O Papa e a questão hídrica

Assinala-se esta Segunda-feira o Dia Mundial da Água, uma iniciativa nascida em 1992, na Conferência sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, promovida pela ONU no Rio de Janeiro. Todos os anos morrem quase cinco milhões de pessoas, sobretudo crianças, por causa das doenças associadas ao consumo de água não potável ou a carências hídricas.

A questão tem merecido várias intervenções do actual Papa e dos responsáveis do Vaticano. Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, Bento XVI alertava para a “questão, hoje mundial, da água e ao sistema hidrológico global, cujo ciclo se reveste de primária importância para a vida na terra, mas está fortemente ameaçado na sua estabilidade pelas alterações climáticas”.

No texto de 2008, o Papa reconheceu que “actualmente a humanidade teme pelo futuro equilíbrio ecológico” e desejou que “as avaliações a este respeito se façam com prudência, no diálogo entre peritos e cientistas, sem acelerações ideológicas para conclusões apressadas”.

Em 2007, numa mensagem escrita por ocasião do Dia Mundial da Água, Bento XVI afirmava que “a água é um direito inalienável”, pedindo que todos possam ter acesso a ele, “em particular quem vive em condições de pobreza”.

“O direito à água, como todos os Direitos Humanos, baseia-se na dignidade humana e não sobre avaliações de tipo puramente quantitativas, que apenas consideram a água como um bem económico”, alertou.

Há dois anos, o Papa nomeou para a Academia Pontifícia das Ciências um dos cientistas mundiais mais respeitados em matéria de hidrologia e ciências ambientais, o venezuelano Ignacio Rodriguez-Iturbe. Professor na Universidade de Princeton (EUA), este especialista recebeu o Prémio Estocolmo da Água em 2002, uma espécie de “Nobel” neste campo.

A nomeação de Rodriguez-Iturbe vem confirmar a preocupação de Bento XVI que o tem levado a manifestar-se em favor da salvaguarda e da partilha dos recursos hídricos.

No início de 2008, no aguardado discurso ao corpo diplomático acreditado na Santa Sé, o Papa frisava que a paz implicava que fossem satisfeitas as “legítimas aspirações” das populações, incluindo o acesso à água. Um dia antes, durante a recitação do Angelus, Bento XVI criticava duramente algumas consequências da globalização, incluindo o seu impacto negativo sobre os recursos hídricos.

Em 2009, o Vaticano marcou presença no V Fórum Mundial sobre a Água, em Istambul, com uma nota intitulada “Água, um elemento essencial para a vida”. O documento foi preparado pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), retomando posições que foram anteriormente apresentadas em Quioto (2003) e na Cidade do México (2006).

O CPJP defende o acesso universal a “uma água limpa e a um saneamento seguro”, concentrando a sua posição no reconhecimento do acesso à água como um direito humano – que não é reconhecimento a mais de 1,5 mil milhões de pessoas.

Dossier Água na AE

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