O lugar da EMRC no sistema educativo

Ao promover o diálogo com a cultura, o património da tradição cristã relaciona-se com os outros saberes O ponto de vista dos alunos define, de modo muito simples e eficiente, o lugar da disciplina de EMRC no conjunto das suas actividades escolares, pois frequentemente referem este espaço curricular como um tempo e um lugar em que se pode falar e falar de “coisas que fazem pensar”. Estas observações espelham uma tarefa desenvolvimental indispensável para a formação da pessoa: encontrar sentido para a sua existência. Aprendemos a atribuir um significado às nossas próprias características e à realidade que nos circunda conforme vamos sendo questionados e questionamos aquilo que observamos e estudamos. Procurar que a escola contribua para o desenvolvimento de personalidades capazes de encontrar um rumo autónomo, responsável e consciente para as suas vidas, supõe educar recorrendo a espaços de diálogo e, também, de modelagem e orientação das escolhas e dos comportamentos. A este nível, a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica encontra um lugar próprio e não acessório que, em diálogo interdisciplinar, demonstra o indispensável contributo que a reflexão sobre o religioso e o moral dá a uma educação plena, integral e qualificada dos mais jovens membros da nossa sociedade. Ao promover o diálogo com a cultura, o património da tradição e da experiência cristã relaciona-se com os outros saberes, favorecendo uma abordagem em profundidade dos desafios que a vida coloca e dos problemas com que a humanidade se vê envolvida, oferecendo o Evangelho como uma oportunidade de provocar o processo de assimilação e crítica da cultura. E, porque a mensagem cristã incide “sobre o modo como se concebe a origem do mundo e o sentido da história, o fundamento dos valores éticos, a função da religião na cultura, o destino da pessoa humana, a relação com a natureza” (1), contribui para cultivar as faculdades intelectuais, criativas, estéticas, sociais e morais dos alunos. Ao proporcionar instrumentos de interpretação da história e dos dados da geografia, uma perspectiva filosófica, um entendimento da ciência, um quadro de referência intrínseco à abordagem da cultura e da realidade, contribui para a capacidade que a escola tem de facilitar formas de entender a realidade e orientações para uma vida boa e justa, no contexto de uma sociedade multicultural e que se pretende democrática. A educação nunca é neutra e corresponde, sempre, a uma ideia de pessoa e de sociedade, e a concepção de educação que deriva da fé cristã não foge a esta regra. Como instância crítica da sociedade e das suas representações da realidade, apresenta uma visão própria da pessoa humana, que advém da sua filialidade divina e que a constitui como portadora de inegável dignidade, independentemente da sua condição de género, etária, social ou cultural. O universo do religioso tem, igualmente, grande poder humanizador, propondo valores profundos, que permitem unificar o ser humano e dar-lhe uma finalidade última, que é a felicidade. Neste sentido, desafia sistematicamente a escola e os seus saberes através de um conjunto de exigências morais orientadas para uma atitude libertadora da pessoa, promovendo activamente uma pedagogia que visa a educação integral e que não assimila a formação escolar a um qualquer modelo de desenvolvimento económico ou doutrinação ideológica. O estudo dos conteúdos religiosos da cultura também é imprescindível para podermos entendê-la e formar a seu respeito opiniões fundamentadas, pois o religioso faz parte da cultura e, de um modo especial, da cultura europeia. E se a escola deve esforçar-se por oferecer um universo de significação global, orientando os alunos na procura de respostas para as suas interrogações mais profundas, reordenando e clarificando aqueles “porquês” que tão bem conhecem, “a aula de Educação Moral e Religiosa Católica constitui uma oportunidade para encontrar diversos pontos de vista, para refazer ou aceitar, com critérios pessoalmente assumidos, as crenças e valores que a sociedade apresenta. Quando se apresenta o facto religioso como uma realidade integrada, potencia-se com sucesso uma série de possibilidades educativas no campo da experiência e das atitudes, favorecendo o desenvolvimento harmonioso da personalidade e a aprendizagem significativa, condições que os especialistas, unanimemente, referem como essenciais para a educação e a vida nas escolas” (2). Por fim, o conhecimento intelectual da fé e dos seus conteúdos constitui um corpo de matérias tão racionais e lógicas, no contexto do ensino escolar, como a história, a filosofia, a ciência ou a arte, pois não se esquivam nem prescindem da análise da razão e possuem estatuto epistemológico equivalente aos demais campos do saber. E se o cristianismo é uma revelação divina, também constitui uma revelação sobre a natureza humana. Sob esse ponto de vista, não é possível entendermos a emergência das nossas mais queridas instituições, como a democracia, a transparência da lei, os direitos do homem, sem compreendermos o papel que a herança judaico-cristã teve na sua génese e na forma como, ainda hoje, as interpretamos e vivemos. Cristina Sá Carvalho, Secretariado Nacional de Educação Cristã NOTAS: (1) – Directório Geral da Catequese, 73. (2) – Carvalho, C.S. – Conclusão, Fórum de EMRC, Lisboa, SNEC, 2005, p.251.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top