Os meios de comunicação social na família: um risco e uma riqueza

Apresentação da Mensagem de João Paulo II O mundo torna-se cada vez mais pequeno. Com as novas técnicas existentes as distâncias diminuíram e em poucos segundos temos a possibilidade de saber o que se passa em qualquer parte do mundo. Se este facto é positivo no sentido de que torna mais fácil perceber que partilhamos todos a mesma humanidade, pode tornar-se obsessivo e provocar ansiedade. Altera também a nossa noção de tempo; estão a “acontecer coisas” vinte e quatro horas por dia e tudo parece correr a um ritmo alucinante. O Papa, no ponto 5 da sua mensagem, diz-nos que “Os pais precisam também de regular o uso dos meios de comunicação… e, periodicamente excluir todos eles, em vantagem de outras actividades em família.” Fazer férias dos jornais, da televisão, da Internet, da rádio – conversar, reflectir, conviver, conhecer melhor aqueles que estão ao nosso lado e com quem partilhamos a vida – a nossa família. Este tema é dedicado à interacção entre a família e a comunicação social. Lemos no ponto 1, que “O crescimento extraordinário dos meios de comunicação e a sua aumentada disponibilidade trouxeram oportunidades excepcionais para o enriquecimento da vida … das famílias.” Mas também lemos que é necessária “uma reflexão sóbria sobre o uso que as famílias fazem dos meios de comunicação.” Os meios de comunicação social podem ser usados para o bem e para o mal; estimular a interacção entre os vários membros da família; alertar para coisas novas; despertar curiosidades e aprofundar conhecimentos, actividades que podem ser partilhadas entre gerações, aumentando a união entre os membros da família. Por outro lado os media poderão fomentar o isolamento. Se pais e filhos se fecham sobre o seu meio preferido; um absorto no jornal, outro na televisão e outro na Internet, deixa de haver partilha e os caminhos separam-se. Por vezes pode ser uma tentação para os pais pôr uma televisão no quarto dos filhos – os espaços são pequenos, as crianças aborrecem-se e assim estão sossegadas. Refeições em frente da televisão, frequentemente a única altura em que os membros da família se juntam, levam a que não haja partilha em relação aos acontecimentos do dia – será que é possível vir a conhecer melhor a personagem da telenovela do que as pessoas com quem partilhamos a vida? Já repararam que se a televisão está ligada é impossível ignorá-la e consequentemente deixamos de dar toda a nossa atenção ao “outro”? Ainda no ponto 1, o Papa diz-nos que “toda a comunicação tem uma dimensão moral” e, mais à frente, uma frase chave “As pessoas crescem ou diminuem de estatura moral, de acordo com as palavras que elas pronunciam e com as mensagens que preferem ouvir.” Somos constantemente confrontados com a opção de nos enchermos de futilidades e de ideias superficiais ou de usar “a sabedoria e o discernimento” em relação àquilo que lemos, vimos e ouvimos. Mas como é que podemos como pais e educadores fazer o que o Papa nos pede e “formar” os nossos filhos no sábio uso dos media? No ponto 5 João Paulo II cita uma passagem da encíclica Familiaris consortio, 76, que diz que os pais devem formar os filhos no “uso moderado, crítico, atento e prudente dos meios de comunicação social.” Em tempos dei aulas sobre a protecção da saúde num colégio internacional. Lembro-me de que um dos exercícios que fazia com os alunos envolvia analisar um anúncio de champô. O anúncio afirmava que o champô alimentava o cabelo, sendo absorvido através do couro cabeludo. Um simples ensinamento de biologia ajudava a desenvolver a capacidade crítica dos alunos. Proibir não ajuda a crescer, mas acompanhar é importante. Ensiná-los a detectar os eufemismos, a manipulação dos factos, o “politicamente correcto”, as opiniões tendenciosas ou demasiadamente ideológicas, é essencial para o bom uso dos meios de comunicação social. Isto ensina-se comentando com os filhos o que se vê e lê e através da análise, do debate, do desenvolvimento das capacidades de crítica e de decisão, fundamentadas num sólido quadro de valores reflectidos e assumidos porque foram compreendidos. O Papa João Paulo II preocupa-se com o facto de que “estes meios de comunicação possuem a capacidade de causar prejuízos graves às famílias, apresentando uma visão inadequada e mesmo deformada da vida, da família, da religião e da moral.” (Ponto 2). De facto encontramos comuni-cadores de uma qualidade extraordinária que nos enriquecem com a seriedade com que relatam, reflectem e analisam aquilo que se passa na nossa sociedade e no mundo, procurando a verdade, mas infelizmente também encontramos aqueles que consciente ou inconscientemente, por ignorância, arrogância ou preguiça intelectual (indesculpáveis num comunicador), por preconceito ou por razões ideológicas ou de preocupação com o “politicamente correcto”, distorcem a verdade. Alguns comunicadores, ao trabalhar os temas mencionados pelo Papa: o matrimónio, a sexualidade, a fidelidade, o divórcio, etc., mostram um desconhecimento total dos valores subjacentes e da sua importância para o bem-estar da sociedade. Mostram também uma incapacidade de colocar os temas num contexto histórico e, muitas vezes, um conhecimento superficial e distorcido daquilo que a Igreja propõe. Ao longo do tempo a família tem sofrido muitas mudanças; a família ideal nunca existiu e só há poucas décadas foi vista como um espaço privilegiado de aprendizagem do amor, da vida em relação e da partilha, um avanço em relação à visão do matrimónio como um “contrato” social e dos filhos como “mão de obra”. Em Portugal, comparado com muitos países europeus, ainda se dá valor à vida de família. As distâncias nunca são muito grandes, é mais fácil manter os laços. Noto dois extremos na nossa sociedade em relação à família. Por um lado um saudosismo da família dita “tradicional” que nunca existiu, e por outro lado a desvalorização da construção cuidadosa de relações que só uma família estável pode fomentar. João Paulo II lembra que os comunicadores profissionais devem “exercer a sabedoria, o bom juízo e a justiça”, “considerando o seu grande poder de formar ideias e influenciar comportamentos.” (ponto 6) É essencial que os comuni-cadores mantenham bom senso e equilíbrio quando tratam temas relacionados com a família. Os comunicadores profissionais devem ter a capacidade de ler os “sinais do tempo” e interpretá-los para o público em geral, passando uma mensagem realista, mas sempre de esperança. Louvado sejas, meu Senhor, pelos comunicadores, graças aos quais iluminas as mentes e dás alegria e força ao nosso coração, quando eles servem a verdade com modéstia. (“A Orla do Manto”, Carlo Maria Martini) Mary Anne d’Avillez

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