Os novos protagonistas da Missão na Igreja

Quase cem voluntários católicos passam um ou dois anos em missão nas Igrejas lusófonas: jovens, adultos e mesmo famílias inteiras No dia 24 de Outubro, a Igreja Católica comemora o 28º Dia Mundial das Missões. Os números do voluntariado Português mostram que, cada vez mais, há novos protagonistas da Missão. São 96 os voluntários católicos que vão investir um ou dois anos da sua vida em projectos de solidariedade nas Igrejas Lusófonas de três continentes. O voluntariado missionário católico dá assim mostras de um grande fôlego, com 11 movimentos de diversas regiões do país a levarem gente até Moçambique, com 42 voluntários, Angola com 24 voluntários, Guiné-Bissau com 11, Timor com oito, São Tomé e Príncipe com 6, Brasil com 3 e Tanzânia com 2. Os novos missionários são na sua maioria recém-licenciados, que antes de entrar no mundo de trabalho querem colocar o seu saber e vontade ao serviço do outro: Ricardo Celso, psicólogo de formação, acompanha as crianças num internato perto de Maputo. Teresa Silvestre, arquitecta de profissão transmite os seus conhecimentos dando formação em desenho técnico e acompanha ainda a obra de uma nova escola nos arredores dessa mesma cidade. A opção missionária, porém, toca também profissionais já efectivos em empresas e em escolas. Lucinda Antunes, gestora e chefe de vendas de uma das maiores empresas do mercado português, despediu-se e foi 8 meses para Nampula, Moçambique, criar um Centro Educativo para crianças e um Centro de Informática. A verdade é que nem só jovens solteiros partem em missão, também existem casais que juntos vivem a fé noutro continente. Ricardo e Elisabete, acabados de casar, partiram para Moçambique em 2000: por lá tiveram a sua primeira filha e dedicam-se à formação superior de professores na Missão de Mapinhane, província de Inhambane. Teresa Silva e Paulo Rocha partiram por 3 anos para a Tanzânia, ela com uma licença sem vencimento e ele deixando o seu emprego. No terreno, dedicam-se a uma casa que acolhe crianças da rua em Mgongo. Uma família em Missão A família Gomes Lopes é um outro exemplo das novas faces que a Missão adquire hoje em Portugal. José Maria e Rita, ele economista e ela educadora de infância, deixarão os seus empregos com licenças sem vencimento e partem para Moçambique no dia 3 de Dezembro com os seus dois filhos, de 3 e 2 anos, durante um ano. As experiências anteriores de voluntariado contribuíram para criar o “bichinho” que nunca os abandonou e agora os leva a voltar a África. A Rita passou 2 meses em Angola, aquando do seu tempo de Universidade, inserida num projecto do “GAS’África – Grupo de acção social em África e Portugal”, e o José Maria conhecia de perto a acção social dos Maristas em Moçambique. “Durante muito tempo pensámos que um projecto desses poderia fazer parte da nossa vida, mas entretanto casámos, tivemos filhos e as coisas complicaram-se”, relata Rita em conversa com a Agência ECCLESIA. Foi uma pessoa amiga que lhes deu a conhecer os Leigos para o Desenvolvimento, uma Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), sem fins lucrativos, que promove projectos de desenvolvimento em países de expressão portuguesa, nas áreas da educação, saúde, promoção social e pastoral. Após alguma reflexão, o casal decidiu que “seria possível partir”. O plano começou pelo pedido de licenças sem vencimento e por assegurar que este projecto de voluntariado não fosse “uma loucura”. As responsabilidades como pais de família, as contas por pagar e a manutenção de saídas profissionais aquando do regresso ao nosso país foram situações devidamente ponderadas. “A nossa condição é que pelo menos um de nós tivesse licença para ir. Afortunadamente, as nossas entidades patronais facilitaram a situação”, confessa a Rita. O desafio que se segue é uma Missão com os Jesuítas, em Fonte Boa, próximo da fronteira com o Malawi. Antes de partir, foram vários os contactos com outros voluntários que passaram pelo mesmo local, inclusivamente uma família com 4 filhos. “A nossa maior preocupação era na área da saúde, sobretudo por causa dos nossos filhos, e isso foi tido em consideração”, refere a Rita. Comprometido na actividade pastoral da paróquia de Carcavelos, este casal quis dedicar-se 24 horas por dia aos outros, como resposta nascida da sua fé. Reconhecendo que há muito para fazer em Portugal, o José Maria e a Rita consideraram que só num projecto bem definido, como aquele em que vão embarcar, poderia oferecer completa liberdade. Os novos protagonistas da Missão estão convencidos de que cada vez mais os leigos devem assumir um papel activo dentro da Igreja Católica. “O que custa é uma pessoa desacomodar-se do seu conforto, é preciso dar prioridade de uma forma mais radical ao que é verdadeiramente importante”, conclui a Rita. Missão no feminino Os dados oferecidos pela Fundação Evangelização e Culturas (FEC) revelam que a Missão é feita, sobretudo, no feminino– 73 mulheres contra 23 homens. As áreas de trabalho são quase sempre as mesmas: a saúde, a educação e a evangelização, que é a parte principal. As motivações, essas, estão na vontade de ajudar o outro e na fé de cada um. Raros são os casos de Voluntários que partem sem a ajuda de uma instituição. Existe uma lista de entidades que preparam e enviam estes Voluntários, desde ONG’s até associações ligadas a Institutos Religiosos Missionários. A FEC, ao funcionar como Plataforma do Voluntariado Missionário em Portugal, apoia todas estas iniciativas, oferecendo em conjunto com os Institutos Missionários, um programa de formação ao longo do ano, para além da assistência na realização de seguros, viagens e vistos para tal efeito. Fundação Evangelização e Culturas A FEC é uma ONGD constituída pela Igreja Católica Portuguesa com a missão de fomentar, potenciar e coordenar as vontades e os meios da Igreja Portuguesa no seu relacionamento e cooperação com os países lusófonos. No âmbito do seu trabalho de cooperação com esses países, a FEC mantém no activo dois departamentos: Cooperação e Plataformas e Comunicação. O Departamento de Cooperação ocupa-se, sobretudo, do Projecto de Apoio à Educação Básica em Angola (PAEBA) e do Projecto de Apoio à Educação no Interior da Guiné-Bissau (PAEIGB). Apostam na Formação de Professores e de outros agentes educativos nestes países, nomeadamente na formação em Língua Portuguesa, Pedagogia e dinamização de Projectos Socio-Educativos, como sejam Bibliotecas. O Departamento de Plataformas e Comunicação da FEC gere o site www.fecongd.net, produz o programa radiofónico Igreja Lusófona, elabora o Boletim Igrejas Lusófonas e organiza as suas campanhas e eventos, para além de desenvolver outras actividades enquanto Plataforma de ligação, designadamente na relação com as Diocese Lusófonas, com as entidades de voluntariado missionário, as congregações religiosas, as paróquias e as rádios católicas lusófonas.

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