Os custos da igreja

João César das Neves desvaloriza «tradicional polémica» à volta da questão dos atrasos e derrapagens, sublinhando necessidade da nova obra A nova igreja do Santuário de Fátima anda rodeada de polémica. No fundo é algo perfeitamente natural. Esquisito seria se não levantasse discussão. Pouca gente duvida da sua necessidade. Só quem nunca visitou o Santuário fora das grandes peregrinações pode ignorar essa urgência. A Páscoa ou o Natal em Fátima, como tantas outras celebrações, há muito que ultrapassam a capacidade da Basílica, sem chegar a justificar o uso do recinto. Era indispensável encontrar um templo condigno para as multidões intermédias, que na Cova de Iria são não só muito grandes mas muito frequentes. O consenso à volta da igreja da Santíssima Trindade, porém, fica-se pela sua utilidade. A localização, a planta e tantos pormenores foram, são e serão largamente contestados. Agora, chegado o momento da inauguração, vem juntar-se à discussão a inevitável derrapagem dos custos. É preciso dizer que a maior parte das análises exagera esse acréscimo. Comparando o custo total da obra, incluindo arranjos exteriores e túnel rodoviário, com a estimativa muito preliminar da factura do templo tem-se repetido que houve duplicação de 40 para 80 milhões de euros. Na verdade a adjudicação da obra foi feita por 50 milhões de euros e o custo da igreja deverá ficar entre os 60 e 70 milhões. Mesmo assim, derrapagem entre 20% e 40% bate muitas obras públicas. Mas as causas do problema estão bem identificadas, ao contrário de tantos casos referidos. Em primeiro lugar as fundações mostraram-se muito mais complexas que o previsto, exigindo custosos trabalhos inesperados. Por outro lado a complexidade da construção implicou atrasos que, ligados à necessidade imperiosa de cumprir a data de inauguração, foram significativa fonte de despesa. A terceira razão não foi acidental mas voluntária: a opção de elevada qualidade artística na decoração desta que será uma das salas de visita mais emblemáticas do nosso país. Várias obras de arte de alto valor, e portanto de alto custo, ornamentarão este templo pensado para 9000 pessoas. Se agora lamentamos as despesas, as gerações futuras admirarão a dignidade do resultado. Fátima tem importantes obrigações como um dos maiores santuários religiosos do mundo. Os portugueses, que se orgulham de o possuir, têm de estar à altura da responsabilidade que os católicos de todo o planeta lhe atribuem. Os peregrinos, que custearam integralmente todas as obras, já deram o seu contributo, sem pedirem ajuda ao resto do país. Este tem contribuído mais com a inevitável polémica. Que, no fundo, não tem razão de ser pois, se há verdadeiro culpado por esta derrapagem dos custos, ele é … a Senhora que escolheu esta terra dos atrasos repetidos e os habituais custos inesperados. A razão só Ela a sabe. A reitoria do Santuário soube levar à conclusão um templo que não destoa do conjunto e enriquece significativamente aquela que é uma das maiores jóias do nosso país. Nós, pelo nosso lado, que já soubemos criar a tradicional polémica à volta da questão, resta-nos louvar dignamente Aquela a quem tanto devemos. João César das Neves

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