Padres casados à espera de mudanças

O símbolo da Associação Fraternitas/Movimento apela ao que pretendem ser enquanto contributo para a Igreja: “dar as mãos”, como afirma o Presidente da Associação, Vasco Fernandes. Nascida há 10 anos, desde 2000 que a associação conta com a aprovação da Conferência Episcopal Portuguesa. “A Igreja sempre nos deu todo o seu apoio” refere à Agência ECCLESIA. Vasco Fernandes é um homem entre os 150 mil no mundo, número adiantado pelo próprio, que pediram a dispensa do ministério sacerdotal. Exerceu o sacerdócio durante 22 anos como padre jesuíta. Há 31 anos professou outros votos: os do matrimónio. Enquanto Associação, os membros da Fraternitas promovem o encontro dos cerca de 106 inscritos em Portugal, “mas cada um tem de procurar a sua inserção na Igreja, porque nunca nos deram indicações do que esperavam de nós”, dá conta Vasco Fernandes, acrescentando que não são uma reunião de amigos, “vamos além da troca de experiências”. Vivem antes na expectativa do que a Igreja lhes pede e do que querem dar. “Porque apenas estamos numa situação diferente” dos que continuam com o ministério sacerdotal acrescentando que “nós também somos Igreja”. A Associação Fraternitas/Movimento promove a ajuda espiritual, o estudo de formas de colaboração e aproveitamento das capacidades e potencialidades dos seus membros, nomeadamente nas áreas da acção social e da educação religiosa e cívica, bem como em actividades pastorais. Para isso realizam encontros, cursos, palestras e outras actividades culturais e de formação teológica, com a ajuda e presença de Bispos. A preparação quer de estudo quer de prática pastoral que os membros têm constitui um capital desaproveitado. “Muitos de nós continuam a participar em paróquias e movimentos de Igreja” mas sem quererem impor nada, “há muitas coisas que estão por fazer” apontando a falta de sacerdotes em paróquias, na celebração de eucaristia e “na própria pastoral da Igreja”, lamenta o presidente da Associação. No contexto da convocação dos chefes dos Dicastérios da Cúria Romana pelo Papa Bento XVI, Vasco Fernandes considera que qualquer atitude da Igreja que promova a abertura e o diálogo é positiva. “Este é um passo para um futuro próximo onde numa reunião sinodal esta questão possa ser reflectida”, pois esta é “uma questão com muitas vertentes”. Não considera esta uma questão problemática, mas antes “uma realidade”. O facto de a Igreja assumir isto como realidade “é muito positivo”. O Presidente da Fraternitas lembra que o celibato obrigatório foi instituído no séc. XII, “não constituindo um problema teológico ou bíblico”, sublinhando que mais de metade da história da Igreja foi realizada sem essa disciplina. “Há portanto muitas questões que precisam de ser reflectidas, ponderadas e até rezadas”, sublinha Vasco Fernandes, “sem precipitação e alarmismos”. Acrescenta que o celibato é uma disposição disciplinar da Igreja, assegurando que a razão constantemente apontada da “disponibilidade não é verdadeira” e questiona que os padres que assumem paróquias, são professores e assistentes também têm uma disponibilidade limitada. “Porque não ter disponibilidade também para a família, desde que o casal assuma este serviço?”, questiona, deixando claro tratar-se de um serviço assumido como casal. E afirma que “a disponibilidade vem do interior”, sendo igual para todos.

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