Paquistão: Igrejas e casas de cristãos sofrem ataques da comunidade muçulmana

Violência no Punjab é incitada por extremistas islâmicos

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 17 ago 2023 (Ecclesia) – Igrejas e casas de famílias cristãs no leste do Paquistão foram atingidas, nas últimas horas, por uma onda de ataques da comunidade muçulmana, incentivada por extremistas locais, após uma alegada profanação do Corão.

“As pessoas não estão seguras. É preciso uma investigação transparente sobre esta violência para restaurar o primado da lei e da justiça”, apelou o presidente da Conferência Episcopal Paquistanesa, D. Joseph Arsad, citado pelo portal de notícias do Vaticano.

O arcebispo de Islamabad pediu medidas imediatas contra quem promoveu os ataques.

“Estes incidentes abrem caminho para a insegurança das minorias que vivem no Paquistão”, alertou.

Centenas de pessoas viram-se forçadas a fugir no distrito de Faisalabad, província do Punjab, na sequência dos atos violentos, que levaram o Governo paquistanês a destacar mais forças policiais para a zona e a enviar o exército.

O episódio de suposta blasfémia contra o profeta Maomé e de profanação de páginas do Corão, atribuído a um cristão, Raja Masih, gerou uma série de ataques a igrejas e residências por parte de uma multidão instigada por extremistas.

No último sábado, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, presidiu em Angola à ordenação episcopal do novo representante diplomático da Santa Sé no Paquistão, D. Germano Penemote, sublinhando que no país asiático “nem sempre é fácil garantir o pleno respeito pelos direitos das minorias religiosas”, antes de condenar a “legitimação da violência” em nome da fé.

Segundo o portal ‘Vatican News’, desde quarta-feira foram incendiadas três igrejas presbiterianas, uma católica, uma da Assembleia do Evangelho Pleno e uma do Exército de Salvação; mais de 100 pessoas foram presas, na sequência dos ataques.

O padre Khalid Rashid Asi, diretor da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Faisalabad, pediu a intervenção imediata da polícia e a salvaguarda das residências e igrejas cristãs para evitar maiores danos.

“O incidente de Jaranwala mostra a extrema necessidade de lidar com a escalada das tensões. Estou com o coração partido: nos últimos dias, expressamos as nossas preocupações e pedimos ao governo que protegesse as minorias religiosas. Passou apenas um dia desde o Dia da Independência e estamos a testemunhar um incidente tão brutal”, disse à ‘AsiaNews’, agência de notícias especializada na vida da Igreja Católica no continente asiático.

Os cristãos representam cerca de 2% da população paquistanesa.

A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) indica no seu mais recente relatório sobre a liberdade religiosa no mundo que o artigo 260.º (n.º 3) da Constituição do Paquistão faz uma distinção entre muçulmanos e não muçulmanos, “o que alimenta o preconceito religioso e alimenta atitudes discriminatórias”.

As chamadas “leis da blasfémia”, acrescentadas pelo general Zia-ul-Haq entre 1982 e 1986, “restringem severamente a liberdade religiosa”.

“A violação do Alcorão e o insulto ao profeta Maomé acarretam penas máximas de prisão perpétua e de morte, respetivamente”, adverte a AIS.

A fundação pontifícia sublinha que o conceito de “blasfémia” é “bastante amplo” e chega a abranger “a irreverência para com pessoas, objetos de culto, costumes e crenças”.

OC

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