O sentido da vida

António Estanqueiro, Formado em Filosofia e Teologia

Agência Ecclesia/MC

A fragilidade da condição humana, que se manifesta no sofrimento e na morte, traz-nos perguntas fundamentais sobre o enigma da existência: Quem somos? O que nos espera depois da morte? Qual o sentido da vida?

Estas perguntas provocam respostas diferentes, consoante as pessoas e os contextos socioculturais em que vivem. A maioria das pessoas tem procurado resposta na religião, apesar do fenómeno crescente do ateísmo teórico e prático.

 

A experiência religiosa

Somos seres finitos com desejo de infinito. A consciência da nossa finitude e a busca do sentido último da vida estão na origem da experiência religiosa, que tem acompanhado o ser humano, desde sempre, em todas as culturas.

A religião é um sistema de crenças, valores e rituais que unem um grupo ou uma comunidade na sua relação com Deus. Isto não significa que os seguidores de uma determinada religião estejam de acordo com tudo o que ela propõe. Muitos crentes gostam da liberdade de criar a sua própria versão da religião, aproveitando seletivamente doutrinas e práticas religiosas. É isso que se verifica quando alguém se confessa “católico não praticante”.

Existem dezenas de religiões organizadas. O cristianismo, baseado na vida e nos ensinamentos de Jesus, é a religião com mais crentes, cerca de um terço da população mundial. Tal como o judaísmo e o islamismo, a religião cristã defende a existência de um só Deus, criador omnipotente e bom, sentido último da vida. Os cristãos (católicos, ortodoxos e protestantes), iluminados pela fé, acreditam que a morte é uma passagem e alimentam a esperança na vida eterna.

Cada religião é uma forma de expressar a dimensão mais profunda do ser humano, a dimensão espiritual. Mas a espiritualidade, fonte de uma vida com sentido, não é património exclusivo das religiões. Muitas pessoas vivem a sua espiritualidade sem compromisso com qualquer crença ou prática religiosa.

 

Deus existe?

Ao longo de séculos, vários pensadores (por exemplo, Marx, Nietzsche, Freud e Sartre) anunciaram a morte de Deus e o fim da religião. Atualmente, alguns ateus defendem que a ciência explica a origem do universo e da vida, dispensando a necessidade de um Deus criador. Outros consideram que a existência de um Deus omnipotente e bom é incompatível com o sofrimento dos inocentes. Se Deus existe, porque permite a maldade humana, as guerras e os genocídios? Porque não nos liberta das catástrofes da natureza (terramotos, furacões e pandemias)?

Afinal, Deus existe ou não? Ninguém sabe. Estamos perante um mistério incompreensível para a mente humana. Crentes, ateus e agnósticos têm de aceitar com humildade que não há provas racionais para afirmar ou negar a existência de Deus. Não há certezas. A fé autêntica, que vai além da razão, convive com a dúvida. Crer não é saber.

Independentemente do olhar sobre o mistério de Deus e da atitude face à religião, somos todos irmãos, partilhamos a fragilidade da condição humana e temos a necessidade espiritual de descobrir o sentido da nossa existência. Disse Viktor Frankl (1905-1997), psicoterapeuta austríaco de origem judaica, sobrevivente dos campos de concentração nazis: “A principal preocupação da pessoa não consiste em obter prazer ou evitar a dor, mas antes em ver um sentido na sua vida.” Precisamos de razões para viver. Cada um de nós, diferente e único, é responsável pelas suas escolhas e insubstituível na sua missão.

Crentes ou não, podemos encontrar um horizonte de sentido na experiência da compaixão e da solidariedade, amando e servindo os outros. A descoberta de um sentido para a vida liberta-nos do vazio existencial e ajuda-nos a suavizar o sofrimento. É uma chave para a felicidade.

António Estanqueiro
Formado em Filosofia e Teologia

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