D. António Marto: nova igreja aberta a todos

Bispo de Leiria-Fátima defende importância do novo espaço e fala da universalidade da mensagem ali transmitida D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, fala à Agência ECCLESIA da importância da nova Igreja para o Santuário e de tudo quanto mudou com a celebração dos 90 anos das Aparições Agência Ecclesia (AE) – Na conclusão da celebração dos 90 anos das Aparições, há uma viragem na pastoral do Santuário para um conjunto de elementos que vimos reflectidos, nos congressos, nas temáticas voltadas para a Santíssima Trindade, pela arte que o Santuário vai colocar na nova Igreja, há um recentrar da mensagem que o Santuário quer fazer passar? D. António Marto (AM) – Se há uma viragem, não o sei dizer porque estou aqui há um ano e não tenho termo de comparação. Que há algo de novo, nota-se. Todo o aniversário das aparições é sempre uma ocasião para revisitar a mensagem e aprofundá-la sobretudo percebendo do alcance ao longo dos tempos. Foi neste sentido que as diferentes comemorações foram pensadas, com três congressos sobre a mensagem de Fátima e devo dizer, que todos eles são de alto nível teológico pastoral. As exposições artísticas também e a nova igreja, como “a cereja em cima do bolo”, talvez a obra mais simbólica e visível. A nova igreja surgiu em virtude de corresponder a uma necessidade de oferecer maior abrigo e conforto aos peregrinos quer no Inverno quer também no calor, sobretudo para as assembleias médias, e por outro lado, ela dá corpo simbolicamente a uma dimensão da mensagem, porque a mensagem é um convite a trazer para o centro da vida da Igreja e da humanidade, a adoração de Deus. Neste sentido, a Igreja completa esta dimensão da mensagem. AE – Não foi isso que aconteceu em Fátima durante muitos anos? AM – Não se pode fazer tudo de uma vez. Mesmo a própria mensagem, toda a sua riqueza, e a ressonância que vai tendo foi sendo percebida ao longo dos tempos através de alguns acontecimentos e que também a iluminaram. A mensagem é uma profecia em devir, a realizar-se no tempo. E o tempo ajudou a ver a mensagem e a sua riqueza. Não é de admirar que não se tenha feito tudo de uma vez, era impossível. AE – A igreja tem um conjunto de obras de arte voltadas para a Santíssima Trindade. São obras novas que o Santuário não colocava noutros espaços de culto. Com que intenção isso acontece aqui e que potencialidade advêm daí? AM – As obras de arte que estão presentes na nova igreja, como no recinto, procuram transmitir a universalidade da arte, dentro do religioso e do sagrado, de que Fátima também é um símbolo, porque é universal. Assim, procurou conciliar o tradicional e clássico com o moderno, dentro da universalidade da arte, convidando vários artistas de renome, de vários países. A arte dá à igreja um ambiente de recolhimento, de encontro, de comunhão e contemplação. Os fiéis, quando entrarem vão sentir os efeitos da luz, que dá uma sensação de luz e paz; os efeitos do recolhimento e o convite à contemplação. Tudo isto é efeito das obras de arte. AE- Os peregrinos vão continuar a rumar para a Capelinha das Aparições ou irão voltar-se para este conjunto de obras de arte e para o espaço que o novo templo tem? AM – O Santuário agora fica com três pólos: a Capelinha a recordar as Aparições, no seu lugar inicial, a memória original porque os homens precisam sempre de um lugar como memória para não esquecer as coisas. A Basílica que ficará mar-cada pelos túmulos dos pastorinhos, talvez até mais dedicada a isso. E a nova igreja. São três grandes pólos que farão parte do trajecto de peregrinação dos peregrinos quando chegarem ao Santuário. AE – Terão todos a mesma importância para a religiosidade de quem vem a Fátima? AM – Naturalmente que a primeira coisa que pretendem ver quando chegam é a Capelinha das Aparições, com a imagem de Nossa Senhora por tudo o que ela evoca. A sua riqueza e memória histórica emotiva, mas sem desprezar tudo o resto. Há uma complementariedade muito grande. AE – A nova igreja, para além de ser um espaço para o culto, que outras poten-cialidades oferece à pastoral que o Santuário dinamiza? AM – É um grande espaço para o culto celebrativo. É um grande espaço para a celebração da reconciliação. Também para encontros de grupos. Há ainda um espaço de convívio de Santo Agostinho, que acho muito interessante pois proporciona o encontro e a conversa serena. Tem uma dimensão cultual, cultural e evangelizadora. AE – Esses espaços estarão permanentemente abertos? AM – Estão sempre abertos durante o dia. Naturalmente é necessária mais gente para tomar conta e velar pelos espaços mas não vai haver dificuldade. AE – A quem acusa ou faz comentários sobre os custos que esta construção teve, se calhar erradamente se fala no dobro dos custos, gastou-se demais? Era preciso gastar isto? AM- Eu acompanhei apenas o último ano. Não posso fazer um juízo global, mas é uma obra de futuro e hoje, quando se constrói, deve ter-se em conta o futuro, a qualidade de garantia e depois contar com os imprevistos. Houve dois grandes imprevistos: um foi a escavação das fundações. Apesar de ter sido feita uma prospecção saiu completamente diferente porque foi preciso escavar e deitar uma grande quantidade de betão. E depois foi a questão das duas grandes vias de suporte de cimento branco que fez elevar os custos. As obras de arte também têm de ser de qualidade e a arte hoje está cara. Por tudo isto se justifica o aumento. Por outro lado, este custo é relativizado se compararmos com outras obras monumentais que existem em Portugal, caso do Centro Cultural de Belém ou a Casa da Música do Porto. Nesse aspecto fica bastante aquém. AE – A cerimónia de inauguração será no dia 12. Estará aqui a Igreja católica de Portugal toda. Será um momento forte para a Igreja mas também para a sociedade portuguesa? AM – Creio que será um momento forte para a Igreja naturalmente. Todo o episcopado estará presente. Sendo sexta feira à tarde não sei se estará ainda uma enchente plena de fiéis mas de qualquer modo estará uma representação muito significativa. Esperamos ter os ecrãs gigantes para transmitir para os que não puderem entrar. É um momento significativo pela própria ligação ao Papa e à Igreja universal com a presença do Cardeal secretário de Estado e mesmo do ponto de vista cultural é uma obra única de arquitectura religiosa contemporânea de referência e projecção mundial. AE – Será inserida no roteiro de arquitectura de Portugal? AM – Não tenho informação sobre isso mas não duvido. A igreja do Marco de Canaveses já está inserida em todos os roteiros. Esta terá de ficar porque tem de facto uma grande projecção. AE – A nova igreja trará outros públicos ao Santuário. As obras de arte, a arquitectura, tudo foi intencionalmente assim construído para que novos públicos viessem? AM – Não foi intencionalmente feita para atrair peregrinos. Os peregrinos não vêm cá por causa disso, mas é muito natural de suscite a curiosidade de gente e que durante algum tempo se registe um maior número de peregrinos. AE – E homens da cultura, que não propriamente homens de fé? AM – Naturalmente. Isso acontece já agora na igreja do Marco de Canaveses. Quantas visitas vi e que se realizaram apenas do ponto de vista cultural e científico. Alunos de arquitectura que foram fazer a visita ao templo pela novidade. Esta é outra novidade original e portanto será também objecto de estudo, investigação e de curiosidade. Foto: Santuário de Fátima

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