O Regresso do Cinema Indiano

Nos anos 50 do Século XX um único filme indiano estreou em Portugal: “Prestígio Real”. Dada a situação política no que respeita à União Indiana veio disfarçado de paquistanês, tendo atingido seis meses de cartaz, no Odeon, um verdadeiro sucesso. As relações com a Índia não permitiam trocas comerciais, pelo que esta foi uma excepção. Nos anos 60 abriu-se um pouco a fronteira e foram já cinco os filmes importados da Índia com estreia em sala. Mas foi depois de Abril de 1974 que se deu o primeiro salto significativo em tal importação. A Índia é, em termos de quantidade, o maior produtor mundial, mas são poucos os seus cineastas de valor. Mira Nair, Mrinal Sen e Satyajit Ray, entre outros, são casos excepcionais numa multidão de cineastas convertidos aos processos de Bollywood, rendidos a um cinema popular que tem grande êxito na Índia e se caracteriza por uma metragem longa – sempre perto das três horas de projecção – muita música – aqui e ali caindo pétalas ou outros efeitos sobre quem canta – e muitas cores vivas, tudo utilizado como suporte de uma narrativa melodramática até às últimas consequências. Logicamente que este cinema rapidamente cansou os espectadores, o que levou, de uma forma de legalidade discutível, a criar-se uma rede de cinema indiano que projectava as suas obras não legendadas e não classificadas, para acesso exclusivo à comunidade capaz de compreender o filme na sua língua original. Com o encerramento do Cine 222, onde tais sessões se passavam, o cinema indiano teve a travessia do deserto. De surpresa, quando menos se esperaria, em 2007 inicia-se uma nova tentativa. Um só distribuidor; um só filme de tempo a tempos; uma só sala para a estreia. Agora tudo está certo e legal, com os filmes lançados no mercado com o cumprimento das regras estabelecidas. São já três as estreias nestas condições, mas o resultado comercial não parece ser de molde a que esta iniciativa venha a ter continuidade. Francisco Perestrello

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