Odemira: Cáritas Diocesana de Beja alerta para problemas de habitação, saúde e emprego dos migrantes

Concelho alentejano tem cerca sanitária para as freguesias de São Teotónio e de Almograve, por causa da Covid-19

Foto: Lusa

Beja, 03 mai 2021 (Ecclesia) – O presidente da Caritas Diocesana de Beja alertou hoje para os problemas que afetam os trabalhadores imigrantes na região, comentando a cerca sanitária que o Governo decretou para as freguesias de São Teotónio e de Almograve, no concelho de Odemira, por causa da Covid-19.

“Há aqui um conjunto de questões que valeria a pena todos contribuirmos para arranjar soluções, mais do que fazer alaridos se há cerca sanitária… Tentar chamar a atenção para os culpados é facílimo, a dificuldade está em como minorar os problemas da habitação, a maioria não tem acesso a médico de família”, diz Isaurindo Oliveira  à Agência ECCLESIA.

O presidente do organismo católico considera que os migrantes “deviam ser tratados em igualdade de circunstâncias”, destacando o seu contributo em Portugal, desafiando as instituições públicas a encontrar “soluções”.

A cerca sanitária resulta do elevado número de casos de contágio com o novo coronavírus, sobretudo em trabalhadores do setor agrícola, e começou na sexta-feira.

“Estou convencido que se houvesse testagem os problemas de Odemira estariam em Beja, Ferreira, em Cuba, em Alvito”, referiu Isaurindo Oliveira.

Para este responsável, a questão da vacinação dos migrantes não se colocou porque “estão numa faixa etária que não é prioritária, na casa dos 20, 30 anos”.

“Para nós o problema dos migrantes, seja em Odemira, em Beja, seja em Ferreira, seja onde for, é similar e estas condições podem ser mais graves numas zonas, menos noutras”, acrescentou.

O presidente da Caritas Diocesana de Beja explicou que os problemas com os migrantes, da Ásia e de África, começam com a sua chegada à região, porque a ligação entre a empresa agrícola e os trabalhadores muitas vezes “é feita através do intermediário” e, depois, surge uma segunda questão, que são as relações de contratos “muitas vezes precária, duvidosa, falsa”.

Neste âmbito, começam os primeiros contactos dos migrantes com a Cáritas diocesana porque “ficam sem vencimento ou é extremamente reduzido”.

Foto: Lusa

A Caritas Diocesana de Beja tem um Centro Local de Apoio à Integração dos Migrantes (CLAIM), financiado pelo Alto Comissariado para as Migrações, que faz um primeiro atendimento para ajudá-los a “resolver os problemas administrativos, entrevistas com o SEF, manifestações de interesse, questões de residência”.

Neste acolhimento são detetados outros problemas, “que não fazem parte da missão do CLAIM´, mas da Cáritas”, nomeadamente na saúde, habitação, com as crianças, e tentam resolver através das valências da instituição ou outras entidades públicas.

O entrevistado destaca que os “problemas de habitação” destas pessoas, que “estão desenraizadas”, vai dar origem a “alguma máfia” no aluguer de casas “ou lugares que têm um teto, com questões de insalubridade, onde cabem duas ou três pessoas mas, muitas vezes, estão 30, 40”.

Estes migrantes, destaca, são “pessoas essenciais” para a economia local, porque sem eles a maior parte das produções não seria possível.

Isaurindo Oliveira questiona a existência de “cidadãos de segunda classe”, mas que “pagam impostos”.

“Temos de pensar muitas vezes quando fazemos estas críticas com o que se passou com os portugueses na década de 60. Não ouço sindicato nenhum falar das condições de trabalho desta gente: Estas pessoas deviam ser tratadas em igualdade de circunstâncias às nossas”, desenvolveu.

As autoridades já identificaram no concelho de Odemira (Beja) um total de 22 situações de alojamento de trabalhadores agrícolas com deficiências, por falta de salubridade ou sobrelotação, revelou hoje o autarca local.

Em declarações aos jornalistas, no final de uma reunião de coordenação da ‘task force’ do concelho que acompanha a situação da Covid-19, o presidente da Câmara Municipal, José Alberto Guerreiro, indicou que foram “efetuadas, até ao momento, 22 vistorias, no total, a situações identificadas de menor salubridade”, incluindo “obviamente algumas habitações em sobrelotação”.

CB/OC

 

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Agência ECCLESIA

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