Tradição ajuda a moldar e pintar o quotidiano
Évora, 29 jul 2020 (Ecclesia) – Os bonecos de Estremoz, no Alentejo, são Património Cultural Imaterial da Humanidade desde 2017, por decisão da UNESCO, e, desde então, a popularidade dos pequenos bonecos pintados não abrandou.
Na edição de hoje das conversas sobre ‘O Sagrado e as Gentes’, Hugo Guerreiro – responsável pela candidatura vitoriosa desta forma de arte popular – explica que o figurado de barro de Estremoz surge como resposta à procura do povo, que “queria em sua casa, as representações dos santos e das cenas bíblicas que via nas igrejas mas que não estavam ao seu alcance”.
“É uma resposta do povo à arte erudita”, considera o responsável pelo Museu Municipal de Estremoz.
A arte começou no século XVII e foram as mãos das mulheres de Estremoz que moldaram os primeiros bonecos.
Esta expressão artística foi trabalhada de forma continuada até aos dias de hoje e concentra alguns pormenores de execução que definem estas peças como genuínas.
“As peças são vestidas e moldadas a partir da bola, do rolo ou placa de barro”, refere Hugo Guerreiro.
As peças são “vestidas” e apresentam, na sua simplicidade “um aspeto algo grosseiro ou naïf muito popular e pintadas com cores garridas com as características do Alentejo”.
Hugo Guerreiro, que é também diácono permanente na Arquidiocese de Évora, destaca este imaginário popular como expressão também da sensibilidade religiosa das gentes.
A possibilidade de ter junto de si uma representação do santo de que eram devotos, facilitava a oração e o acender da pequena vela junto do oratório; representações de Nossa Senhora da Conceição, Santo António ou S. João, estão entre as mais populares.
O entrevistado lembra que mais tarde, com a disseminação da escola de Mafra e com Machado de Castro, é a representação do presépio que ganha popularidade neste imaginário de barro.






Hoje, os artesãos de Estremoz registam uma procura crescente em torno destas peças e, como refere Hugo Guerreiro, “aqueles que as tinham no fundo do baú por acharem popularuchas, ostentam-nas agora com orgulho.
Na localidade alentejana acaba de abrir portas o Museu Berardo Estremoz que é uma iniciativa conjunta da Coleção Berardo e da Câmara Municipal.
O equipamento museológico apresenta aquela que é considerada a maior e mais importante coleção privada de azulejos de Portugal.
HM/OC
Reportagem: Os bonecos de Estremoz, património da humanidade