Pastoral Familiar não pode ser alheia ao cenário de crise económica

O Arcebispo de Braga pediu para que a Pastoral da Família não se alheie do cenário de crise económica a que se assiste hoje e «que manifesta sintomas de agravamento». «A situação pode não ser conjuntural mas estrutural, no sentido de se prolongar por mais tempo do que as previsões manifestam», acrescenta D. Jorge Ortiga na mensagem que enviou aos participantes na VII Jornada da Pastoral Familiar, que decorreu no auditório Vita, dia 16, sob o lema “A Família e a Palavra”.
Ausente em Lisboa para participar nas celebrações dos 50 anos do monumento ao Cristo- Rei, D. Jorge Ortiga salienta na sua missiva que as famílias, como Igreja, devem «individualizar os dramas e discernir uma solidariedade de intervenção, particularmente nos casos onde a vergonha encobre lágrimas e desconforto social».
Para o prelado, os cristãos, «esperando políticas que apoiam efectivamente as famílias, não ficam à espera que algo aconteça», porque «são solidários». «Espero, por isso, que a Pastoral Familiar aposte num testemunho de solidariedade para que com todos experimente a realidade “dum só coração e duma só alma”, como acontecia na Igreja primitiva», acrescenta.
Na opinião de D. Jorge Ortiga, a actual crise que afecta o mundo, e particularmente Portugal, não é simplesmente económica ou financeira. No seu entender, é o modelo de sociedade que, esquecendo os valores, acredita na felicidade do fácil e do consumo.
«É este modelo que está a ruir. Os cristãos devem, por isso, apostar na originalidade duma vida verdadeiramente evangélica», salienta. Assim, o Arcebispo de Braga realça a necessidade de colocar a Palavra de Deus no centro das famílias. «Não temos outro caminho. Só a Palavra de Deus, nos momentos concretos e variados, será a luz a indicar os caminhos a seguir», sustenta.
Na sua mensagem, o prelado afirma ainda que as famílias, ouvindo a Palavra que chama e quer resposta, deviam ser uma ressonância desse apelo e não ter medo de chamar os seus filhos para uma vocação sacerdotal ou religiosa.
«A felicidade dos filhos passa ou pode passar por aqui. Vamos, por isso, tornar as famílias comunidades evangelizadas onde o apelo a seguir Jesus acontece, de modo que alguns “deixem tudo” para servir a Igreja», salienta D. Jorge Ortiga.
Passar a Palavra de forma enaltecida
Entretanto, na sessão de abertura da VII Jornada da Pastoral Familiar esteve presente o Bispo Auxiliar de Braga, D. António Couto, que realçou a importância da Palavra na família. Depois de ler dois textos extraídos de dois salmos, o prelado considerou que é extremamente importante que a Palavra de Deus seja contada pelos pais aos filhos de forma enaltecida.
Segundo sustentou, é preciso que a actual geração se levante para contar à geração que vem as maravilhas que Deus está a operar no nosso meio, porque aos filhos não se devem apenas passar as heranças.
Ao Diário do Minho, D. António Couto disse que «é importante nós passarmos com alma, coração e calor, as maravilhas de Deus às novas gerações». «Muitas vezes preocupamo-nos em passar as contas nos bancos, os bens móveis e imóveis, e não passamos aquilo que é a grande sabedoria, a grande realidade, a grande verdade, a grande riqueza, a grande humanidade e a grande divindade», sustentou.
Na opinião de D. António Couto, estamos a viver numa época «muito anestesiada», em que as pessoas são indiferentes e, por isso, já nem sofrem e nem amam. Segundo defende, vivemos num tempo em que apenas conta o que tem comprimento, largura e altura. «As grandes coisas são as que não têm as três dimensões», concluiu.
O responsável pela Pastoral Familiar na Arquidiocese de Braga explicou, por sua vez, a razão da escolha de “A Família e a Palavra” para este encontro. «Desta forma vamos ao encontro daquilo que é o Plano Pastoral da Diocese, que é um triénio centrado na Palavra de Deus. Assim, quisemos, numa unidade pastoral, procurar que a família, como lugar de palavras, tenha no seu seio a grande Palavra de Deus, para que depois as nossas palavras sejam de comunhão e comunicação entre pais e filhos, inter-famílias e inter-comunidades», disse o Pe. Domingos Paulo Oliveira.
Para o sacerdote, é preciso dar tempo à Palavra, que exige silêncio e escuta. Esta jornada de trabalho, que reuniu representantes de vários pontos da diocese, teve como um dos oradores José da Silva Lima, padre e professor da Universidade Católica Portuguesa. O sacerdote falou da família que é formada e habitada pela Palavra de Deus. Uma das mensagens que deixou José da Silva Lima é que a família tem de tornar-se um “passador do Evangelho”. Segundo defendeu, as pessoas devem mergulhar na Palavra, uma vez que a família formada pela Palavra vai-se desenvolvendo no caminho, sublinhando que a Palavra é uma narrativa do amor de Deus para connosco.
A outra intervenção coube à coordenadora do mestrado em Psicologia da Família na Universidade Católica Portuguesa, Fabrízia Raguso, que abordou as estratégias de melhor comunicar em família. A docente deixou aos presentes três desafios, ou seja, como podemos valorizar a nossa comunicação enquanto família, qual o lugar da família na comunicação em relação à sociedade e como melhorar a comunicação entre a família e a Igreja.
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•Mensagem de D. Jorge Ortiga

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