Páscoa sem cruz em flor

Foram dezoito as comunidades emigrantes de língua portuguesa do Grão-ducado do Luxemburgo que celebraram a Páscoa. Do domingo de Ramos à solenidade da Pascoa os missionários – padres, religiosas e leigos – deslocaram-se de uma região a outra, das cidades as aldeias mais dispersas, para que às familias emigrantes não faltasse a Eucaristia, a Reconciliacao, nem as celebrações do triduo pascal em língua materna. Uma semana maior em movimento – em missão pascal – para que as comunidades possam conservar e reforçar a identidade, de modo a que a natural integração social e eclesial aconteça de forma gradual e bem acompanhada. Foi uma alegria ver as comunidades católicas – a portuguesa, a brasileira e a caboverdeana – reunidas para escutar a Escritura, celebrar a Páscoa e crescer na Fé e na Caridade: unidas na mesma língua e única fraternidade. Em algumas vilas e cidades as comunidades lusofonas juntaram-se também as comunidades italiana, francesa e luxemburguesa numa liturgia sinfónica, intercultural e intercomunitária – como dizem – favorecendo assim as paróquias a celebracao das diversidades que as caracterizam e as renovem no tempo e na familiaridade. Será impossível escrever a história da evangelização neste país sem o contributo recente dos emigrantes portugueses: leigos e seus missionários! Também aqui, como noutras latitudes, a emigração è dádiva magnífica para a vida e missao da Igreja! As crianças de origem portuguesa são a maioria que frequenta a catequese nas paróquias; os adolescentes e jovens alimentam os grupos de acólitos nas missas e animam o canto. Há muitos portugueses membros dos conselhos pastorais: sinal de uma igreja que favorece a participação de todos os cristaos presentes no território. Há portugueses empenhados em grupos de estudo da bíblia, de animação litúrgica, de solidariedade, de catequese de adultos e, entre os poucos jovens no seminário, há também filhos de portugueses. Num país, que recebe diariamente cerca de 80 mil trabalhadores transfronteiricos dos paises vizinhos, habituado a comunicar quotidianamente em três línguas oficiais, os idiomas e culturas dos emigrantes adquirem também digna cidadania. Em certas ruas a língua mais ouvida é jà o português. As ruas transpiram de alegria latina, as pastelarias despacham as encomendas de pão-de-ló, as famílias reúnem-se com familiares vindos de Portugal, as crianças passam pelas portas anunciando a ressurreição de Cristo a desejar Feliz Páscoa…em luxemburguês. Parece haver tudo para uma Páscoa vivida intensamente… mas para muitos portugueses ela permanece ainda incompleta. Os símbolos são idênticos, mas a forma de os viver e sentir na alma distingue-se na tradiçao… A emigração torna-se assim num rico laboratório da linguagem, da comunicação, da arte e da transcendencia dos símbolos no relacionamento entre pessoas e povos. De facto, para muitos emigrantes faltou o “compasso”, a “visita pascal”, os foguetes, o “folar”…. Mas, a maior falta foi a cruz florida da Páscoa! Aquela cruz peregrina “em flor” que na Pascoa alegra os umbrais das casas de muitas aldeias e vilas do Portugal rural. Pascoa e desejo de tudo a florescer, apesar das consequencias da crise e do desemprego que se fazem sentir na comunidade portuguesa. Sendo o tríduo pascal a liturgia mais simbólica e narrativa de todo o ano litúrgico é também aquela que mais congrega e dói a alma aos cristãos emigrantes pela evocação dos sentimentos, dos afectos, das lembranças, das tradições, dos sabores, dos rituais…da saudade de uma vida invadida pela alegria de viver em comunidade e pela esperanca a transformar todos os exodos em “passagem” para a terra prometida! No entanto, a Pascoa prolonga-se na vida. A comunidade mobiliza-se já para outro evento de grandes proporcoes. Fala-se do maior evento religioso do pais em termos de participação de emigrantes e luxemburgueses a congregar na fe, na romaria e na mesma pertenca cultural todos os portugueses, na diversificada pertenca linguistica as diferentes comunidades lusofonas e na unica pertenca baptismal cristaos emigrantes e luxemburgueses. As comunidades portuguesa, caboverdeana e brasileira juntamente com a igreja local e as varias expressões do mundo associativo avançam com os últimos preparativos para a grande Peregrinação internacional ao santuario de N. Sra. de Fatima em Wiltz, que acontece no feriado da Ascencao (este ano celebra-se a 21 de Maio), desde ha quase quarenta anos. Em algumas comunidades catolicas portuguesas cresce de ano para ano a peregrinacao a pe tao cara a religiosidade popular. Este ano foi convidado a presidir a Peregrinacao – uma das maiores concentracoes portuguesas no centro da Europa – o bispo da Guarda, D. Manuel da Rocha Felicio, pastor de uma região com muitos emigrantes no Grão-ducado do Luxemburgo, na Europa e mundo. Rui Pedro

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