitos temáticos que nos parece oportuno reproduzir (n. 43): “Quanto à arte sacra: – altares, sacrários, capelas – frescos, mosaicos, miniaturas, pinturas, esculturas, tapeçarias, embutidos – vasos sagrados: cálices, píxides, patenas, ostensórios – paramentos: vestes litúrgicas, palas de altar, baldaquinos, estandartes – manufacturas e carros para as procissões eucarísticas – alfaias especiais para a reposição do Santíssimo Sacramento em Quinta-Feira Santa. Para a música sacra: – missas – hinos – sequências – motetes Para a literatura, o teatro, a filmografia: – poesia – contos – romances – representações – filmes – documentários” “Para todos estes âmbitos, as pessoas competentes saberão encontrar facilmente os percursos correctos, e seria um grande êxito do Ano da Eucaristia se as pesquisas realizadas levassem a um maior conhecimento e a uma maior partilha dos tesouros que pertencem à comum herança do cristianismo nos diversos continentes” (n. 44). Na Carta Apostólica “Mane nobiscum Domine”, João Paulo II tem consciência de poderosas orientações culturais que pretendem marginalizar o contributo cristão para a identidade cultural colectiva. E experimentamos o sucesso dessas orientações na nossa Europa com complexos laicistas. Por isso, o Papa exortava: “Não tenhamos medo de falar de Deus e de levar os sinais da fé de cabeça erguida. A “cultura da Eucaristia” promove uma cultura do diálogo, que nela encontra força e alimento. É um engano considerar que a referência pública à fé possa pôr em causa a justa autonomia do Estado e das instituições civis ou que possa até encorajar atitudes de intolerância. Se historicamente não faltaram erros nesta matéria também entre os crentes, como fiz questão de reconhecer por ocasião do Jubileu, isso deve-se não às “raízes cristãs”, mas à incoerência dos cristãos para com as suas raízes” (Mane nobiscum Domine, 26). Que o Ano da Eucaristia seja uma ocasião para promover a “cultura da Eucaristia” e para revitalizar as “raízes cristãs” da nossa cultura. S.D.L., Porto

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