O novo Programa de EMRC

Proposta não pressupõe a fé dos seus destinatários, pelo que pretende apresentar, numa perspectiva mais objectiva, a mundivisão cristã Foi recentemente aprovado e publicado o novo Programa de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) para os ensinos básico e secundário. Os anteriores, ainda em vigor, já contam com quinze anos de idade, o que é uma idade veneranda para um Programa de ensino religioso escolar, atendendo à pressa com que as mudanças sócio-culturais ocorrem. Era, pois, necessário proceder a alterações mais ou menos profundas. A reorganização do ensino básico e a introdução do conceito de competência em torno do qual os curricula se organizam veio tornar mais urgente essa mudança. Havia que tornar compatível a linguagem do sistema educativo e da EMRC. Embora se possa pensar, à primeira vista, que se trata apenas de uma alteração da terminologia, o facto é que por detrás dessa mudança está patente uma nova percepção das finalidades do ensino e da aprendizagem. Uma segunda linha de força do Programa é o reforço de uma maior atenção à relação com as outras disciplinas, tanto no que se refere às temáticas abordadas pelos outros Programas como em relação à possibilidade de se estabelecer pontos de contacto para experiências de natureza interdisciplinar. Há ainda a considerar uma maior clarificação da distinção catequese/ensino religioso escolar. Na realidade, a diferença não subsiste principalmente nas temáticas que se abordam (embora este aspecto também tenha relevância), nem nos textos a que se recorre, mas sobretudo na forma como são abordados os temas e na forma como são interpretados os textos, as tradições, etc. Quis o novo Programa apontar para uma análise que não pressupõe a fé dos seus destinatários, pelo que pretende apresentar, numa perspectiva mais objectiva do que subjectiva, a mundivisão cristã, bem como outras visões do mundo com as quais o cristianismo pode e deve dialogar, não negando, por um lado, a sua matriz, mas também não apresentando sínteses simplistas das outras tradições e visões do mundo. Com isto, fica atenuado o carácter confessional da disciplina, sem, contudo, se esfumar numa visão dita neutral do mundo. Em linha com o que foi dito, o Programa investe no conhecimento de outras tradições religiosas e na relação entre essas tradições e a Igreja Católica, por forma a fomentar escolhas livres, mas igualmente atitudes de tolerância e respeito pelas diferenças. O poder da imagem na contemporaneidade é imenso. Todos o sabemos, mas nem todos estamos alerta para a possibilidade de a imagem nos poder manipular, construindo verdades que o são só na aparência. Assim, o Programa pretende educar os nossos jovens para uma compreensão das imagens que decifre as suas intenções e analise a sua pertinência ética. Intimamente ligada ao poder das imagens é a aposta do Programa na educação para a interpretação de produções artísticas de vários quadrantes e especialmente de produções de temática cristã. Reconhece-se a importância de os alunos perceberem a arte cristã, decifrarem os seus códigos e os signos de que se nutrem, para reconhecerem não só a beleza destas construções artísticas mas também a intencionalidade religiosa que está na sua origem. Um outro aspecto que carecia de um maior aprofundamento é o desenvolvimento de temáticas de natureza social. A Igreja Católica tem um conjunto de orientações nesta área (Doutrina Social da Igreja) que são elementos necessários à educação dos nossos alunos, talvez agora mais que nunca, num tempo em que as clivagens sociais aumentam e a pobreza teima em avançar. Os meios de comunicação social, reconhecidos por todos como um poder que influencia e, por vezes, determina o curso dos acontecimentos, tinham de ser objecto de estudo numa disciplina que educa para valores. Os alunos necessitam urgentemente de aprender a ler o sistema semiótico da comunicação social, com os seus signos e os seus códigos, nem sempre orientados para fins eticamente justificados. Também foram introduzidas alterações de ordem metodológica, permitindo uma maior flexibilidade na maneira de organizar os percursos por nível de ensino ou mesmo por unidade lectiva. Mantendo como pontos fulcrais as competências a desenvolver, o Programa aponta para percursos específicos, mas não impõe de forma absoluta esses percursos, cabendo aos professores, atendendo aos contextos em que estão inseridos, reorganizar o processo de ensino-aprendizagem em percursos significativos para os seus alunos. Foi introduzida outra alteração metodológica de alcance significativo: a experiência humana, a mensagem cristã e as orientações axiológicas são reinventadas de unidade para unidade lectiva, renunciando o Programa a um trajecto sempre igual que iniciaria na experiência humana e terminaria nas orientações éticas, passando pela mensagem cristã. Na realidade é muito difícil (em alguns casos impossível) fazer uma análise da experiência humana, sem que a grelha de leitura esteja já implicada eticamente, como se torna penoso interpretar um texto bíblico sem que dele decorram orientações éticas específicas. Os três elementos estão interligados, actuando cada um deles como pontos de referência à actividade docente, no âmbito da disciplina de EMRC. Jorge Paulo, Coordenador do Departamento de EMRC do SNEC

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